Ameaça

Eduardo da Fonte se diz insatisfeito com espaço do PP no governo João Campos

Posicionamento do presidente estadual do PP é referendado pelo líder do partido na Alepe, Clóvis Paiva. Ele diz que indicação para a secretaria de Habitação "é incompatível e não corresponde ao tamanho que hoje o partido é composto"

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Luisa Farias

Publicado em 04/01/2021 às 21:53 | Atualizado em 11/01/2021 às 15:47
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Passado o período de transição de governo e a escolha do secretariado do prefeito do Recife João Campos (PSB), dentro do PP é nutrido o sentimento de que a sigla não foi contemplada de forma proporcional ao tamanho que tem na capital pernambucana e a contribuição do partido para a eleição de João. A queixa vem especialmente do deputado federal e presidente do PP em Pernambuco, Eduardo da Fonte. Ele demonstrou a sua insatisfação em relação aos espaços ocupados pelo PP - um dos 12 partidos que deu sustentação à Frente Popular - no primeiro escalão do governo de João. "A forma como o partido foi tratado não foi como aliado. O partido foi usado", disse o parlamentar ao blog Painel CBN. 

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Ainda de acordo com o blog, Eduardo da Fonte diz considerar, inclusive, a entrega da Secretaria de Habitação do Recife, assumida por Maria Eduarda Médicis, indicação do PP, e até mesmo a possibilidade da sigla ir para a oposição na Câmara Municipal, onde tem a segunda maior bancada, com quatro vereadores. O PP já ensaiou outras vezes o rompimento da Frente Popular, como em na eleição de 2018, mas isso nunca se concretizou. 

A pasta cobiçada pelo partido era na realidade a de Saneamento, que teria maior alcance. A secretaria era ocupada anteriormente por Oscar Barreto. Ele saiu do cargo no meio da eleição por determinação do PT, que tinha Marília Arraes como candidata a prefeita do Recife. "Existia uma expectativa da parte dele (de indicar o nome para a pasta do Saneamento), mas para ele ficar chateado nesse nível, teve a sinalização de que o partido iria para lá", disse um progressista em reserva.

Os membros do partido deverão ser consultados em breve sobre a situação. Quem preside o PP do Recife é o filho de Eduardo da Fonte, Lula da Fonte. Procurado, ele não retornou o contato do JC até a última atualização desta matéria, assim como o próprio Eduardo da Fonte. 

Por meio de nota, o líder do PP na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Clóvis Paiva, reafirmou a insatisfação exposta pelo presidente estadual com relação ao anúncio do novo secretariado recifense. "Para o PP, a pasta indiciada é incompatível e não corresponde ao tamanho que hoje o partido é composto", disse o parlamentar. 

O deputado estadual Joel da Harpa (PP), que adota uma posição independente na Alepe, defendeu um maior reconhecimento da sigla pelos socialistas. "O PSB já vem desrespeitando a questão de espaços, a representatividade que hoje o PP tem. O PSB tem tratado o PP de maneiram muito modesta, até porque os companheiros do PP foram fieis nesse período de eleição de João Campos", disse.

Outros parlamentares do PP ouvidos pelo JC minimizaram o fato. Eles consideram que a animosidade será contornada e permanecerá a aliança entre os partidos, posta a prova há menos de dois meses no pleito municipal. "Eu torço para que dê tudo certo e as coisas caminhem para que a gente fique do lado do PSB porque eu acho que é um dos melhores caminhos a gente trilhar junto, porque a gente é da base há muito tempo", afirmou Chico Kiko (PP). 

"Eu acho que vai haver o diálogo, acho que Eduardo e João vão encontrar uma alternativa que não chegue nesse denominador (rompimento). O apoio da gente na campanha foi para João, eu confio em João, acho que não tem possibilidade do PP ir para a oposição, no meu ponto de vista", disse Romero Albuquerque. 

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), preferiu não falar diretamente sobre as ameaças do Partido Progressista em sair do governo, ao menos no âmbito municipal, devido à insatisfação sobre os espaços distribuídos pelo PSB.

