Qualidade de vida passa pela oferta de espaços públicos adequados para a população. Mas nas cidades da Região Metropolitana do Recife faltam parques e equipamentos de lazer, principalmente para quem vive em situação de vulnerabilidade. O quadro é ainda mais desafiador porque os futuros prefeitos assumirão pendências com orçamentos reduzidos devido à pandemia da covid-19. Confira no sétimo domingo do especial Desafios Urbanos.
A bola amarelada corre de um lado para o outro. Passa pelos pés descalços de quatro meninos e em seguida é cabeceada para um gol imaginário. Mas esqueça as quadras ou campos de futebol. O gramado improvisado é um tapete sintético, colocado em um beco no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, para que os pequenos possam brincar em segurança. A falta de parques e espaços de lazer é uma realidade comum às periferias das cidades metropolitanas e afeta a qualidade de vida de pessoas em maior situação de vulnerabilidade. Encontrar soluções que passem pela democratização do acesso a esses equipamentos está entre os desafios a serem enfrentados por quem assumir o cargo mais alto do Executivo municipal no próximo ano.
Cineasta periférico, Cidicley Ferreira, 25 anos, nasceu e cresceu no Arruda. Em quase duas décadas, viu quase nada mudar. “Minha infância foi como a desses meninos, brincando nos becos. Faltam espaços para que as crianças possam brincar, correr. A periferia não é prioridade para as prefeituras”, lamenta. “A gente vê iniciativas em outros bairros nobres, como ruas sendo fechadas nos fins de semana, para que as pessoas possam utilizar os espaços e praticar atividades, mas isso não chega aqui. A gente é obrigado a se ajeitar no imprensado que a sociedade nos joga.” A diarista Jucélia Souza, 29, vive no mesmo bairro e só deixa os filhos Miguel, 4 anos, e Maria Sophya, 8, brincarem com supervisão. “Só sobra o meio da rua para eles jogarem bola. Outro dia, um caminhão atropelou uma criança de cinco anos aqui perto.”
O Recife concentra o maior número de espaços de convivência. A cidade tem 660 áreas verdes entre praças, parques e refúgios, segundo a prefeitura. Somente parques são 11, distribuídos em diferentes áreas da cidade. Mas bairros populosos como a Várzea, na Zona Oeste, com mais de 70 mil moradores, e Ibura, na Zona Sul, com 50 mil residentes, possuem pouca ou nenhuma opção de lazer próximo de casa.
A situação se repete em outros municípios. Para que o filho Salomão, 5 anos, possa brincar ao ar livre, a pedagoga Patrícia Pontual, 33, precisa utilizar transporte público de casa, no bairro de Arthur Lundgren II, em Paulista, Grande Recife, até o Parque das Paineiras, único parque do município, que conta também com 65 praças. “Não estamos bem servidos de lazer nos bairros, tanto para crianças quanto para adultos. As alternativas acabam sendo os shoppings ou locais pagos, mas nem todos têm a oportunidade de arcar com os gastos”, assinala.
Com mais de 390 mil habitantes, a cidade de Olinda também tem apenas um parque disponível para a população, o Parque do Carmo. As praças, segundo a gestão, são 112. Já em Jaboatão dos Guararapes, segundo município mais populoso do Estado, com 702 mil moradores, existem três parques e 57 praças. A falta de espaços adequados para prática de exercícios físicos impacta a saúde. “Muita gente não tem condição de pagar para fazer uma academia, então, esses locais são muito importantes para a qualidade de vida das pessoas”, defende a personal trainer Joana Barros. Ela destaca a importância das academias da cidade, principalmente quando existem profissionais para orientar o modo correto de realizar os exercícios. “Grande parte das doenças poderiam ser amenizadas com a prática de atividade física, diminuindo inclusive a demanda por remédios. Estamos falando de hipertensão, diabetes e até mesmo depressão.”
Para os pequenos, a importância é ainda maior. “Os estudos mostram que no desenvolvimento das crianças é importante o contato com a natureza e o livre brincar. Ajuda a ter uma infância mais leve, melhora o aprendizado, diminui os transtornos mentais e ajuda a combater a obesidade”, explica a pediatra Luiza Menezes. É em espaços públicos como as pracinhas, que meninos e meninas podem também vivenciar o mundo. "Eles irão conhecer outros formatos sociais, além de criar a sensação de pertencimento daquele lugar. Quando uma criança se sente pertencida, ela cresce com a consciência de que precisa cuidar daquele espaço. É uma discussão também sobre responsabilidade social, sobre o desenvolvimento enquanto cidadão.”
Sobre Formada em Jornalismo pela Uninassau em 2017. Atua na editoria de Cidades desde 2016, tendo passagem pelas editorias de Política e Economia. É também colunista do JC Online e apresentadora da grade da TV JC
Localidade:Recife
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Cargo:Repórter e colunista
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