Bolsonaro reconhece vitória de Biden nos Estados Unidos mais de um mês após eleição

O presidente brasileiro foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar o democrata

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Publicado em 15/12/2020 às 17:25 | Atualizado em 15/12/2020 às 19:10
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Líderes religiosos acusam o presidente de agravar a crise do coronavírus - FOTO: ISAC NÓBREGA/PR

Atualizada às 19h10

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saudou Joe Biden nesta terça-feira (15) por sua vitória na eleição presidencial dos Estados Unidos, realizada no mês de novembro, e disse que está disposto a trabalhar com o novo governo norte-americano para "dar continuidade à construção de uma aliança" entre os dois países.

"Saudações ao presidente Joe Biden, com meus melhores votos e a esperança de que os Estados Unidos sigam sendo 'a terra dos livres e o lar dos corajosos'. Estarei pronto a trabalhar com o novo governo e dar continuidade à construção de uma aliança Brasil-EUA, na defesa da soberania, da democracia e da liberdade em todo o mundo, assim como na integração econômico-comercial em benefício dos nossos povos, disse Bolsonaro nas redes sociais.


O último do G20

O presidente Jair Bolsonaro foi o último dos líderes das potências industrializadas e emergentes que integram o G20 a parabenizar Joe Biden. Os parabéns de Bolsonaro vieram poucas horas depois das do russo Vladimir Putin e do mexicano Andrés Manuel López Obrador, completando o reconhecimento pelos membros do G20. Todos os três se pronunciaram um dia após a confirmação da vitória de Biden pelo Colégio Eleitoral dos EUA.

Bolsonaro, chamado de "Trump tropical", nunca escondeu sua simpatia pelo republicano e durante a campanha trocou farpas com o agora presidente eleito americano sobre o desmatamento na Amazônia.

Essa demora em se manifestar, segundo alguns analistas, pode acentuar as "desavenças" entre os dois países, embora outros considerem que o gesto não terá consequências se o Brasil continuar apoiando Washington no confronto com Pequim.

Em debate eleitoral com Trump no final de setembro, Biden ameaçou o governo brasileiro com "consequências econômicas significativas" se não agir contra o desmatamento da maior floresta tropical do planeta. Bolsonaro respondeu que esta declaração "desastrosa e gratuita" colocava em risco a "convivência cordial" entre as nações.

Dias depois da vitória de Biden, contra a qual Trump apresentou diversos recursos, o presidente brasileiro perguntou ironicamente se as eleições americanas já haviam terminado e alertou o democrata, sem mencioná-lo, que o Brasil tem "pólvora".

"Só um detalhe"

"Desde a campanha, já havia uma preocupação com a distância entre as agendas prioritárias de Bolsonaro e Biden em relação à conservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentável e direitos humanos. Essa demora em reconhecer a vitória de Biden aumenta o risco de desentendimentos na política externa", explicou à AFP Thomaz Favaro, analista da Control Risks.

Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e atual presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), acha que parabenizar Biden ou não "é mais um detalhe de cortesia diplomática. O que vai dizer mais sobre as relações entre os dois são assuntos como o meio ambiente ou o 5G".

O Brasil deve licitar em 2021 a instalação da rede 5G, a tecnologia de internet móvel de altíssima velocidade. Uma questão espinhosa na qual se enfrentam globalmente China e Estados Unidos, os dois principais parceiros comerciais do Brasil.

Por enquanto, Bolsonaro tem evitado uma definição. Em novembro, porém, seu governo expressou simpatia pelo programa "Clean Network", promovido por Trump para impedir o avanço da China nessa tecnologia a nível mundial.

De acordo com Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o presidente resistiu ao máximo em reconhecer Biden "porque quer ter a liberdade para usar a estratégia pós-eleitoral de Trump, caso perca as eleições de 2022".

Para Bolsonaro, "é importante dizer que nos Estados Unidos roubaram a eleição, a fim de sustentar uma narrativa para 2022", disse à AFP.

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