No Recife, grupo de empresários entrega carta a Bolsonaro pedindo prioridade para obras de infraestrutura no Nordeste
Carta-manifesto do grupo multissetorial Atitude Pernambuco fala em atenção ao desenvolvimento regional integrado e lista obras que estão travadas
Nesta sexta-feira (3), o grupo multissetorial Atitude Pernambuco entregou uma carta-manifesto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Recife. O documento pede o destravamento de empreendimentos considerados estratégicos para a infraestrutura de Pernambuco e do Nordeste. Entre as solicitações estão: o Arco Metropolitano (Grande Recife), a manutenção da BR-232 e a Ferrovia Transnordestina.
No documento, os empresários também solicitam que seja devolvida a autonomia do Porto de Suape, retirada pela União em 2013. O encontro com o presidente aconteceu meses após reunião de trabalho realizada com o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas.
A entrega do documento aconteceu durante reunião em um hotel no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A entidade afirmou que o encontro teve 'caráter institucional e técnico'. Estiveram presentes cerca de 30 empresários e executivos vinculados ao movimento.
“É necessário que todos os governantes participem da construção de consensos em torno de uma agenda propositiva que compreenda e promova o desenvolvimento econômico e social de cada uma de nossas regiões e que ao Nordeste seja dada uma atenção especial não apenas pelas demandas do nosso povo, mas também pela relevância da sua economia”, defende o grupo na carta.
Íntegra da carta
Senhor Presidente,
O Movimento Atitude Pernambuco, organização não-governamental, sem fins lucrativos e multissetorial, reúne um conjunto amplo de líderes empresariais que se dedicam voluntariamente a uma agenda voltada para os interesses coletivos e focada no desenvolvimento sustentável do Estado de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil.
Alinhados ao espírito que nos move, manifestamos nosso reconhecimento pelo esforço da sua gestão na promoção de importantes reformas como a Independência do Banco Central, a Reforma da Previdência e a melhoria das nossas Leis Trabalhistas. Bem como por iniciativas fundamentais como os novos marcos legais do Saneamento e das Startups. Por fim, registramos a fundamental atuação do Governo Federal na implementação de medidas emergenciais de apoio à economia durante o período crítico da pandemia da covid-19.
Defendemos que, para o nosso país atingir as suas potencialidades, é fundamental avançar num ponto crucial: o desenvolvimento regional integrado. Nesse sentido, é necessário que todos os governantes participem da construção de consensos em torno de uma agenda propositiva que compreenda e promova o desenvolvimento econômico e social de cada uma de nossas regiões e que ao Nordeste seja dada uma atenção especial não apenas pelas demandas do nosso povo, mas também pela relevância da sua economia.
Os Estados nordestinos representam hoje um PIB de R$ 1 trilhão – equivalente ao de países como Chile, Singapura e Portugal. Produzem 25 milhões de toneladas de grãos, geram 67% da energia solar e 88% da energia eólica de todo o país, reúnem complexos industriais que estão entre os mais importantes do Brasil e abrigam ecossistemas de inovação integrados aos maiores centros de tecnologia do mundo.
Pernambuco ocupa historicamente uma posição de liderança na defesa dos interesses dessa região, plena de oportunidades e ao mesmo tempo com tantos desafios. Coerentes com essa tradição, solicitamos ao Governo Federal que dedique atenção especial, em nosso estado, a projetos estruturadores com impactos não apenas no âmbito local, mas na competitividade e melhoria de todo o Nordeste e do País.
Nesse aspecto, ressaltamos que Pernambuco é um hub logístico estratégico para a região, mas que vem sofrendo com a inexistência ou má conservação de eixos estruturadores importantes. A malha de rodovias federais que corta o estado, por exemplo, demanda investimentos em manutenção, reparo, expansão e duplicação. Neste quesito, é inadiável a retomada da construção do Arco Metropolitano, obra decisiva para o destravamento do fluxo da BR-101 em nosso estado e para a conexão de regiões produtoras locais às nossas principais rotas de escoamento da produção.
Destacamos, também, a situação da BR-232, rodovia duplicada com recursos próprios do povo pernambucano e que, após mais de 17 anos da realização da obra, ainda não foi objeto de consenso entre os diferentes níveis de governo quanto à sua conclusão e responsabilidade de gestão. Esta pendência reflete no atual estado da rodovia, bem como na ausência de novos investimentos para endereçar problemas graves, como o permanente gargalo no trecho de seis quilômetros da saída do Recife onde, rotineiramente, nossos cidadãos encaram engarrafamentos de horas.
O Porto de Suape passa por situação semelhante. Construído com o suor e recursos dos pernambucanos, o porto teve sua autonomia retirada indevidamente pelo Governo Federal em gestões anteriores. Solicitamos a devolução da autonomia de Suape e a permissão para que se torne um terminal de uso privativo, o que permitiria a retomada de sua competitividade e representaria uma reparação histórica para com o povo de Pernambuco.
Dedicamos ainda preocupação especial quanto aos rumos da Ferrovia Transnordestina. A obra já consumiu bilhões em recursos públicos e vem sendo afetada pelo descumprimento reiterado, por parte do operador, de obrigações definidas no contrato de concessão. Num capítulo mais recente e desfavorável à economia de toda a região, foi anunciado que o ramal que conecta o interior do Nordeste ao Porto de Suape não mais seria implementado. Acreditamos que uma solução alternativa é viável para evitar que a região mais uma vez seja prejudicada.
Em todas estas questões, reconhecemos o empenho do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que atenciosamente nos recebeu para reunião de trabalho e desdobrou estas demandas em tratativas, na busca de soluções.
Por fim, manifestamos nosso apoio integral à implantação da Escola de Sargentos (ESA) em Pernambuco, revertendo uma concentração histórica no Sul e Sudeste. Estamos certos de que reunimos as melhores condições para a implantação da nova unidade. Além disso, entendemos este empreendimento como um motor de desenvolvimento regional e de criação de oportunidades para os jovens do Brasil.
Na certeza de contarmos com a justa atenção às demandas estratégicas da nossa região e nosso estado, nos firmamos.
Respeitosamente,
Guilherme Ferreira da Costa
Presidente do Conselho do Movimento Atitude Pernambuco