Eleições 2020

PCdoB aguarda diálogos bilaterais para definir alianças em Pernambuco, diz Luciana Santos

No Recife, a vice-governadora do Estado defende a "reedição" da Frente Popular com o objetivo de derrotar os candidatos alinhados com o bolsonarismo

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 23/08/2020 às 8:00 | Atualizado em 26/08/2020 às 14:30
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Luciana Santos - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

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Eleições 2020 - .

Eleita vice-governadora na chapa do governador Paulo Câmara (PSB), a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, disse ao Jornal do Commercio que ainda não chegou a tratar com os socialistas um possível apoio deles à principal candidatura do seu partido em Pernambuco: a do deputado estadual João Paulo, em Olinda. Luciana, contudo, defende a “reedição” da Frente Popular no Recife nas eleições deste ano, com o objetivo de derrotar os candidatos alinhados com o bolsonarismo que já lançaram seus nomes no pleito. O enfrentamento ao presidente da República, aliás, é um ponto que a vice-governadora faz questão de ressaltar como prioritário para o PCdoB em todo o País, fato que leva a comunista a dar praticamente como certo o lançamento de uma candidatura própria do partido em 2022, provavelmente a do governador do Maranhão, Flávio Dino.

JORNAL DO COMMERCIO - Em 2018, o PCdoB foi bastante afetado pela cláusula de barreira e, neste ano, o partido deve lançar candidatos em cerca de 15 capitais. A estratégia do partido em 2020 leva em conta essas exigências de desempenho da Justiça Eleitoral? Qual a tática do partido para as eleições municipais e o que tem sido considerado para o lançamento de candidaturas e costura de alianças?

LUCIANA SANTOS - Dois fatores (estão sendo considerados), a cláusula de barreira e, por força do fim das coligações proporcionais, o fato de que nós temos que formar chapas próprias não só nas capitais, mas em todas as cidades. Isso muda bastante a nossa conduta. A gente tem priorizado muitas vezes a disputa majoritária porque ela alavanca a chapa própria e o número da legenda. Por isso mesmo nós fizemos o Movimento 65, o Movimento dos Comuns, exatamente para ajudar a dar mais visibilidade ao partido, para tratá-lo enquanto movimento, enquanto perspectiva, para a gente falar do futuro. Portanto ser mais atrativo para um pensamento mais progressista, nacionalista, inclusivo, de defesa de direitos. A gente procurou dar uma forma melhor para o que nós somos no conteúdo. Com isso, nós montamos chapas próprias nas capitais e lançamos pré-candidaturas a prefeito em locais como Florianópolis e Porto Alegre, e em cidades de porte médio como Santana (AP), Olinda, Campina Grande (PB), sempre com essa perspectiva, de firmar mais a identidade do PCdoB dentro desse contexto de necessidade de afirmação. Tudo isso dentro de um projeto maior, que é derrotar as forças do bolsonarismo no Brasil todo.

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JC - Por isso o partido optou por, no Recife, apoiar a candidatura do deputado federal João Campos (PSB)?

LUCIANA - Na verdade nós ainda estamos construindo (essa ideia). Nós não temos candidatura própria no Recife e estamos construindo o nosso projeto junto à Frente Popular. Nós achamos que o caminho é a gente reeditar a Frente Popular para derrotar os candidatos mais conservadores e de direita.

JC - Em entrevista recente, o governador Flávio Dino (PCdoB) se queixou da falta de união da esquerda e disse até que os partidos podem perder em todas as capitais nas eleições deste ano por conta disso. Aqui no Recife, por exemplo, o PDT mostrou que está rachado. O PT deixou a Frente Popular. Como a senhora enxerga esse cenário?