"Nós temos o mês de janeiro para nos dedicarmos sobre esse assunto. As questões serão resolvidas com muito diálogo e buscando o melhor para Pernambuco", declarou o governador, afirmando ainda que chegou a conversar com os presidentes estaduais dos partidos que compõem a sua base, no dia 31 de dezembro. "Não tenho novidades sobre isso", pontuou em entrevista à rádio CBN Recife, nesta segunda-feira (4).

No primeiro escalão do estado, o PP tem na sua cota a secretaria de Políticas de Prevenção às Drogas, com Clóvis Benevides. O partido consolidou o seu poder em Pernambuco com o resultado das eleições municipais. Foi o terceiro com o maior número de prefeitos eleitos, 17, atrás do PSB (53) e MDB (23).

O PP também almeja ocupar a secretaria estadual de Desenvolvimento Agrário, hoje chefiada pelo petista Dilson Peixoto, caso a saída do PT seja concretizada. Para a pasta, o deputado estadual Claudiano Martins, que tirou uma licença de 120 dias das atividades legislativas, é o mais cotado para assumir. "Estamos aguardando a decisão do governador em breve", disse Clóvis Paiva. 

O fato dele ter sido pedido licença foi visto como um gesto para Marcantônio Dourado (PSB), suplente que assumiu no seu lugar para atuar como deputado durante esse período. Mas segundo um progressista, há certa resistência em relação ao nome de Claudiano, por uma suposta falta de experiência. Claudiano já presidiu a Comissão de Agricultura da Alepe e criou a Frente Parlamentar da Bacia Leiteira na Casa. Correndo por fora, o PDT também tem interesse na secretaria. 

Efeito no PSB

Nos bastidores do PSB, a postura de Eduardo da Fonte em tornar público que poderá devolver a secretaria de Habitação não é vista como uma surpresa. No entanto, os socialistas apontam que esse não seria o melhor caminho para negociar espaços.

"Os escalões estão sendo montados e também possuem um peso significativo e importante na composição política”, afirmou um socialista em reserva. Ele lembra que na Câmara dos Vereadores, o 1º secretário da Mesa Diretora tem o "poder principal", com mais força até que o próprio presidente, por lidar com as Finanças da Casa. Função essa ocupada pelo PP, com o vereador Eriberto Rafael, eleito para o cargo na última sexta-feira (4). Além disso, a presidência da Alepe é ocupada por Eriberto Medeiros (PP). 

Os vereadores Aderaldo Pinto (PSB) e Hélio Guabiraba (PSB) tinham se colocado como candidatos ao cargo de 1º, mas acabaram desistindo do pleito. Mas entre a bancada progressista, a desistência não foi vista como um gesto dos socialistas para contemplar o PP. Com o novo presidente eleito, Romerinho Jatobá do PSB, seria difícil eles emplacarem alguém do mesmo partido no segundo cargo mais importante da Mesa Diretora. Seria "desrespeitoso" o PSB reivindicar a posição, diz um progressista em reserva, pois o PP é que tinha "toda a legitimidade para isso", já que representa a segunda maior bancada. 

Também há uma leitura do PSB de que a secretaria de Habitação poderia ser "turbinada", dependendo do grau de articulação. “O ex-governador Eduardo Campos foi ministro do presidente Lula em 2003, de um ministério que não teria muita relevância, como o ministério da Ciência e Tecnologia. Ele conseguiu fazer uma articulação junto às universidades, aos cientistas, com várias iniciativas importantes”, relembrou o socialista.

"A composição do secretariado feita pelo prefeito João Campos foi marcada pelo diálogo franco. A formação do time foi muito discutida com os partidos da Frente Popular do Recife e setores da sociedade, tendo atendido critérios técnicos e reunindo nomes com muita experiência e sensibilidade social em suas áreas específicas e com a concretização de marco histórico, com a paridade de gênero", afirmou, em reserva, um importante nome ligado ao prefeito.

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