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PT do Recife segue sem definição se integrará base ou oposição do governo de João Campos

O diretório municipal do Partido dos Trabalhadores tentou rifar a candidatura de Marília Arraes à prefeitura em defesa da manutenção do partido na Frente Popular

Alice Albuquerque
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Alice Albuquerque
Publicado em 30/12/2020 às 18:01 | Atualizado em 30/12/2020 às 18:33
Partidos dos Trabalhadores
Dois dos três vereadores da sigla se posicionaram favoráveis à oposição - FOTO: Partidos dos Trabalhadores

A disputa entre PT e PSB nas eleições do Recife foi marcada pelo antipetismo do partido socialista e, tendo isto em vista, dois dos três vereadores eleitos estão assumindo condição de oposição para a próxima legislatura, com apenas três parlamentares eleitos na Câmara Municipal pelo Partido dos Trabalhadores. O diretório municipal da sigla vai se reunir no dia 27 de janeiro para avaliar o ano de 2020.

O diretório municipal e estadual do PT tentaram rifar a candidatura de Marília Arraes quando ainda era pré-candidata, sendo contrários ao posicionamento do diretório nacional que havia lançado o nome da petista ao pleito desde o início de 2020. Os diretórios defendiam a manutenção do PT na Frente Popular.

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Ao JC, o presidente do diretório municipal, Cirilo Mota, informou que o colegiado está com uma reunião marcada para o próximo 27 de janeiro, mas até então o assunto não está em pauta. "Possivelmente, posso entrar em pauta com o assunto, mas vamos fazer essa reunião da municipal uma avaliação de 2020. Existem outras questões e no decorrer do tempo não sabemos se o posicionamento estará em pauta, porque os trabalhos da Câmara Municipal do Recife ainda vão estar dando inicio, já que em janeiro não tem nada", disse.

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A vereadora eleita Liana Cirne (PT) pontuou que ainda não teve deliberação da bancada do partido, "mas tudo aponta que a gente fique na oposição". "E eu sou favorável a nos posicionarmos no bloco de oposição. Agora no final do ano tivemos motivos reafirmados: a votação açodada do Plano Diretor, essa tentativa ilegal de aprovar a reforma administrativa no apagar das luzes desse mandato, uma tentativa de antecipar a fragilização e proteção das Zeis. A gestão do PSB se mostra cada vez mais uma gestão marcada por uma metodologia de atropelamento dos ritos democráticos. Nesse sentido, é necessário, e a nossa responsabilidade exige que nos unifiquemos como oposição em relação a forma como o PSB pretende administrar a cidade", explicou.

A cientista política e professora da Facho Priscila Lapa disse que "grande é o mistério", tendo em vista a situação do PT com o fim das eleições, "ficou meio perdido". "Em outro contexto, com o fim do período eleitoral, o partido teria tido uma postura mais incisiva e mais clara sobre como rumaria a partir de então. Claramente há uma perda de fôlego político. No entanto, o cenário específico do município tende mesmo à oposição".

A petista lembrou, ainda, que a oposição na Casa de José Mariano tem bases ideológicas diferentes, "mas a nossa unificação vai ser em relação a forma como o PSB, de maneira antidemocrática e autoritária"

Reeleito, o vereador Jairo Brito (PT) ressaltou seu apoio a Marília Arraes e que já vota pela oposição em alguns projetos do Executivo. "Votei contra o projeto que minimiza a força das áreas Zeis, mas até agora não vi uma nota do diretório municipal a respeito, nem do estadual sobre essa postura do PT no próximo ano em relação ao PSB. Já marcaram reuniões, mas não definiram isso, inclusive a questão das entregas dos cargos. Acho que temos que ir para a oposição por toda a conjectura que foi no segundo turno da eleição", comentou.

Em contrapartida e de volta à Casa de José Mariano, o vereador eleito Osmar Ricardo (PT) foi o único a afirmar não ter posição e seguirá as diretrizes do Partido dos Trabalhadores. "Não tomo decisão pessoal, a minha posição é a do partido, que vai se reunir em janeiro e tomar uma diretriz para decidir se vai ser oposição ou governo. Ele (a sigla) está resolvendo um monte de problema interno do PT para poder resolver a questão do estado com relação ao PSB", disse.

O cientista político Alex Ribeiro enfatizou que o PT conta com várias correntes e as distintas posições dentro da sigla ficam mais evidentes no Estado. No entanto, Ribeiro afirmou, ainda, que não será surpresa o partido não abraçar as movimentações do PSB em Pernambuco. "A decisão deve trazer outras crises internas que podem levar a dois cenários: uma oposição pontual em relação as pautas divergentes com o PSB ou uma oposição oficial ao prefeito João Campos, mas sem a adesão de todos os atores políticos da própria legenda", relatou.

Para Lapa, a posição pode não durar os quatro anos de mandato, mas o período inicial tende a ser difícil compor a base governista. "Seria uma contradição facilmente assimilada pelos eleitores. Não vejo clima político para ser da base do governo. Ainda que no dia a dia possa não haver uma oposição ferrenha como o PT historicamente soube fazer, em alguns momentos pode esboçar uma neutralidade, já que em diversas matérias PT e PSB não divergem", pontuou. Ela afirmou, ainda, que a correlação pode ser alterada a partir dos entendimentos para 2022 no âmbito nacional.

No dia do resultado do segundo turno das eleições municipais, a então candidata Marília Arraes (PT) falou que a oposição no Estado iria passar por um rearranjo político. "É importante deixar marcado que vai começar uma nova articulação da oposição no Estado de Pernambuco. Nós não temos condições de articular com um grupo que além de fazer tão mal na gestão, seja do Estado ou município, também trata a política da forma que tratou", declarou no dia 29 de novembro.

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