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Esquerda se divide sobre 'bloco na rua' de Fernando Haddad

A declaração do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo sobre colocar "o bloco na rua", em referência a uma possível candidatura em 2022, continua a provocar reações diversas entre lideranças de esquerda

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Estadão Conteúdo

Publicado em 06/02/2021 às 16:17 | Atualizado em 06/02/2021 às 16:17
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A declaração do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) sobre colocar "o bloco na rua", em referência a uma possível candidatura em 2022, continua a provocar reações diversas entre lideranças de esquerda. Enquanto algumas siglas viram o movimento como um lançamento antecipado e não discutido com as demais legendas, discordando, portanto, da iniciativa, outras defenderam o direito de o PT disputar a Presidência da República por decisão própria.

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O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), foi um dos que defendeu Haddad. "Indiscutível o direito de qualquer partido lançar candidato" a presidente. "As questões são outras: Qual o programa e quais as alianças para derrotar Bolsonaro? Pois, se há uma coisa que não temos 'direito', é a de perder novamente para ele e prolongar tantas tragédias", ressaltou Dino, apontado como um dos nomes possíveis a comandar essa frente ampla de esquerda contra Bolsonaro.

Aliado do também ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), o deputado André Figueiredo (PDT-CE) reagiu de forma negativa à declaração de Haddad. O parlamentar criticou o PT por já demonstrar que novamente não abrirá mão de uma eventual cabeça de chapa para apoiar Ciro, nome mais bem colocado atualmente, segundo ele.

"Sinceramente, quem pensaria que seria diferente? O exemplo da Cristina Kirchner nunca servirá para Lula. Só que, dessa vez, não será bem assim. Ciro Gomes cresce a cada dia. Venceremos!", disse o parlamentar cearense, em referência ao pleito realizado na Argentina em 2019, quando a ex-presidente Cristina Kirchner, derrotada em 2015 por Maurício Macri, abriu mão de encabeçar a chapa e venceu a eleição como vice do atual presidente, Alberto Fernández.

A polêmica sobre o PT encabeçar ou não uma eventual chapa presidencial em 2022 contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro veio à tona depois que Haddad anunciou que rodaria o Brasil por recomendação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele (Lula) me chamou para uma conversa no último sábado e disse que não temos mais tempo para esperar", disse Haddad em entrevista na noite de quinta-feira, 4. "Ele me pediu para colocar o bloco na rua e eu aceitei."

No dia seguinte, o petista reafirmou que seu nome está colocado. "Se nós não começarmos agora a discutir com o País, 2021, combater a fome, o desemprego e a questão sanitária, nós não vamos ter 2022", disse.

Críticas

Entre os descontentes também está o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, que classifica a decisão de Lula e Haddad como uma dificuldade para que a esquerda possa se alinhar em torno de um nome só.

"Com certeza, (Haddad) vai ficar falando apenas para os lulistas e petistas", disse. Segundo Freire, a disposição do ex-prefeito ainda pode criar obstáculos e mal-estar para setores da esquerda que consideram cada vez menor a chance de uma aliança com o PT.

Em uma posição intermediária, líderes do PSOL, como o deputado federal Marcelo Freixo (RJ) e Guilherme Boulos, evitaram criticar abertamente Fernando Haddad e Lula, mas se posicionaram contra a decisão de definir um nome neste momento. Ambos afirmaram que o momento é adequado para a construção de um projeto conjunto.

"O PT tem o direito de lançar nomes para 2022. E eu tenho o direito de defender que o melhor caminho para a esquerda é construir um programa unitário e depois definir nomes. No mais, Haddad é meu amigo e um grande quadro. O resto é intriga de quem vive da pequena política", escreveu Boulos na noite de sexta.

Após o último posicionamento de Boulos, parlamentares e militantes do PT e de siglas aliadas saíram em defesa de Haddad, de sua possível candidatura e apontaram que o partido já possui as linhas gerais de um plano que possa unificar a esquerda. Reconstruir o País, livrá-lo do fascismo, distribuir riqueza e renda, criar emprego e atender aos mais pobres foram alguns dos pontos listados pelo deputado gaúcho Bohn Gass (PT).

Apesar do debate entre os integrantes dos diversos partidos, um tuíte da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, surgiu como um aceno ao diálogo. Nele, ela diz que o partido está lançando uma liderança ao debate nacional e que só vai escolher nomes "lá na frente".

"Todos os partidos têm legitimidade para apresentarem suas lideranças para debater o Brasil. Isso não impede a construção, desde já, de um movimento de unidade em torno de um projeto para salvar o País dessa crise medonha e enfrentar Bolsonaro. Lá na frente conversamos sobre nomes".

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