O procurador do Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPCO) Cristiano Pimentel avalia que a saída do procurador da República Deltan Dallagnol do comando da Lava Jato, em Curitiba, acontece no momento em que estão trabalhando para "enterrar" a operação.
"Os poderosos são sempre blindados pelas altas esferas e a Lava Jato rompeu essa triste tradição do Brasil, mas tem gente agora trabalhando para reverter isso e enterrar a Lava Jato, a população deve estar bem informada sobre isso", afirmou Pimentel em entrevista à Rádio Jornal, nesta quarta-feira (2).
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Deltan deixa a operação por decisão familiar. Ele afirmou, nessa terça-feira (1º), que a filha de 1 ano e 10 meses apresentou sinais de problemas no desenvolvimento e que precisará da dedicação dos pais no tratamento. "Ele sai num momento de muitos bombardeios em que a Lava Jato apanhou muito de escritórios de advocacia, de políticos poderosos e até de tribunais superiores. Isso não deixa de dar um desânimo a toda a categoria de servidores públicos que, quando tentam fazer um pouco mais do que suas atribuições pelo bem do Brasil, pelo combate à corrupção, são atacados no campo pessoal como Deltan foi. Quem faz o certo é punido", disse Cristiano Pimentel.
Sim, é verdade que estou de saída da coordenação da Lava Jato. É uma decisão difícil, mas o certo a fazer por minha família. Continuarei a lutar contra a corrupção como procurador e como cidadão. A Lava Jato tem muito a fazer e precisa do seu e meu apoio.https://t.co/IInBrHL38U
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) September 1, 2020
Conforme o MPF, o procurador da República no Paraná Alessandro José Fernandes de Oliveira vai assumir as funções de Deltan Dallganol, que, por sua vez, terá as atribuições deixadas por Oliveira.
Augusto Aras
Em julho deste ano, a força-tarefa da Lava Jato se viu em atrito com o novo procurador-geral da República, Augusto Aras, que disse ser necessário "corrigir os rumos" para que o "lavajatismo não perdure".
"Aras deu declarações negativas contra a Lava Jato, ele tenta acabar com o sistema de de força-tarefa. Mas hoje, os réus contratam escritórios com 20 advogados trabalhando de forma exclusiva. Por mais que o servidor seja compromissado não tem como fazer frente a isso. Por isso a importância de uma força-tarefa. Mas Aras quer mudar o modelo, não se sabe se será melhor ou pior, mas [a força-tarefa] foi um modelo que deu certo", destacou Cristiano Pimentel.
Em Entrevista à RPC no Paraná, o próprio Deltan disse não haver interferência externa em sua saída, mas admitiu haver pressão para isso. "Pressões sempre existiram, existem e vão continuar existindo na Lava Jato. Nossa história mostra que sempre encarou essas pressões com coragem, determinação, trabalho, resiliência e pedindo ajuda da sociedade, que a gente sempre teve", afirmou.
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