LUCIANA - Eu penso que, desde que houve a vitória de Bolsonaro em 2018, há uma grande dispersão das nossas forças. Aliás, já houve na própria eleição. Naquela ocasião, nosso campo sequer conseguiu se unir, se compactar em torno da candidatura de (Fernando) Haddad (PT) no segundo turno. Desde lá, o grupo ficou bastante disperso. Isso foi se desenvolvendo durante todo esse período de um ano e oito meses. Tem sido assim, não há convergência na conduta tática de como se comportar diante dessa agenda de direita no Brasil, que é ultra liberal na economia, que é autoritária, que retira direitos, como foi na reforma da Previdência, como foi a luta para evitar os cortes na educação. Há uma agenda em curso e, no nosso campo, não há unidade sobre como fazer o enfrentamento a essa agenda. O PCdoB, por exemplo, tem a convicção de que para enfrentar essa natureza do governo federal, seria necessário a gente constituir frentes amplas com setores da economia que estão desgastados com a agenda, com instituições, com a sociedade civil organizada, com personalidades e até com os atores do centro da política que marcharam com Bolsonaro e hoje estão se distanciando dele e até já romperam. Nós somos a favor de que, em todo lugar que tiver deserções no conjunto de forças que apoiaram Bolsonaro, a gente deveria dialogar, buscar alianças para poder enfrentar o nosso adversário. Mas no nosso campo há muita dificuldade de se entender a necessidade dessas alianças amplas e há incompreensão de como marchar no rumo de impor mais derrotas a essa agenda, inclusive na própria eleição municipal. Isso justifica essa dispersão, associado à lei eleitoral que exige chapa própria, associado à cláusula de barreira, que na prática empurra os partidos a se dispersarem. Há uma confluência de alguns fatores que vão determinando isso. Mas entendo que, em algum momento, isso tende a evoluir para a gente depurar mais o processo. Há também a necessidade dos partidos testarem suas lideranças para acumular forças, isso fora os partidos políticos que já têm pré-candidatos à presidência da República para 2022, isso os leva a montarem suas estratégias de modo a formar seu campo político naquele determinado local, independentemente de que aquele caminho contribua ou não para a vitória do conjunto das nossas forças. Não é uma equação simples, mas é preciso persegui-la. O PCdoB tem convicção nisso. O que move todos nós é a necessidade de frentes amplas para sairmos vitoriosos nas eleições de 2020 e armar uma situação mais favorável ao nosso campo de forças, do que a gente pensa pelo Brasil, o projeto que a gente acredita, é o caminho que a gente está percorrendo.

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JC - Em Pernambuco, apesar de não ter candidato no Recife, o PCdoB terá representação no pleito em cidades como Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Como andam as articulações para a formação dessas chapas? O PSB vai apoiar o PCdoB em Olinda?

LUCIANA - Nós ainda sequer estabelecemos uma rodada bilateral com os partidos. Houve rodadas com o PT, mas mesmo nessas conversas houve poucas mesas para colocar em um tabuleiro planos de projeto eleitoral de cada força política, até porque até um dia desses não havia nem uma data para a eleição. Com a data da eleição marcada, essas conversas vão avançar. Nós vamos abrir a rodada de conversas com os partidos, mas já tivemos o anúncio do apoio do PT, no caso de Olinda, e estamos conversando bastante com outras legendas para reeditar uma frente que eu, quando fui prefeita, já constituí. Renildo (Calheiros) chegou a constituir com mais de 20 partidos. É uma intensa expectativa de diálogos bilaterais com lideranças na construção de uma frente em Olinda. Mas anúncio formal, até agora foi só o do PT. Com as outras forças nós ainda estamos construindo, até porque muitos querem reciprocidade, discutir o plano geral para poder anunciar o apoio em Olinda.

JC - Quando se fala em 2022, o nome de Flávio Dino sempre é lembrado como uma figura competitiva para a disputa da presidência. Como andam as discussões internas sobre essa candidatura? Nos últimos anos o PCdoB sempre esteve ao lado do PT nas corridas presidenciais, esse fato e a figura de Lula vão interferir nessa decisão do partido?

LUCIANA - É inevitável que todas as nossas decisões passem pelas relações que nós constituímos até hoje, até porque elas são relações elevadas, pautadas pelo pensamento programático. Tudo isso entra, mas nós temos boas relações com o PDT, com o PSB, com o PT, com a esquerda. E nós procuramos transitar por todas essas forças, aliás, como nós sempre fizemos política movidos pelo plano das ideias, nós não temos acumulado desgastes, ranços, com o conjunto das lideranças políticas do Estado. Temos muito trânsito, muita tranquilidade de dialogar com todo mundo. O que acontece é que independentemente da nossa vontade, o Flávio Dino, a dois anos da eleição, entra com muita força no plano nacional como nome colocado na mesa das futuras candidaturas presidenciais. Então vai aparecendo o nome dele pela força das suas opiniões e pela sua capacidade política de responder à crise complexa política e institucional que a gente está vivendo. Acho até que o próprio Bolsonaro acabou levantando Flávio Dino quando, lá no início do governo dele, disse que, entre os “paraíbas”, ele era o pior. Isso acabou tornando Flávio Dino mais famoso no Brasil todo. E isso deu condições para que as pessoas o ouvissem mais, ele deu várias declarações e entrevistas em grandes programas nacionais, nos jornais de todo o País e isso vai o credenciando, dando visibilidade, assim como lá atrás aconteceu com a Manuela (D’Ávila), que foi nossa pré-candidata à Presidência da República. O PCdoB tem muitos nomes com estatura, com acúmulo suficiente para fazer o bom combate. Em quase 100 anos, o partido lançou três candidatos a presidente, a última foi Manuela, que depois acabou se tornando vice de Haddad. A gente pensa, sim, em ter candidato à presidência em 2022 e claro que Flávio Dino é um desses nomes que se destacam hoje e entra no nosso roteiro e na nossa conduta até estratégica ter uma alternativa para 2022.

JC - No início da pandemia, muitos governos se queixaram de problemas no relacionamento com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Como anda atualmente a relação do governo de Pernambuco com o governo federal?

LUCIANA - Basta acompanhar todas as posições do governador Paulo Câmara. Ele tem sido muito institucional, tem procurado conduzir essa verdadeira guerra contra a covid-19 para salvar vidas, para garantir a política de distanciamento social como sendo um pressuposto para evitar a contaminação pelo vírus, para aportar recursos de EPIs (equipamentos de proteção individual), é uma dedicação exclusiva a isso. E, aí não é uma opinião minha, isso foi demonstrado publicamente pelo próprio coletivo de governadores, basta ver que de 27 governadores, 24 se contrapuseram a Bolsonaro. Não ao ministro da Saúde, porque ainda teve essa. Nós tivemos um Presidente da República que não se entendeu nem com o ministro dele. Enquanto todos esperavam um presidente que liderasse o Brasil, que unisse o Brasil, que liderasse os governadores, as instituições de ciência, a relação com os Países, a única coisa que ele fez foi guerrear com todo mundo. Ele descumpriu as orientações das autoridades sanitárias, brigou com tudo o que é governador, até com o (Ronaldo) Caiado, que é um representante tradicional da direita do Brasil, portanto tem muito alinhamento político e ideológico com ele. Ele (Bolsonaro) teve a atitude de negar a existência, de naturalizar e até banalizar a doença, a tratou como uma coisa menor e o resultado foi esse, governadores não só do nosso campo tiveram que brigar com ele no Supremo, porque ele chegou a querer desautorizar as políticas que os governadores estavam implementando. Em plena pandemia nós tivemos três ministros da Saúde. Está sendo uma luta para salvar vidas e uma sensação de orfandade. Um terço dos recursos do Ministério da Saúde foram liberados. Nós gastamos mais de R$ 500 milhões do Estado, de dinheiro azul e branco, e tivemos cento e poucos milhões do governo federal. É desproporcional, é algo que não cabe em momentos como esse. Todas as atitudes do presidente foram preocupadas com as disputas políticas e eleitorais. Foi assim que ele se comportou, ao invés de se preocupar em salvar vidas.

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