Encontro com apoiadores e empresários, falta de máscara, orquestra e ato militar. Um dia intenso de Bolsonaro no Recife
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a cumprir agenda no Recife depois de dois anos. Neste sábado (4), ele participará de motociata no Agreste do Estado
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a cumprir agenda no Recife depois de dois anos e foi recepcionado de forma calorosa por fiéis apoiadores nesta sexta-feira (3). De encontro com eleitores a uma reunião com empresários e um ato militar, o dia do chefe do Executivo foi intenso na capital pernambucana.
Há dias grupos conservadores organizavam a recepção ao chefe do Executivo e estiveram presentes em todos os locais visitados por Bolsonaro na cidade.
A chegada do presidente era prevista para 14h, mas, antes mesmo do meio-dia, as pessoas começavam a se concentrar na Base Aérea do Recife, no Ibura, Zona Sul da capital, à espera do avião que trazia Bolsonaro.
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E as mensagens eram diversas. Muitos seguravam bandeiras do Brasil, outros se enrolavam nelas, mas houve apoiador que preferiu empunhar cartazes. Um deles cobrava o voto impresso, defendido por Bolsonaro: "Voto auditável, voto impresso, voto democrático", estava escrito no cartaz.
"Liberdade não se ganha, se conquista". Esta mensagem também estava escrita em um cartaz e vem sendo usada por bolsonaristas em referência a decisões que eles consideram arbitrárias, tomadas pelo Supremo Tribunal Federal. Um dos exemplos foi a prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson.
A expressão, inclusive, foi o lema principal do CPAC, considerado maior evento conservador do mundo, realizado nesta sexta-feira (3), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Mas nem todos os cartazes eram de manifestações políticas. Um deles, por exemplo, pedia: "Bolsonaro Herói do brasil, me dá um abraço". "Bolsonaro tira uma foto comigo. Mito 2022", estava escrito em outro, empunhado pela psicóloga Sheyla Paes, de 42 anos, que aguardava o presidente.
Jair Bolsonaro chegou à base às 14h40. No local, aliados o recepcionaram. Estavam presentes os deputados estaduais Alberto Feitosa (PSC), Clarissa Tércio (PSC) e Romero Sales Filho (PTB), o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, e o vereador do Recife Júnior Tércio (Podemos). O presidente estadual do PTB, Coronel Meira, e D. Paulo Garcia, arcebispo e primaz da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, que recentemente fez críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante um culto na Catedral da Trindade, no Recife, também estavam no local.
Havia expectativa de que o presidente tivesse uma breve conversa no local antes de partir para os compromissos que marcou na cidade. E, assim que chegou à capital, o presidente foi encontrar-se com seus apoiadores, gerando aglomeração.
Falta de máscara e orquestra
O presidente, a primeira-dama Michele Bolsonaro, e grande parte da sua comitiva não usavam máscaras. Durante live realizada no perfil do deputado Alberto Feitosa, o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que a recepção "mostra a popularidade do presidente".
Michelle, em meio a bonecos gigantes de Olinda e por muito frevo, segurou uma sombrinha colorida nas mãos e chegou a arriscar alguns passos da dança típica da região. Além do grupo de frevo, que contava com dançarinas, a comitiva presidencial foi recepcionada pelo Maracatu Águia de Ouro, do município de Nazaré da Mata.
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Em seguida, Bolsonaro saiu acenando aos apoiadores e seguiu em carro aberto. Antes, pela manhã, ele havia passado pela Bahia antes de vir a Pernambuco, para formalizar contrato de concessão de um trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), em Tanhaçu.
Em terras pernambucanas, o primeiro compromisso do presidente e da primeira-dama foi uma visita às novas instalações da Escola de Formação de Luthier e Archetier da Orquestra Criança Cidadã, que fez uma apresentação durante a cerimônia, no Cabanga.
Esta foi a segunda apresentação do grupo para o presidente. Em 2019, a orquestra fez uma apresentação na chegada de Bolsonaro para a reunião do Conselho Deliberativo da Sudene com governadores do Nordeste, no Instituto Ricardo Brennand (IRB).
Bolsonaro não fez nenhum pronunciamento na cerimônia, apenas o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e o ministro do Turismo, Gilson Machado. "Nós temos mais de 60 novas orquestras sendo criadas hoje no Brasil. Eu tenho muita gratidão de estar aqui hoje com o presidente Bolsonaro. Me lembro de, em 2015, chegar aqui com ele e a gente penar para dar entrevista a uma rádio. E hoje ele chega como presidente da República, o melhor presidente que o Brasil já teve. Muita gente dizia que o presidente não gostava de Pernambuco, não gostava do Nordeste, não gostava do frevo nem do forro, mas o frevo foi reconduzido ontem como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil pelo Iphan. E o forró será até dezembro", destacou Machado.
Reunião com empresários em Boa Viagem
Saindo do Cabanga, o presidente seguiu para o bairro de Boa Viagem, Zona Sul, onde se encontrou com empresários locais no Mar Hotel. Em dois lados da Rua Barão de Souza Leão os apoiadores começaram a se concentrar bem antes da chegada de Bolsonaro e formaram filas gritando e comemorando as buzinas dos carros que passavam no local, com motoristas acenando favoráveis ao ato.
Ele acenou para os que o aguardavam, mas logo seguiu para a reunião. O presidente chegou e ficou em pé na porta do carro, cumprimentando os apoiadores sob forte esquema de segurança.
A fisioterapeuta e empresária Liliane Nóbrega, de 38 anos, aguardava o capitão da reserva e comentou a expectativa com a passagem de Bolsonaro por Pernambuco. "A expectativa é sensacional, estou vibrando com a alegria das pessoas aqui. Nossa bandeira sempre será amarela e verde. Tenho a perspectiva de que a população pernambucana está feliz porque temos um presidente de fato, que vem ver o povo, que está junto do povo, estou muito feliz de estar aqui, votei nele e batalhei muito para o País prosperar", argumentou ela.
Após a entrada de Bolsonaro para a reunião, seus apoiadores seguiram no local gritando "mito, mito" e "nossa bandeira jamais será vermelha". Porém, o clima que estava tranquilo contou com momentos de tensão, entre os apoiadores e as pessoas que começaram a passar nos ônibus, principalmente no período de pico. De dentro dos coletivos alguns gritavam "Lula 2022" ou acenavam com as mãos fazendo sinal de negativo para o evento de Bolsonaro. Os aliados do presidente rebatiam gritando "maconheiro", "vai para Cuba".
Arco Metropolitano e BR-232
Bolsonaro anunciou a um grupo de empresários a concessão da BR-232 no Estado, incluindo as obras do Arco Metropolitano. A informação foi antecipada ainda antes da reunião pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB).
Na ocasião, Bolsonaro recebeu das mãos de representantes da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) e da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic) uma carta que solicitava atenção em diversas frentes para auxiliar na dinamização da economia local. A BR-232 e o Arco Metropolitano estão entre os itens mencionados pelos empresários.
"Os estudos de viabilidade econômica foram concluídos essa semana e a concessão da 232 permite a inclusão do Arco Metropolitano. Essa é a melhor notícia que o presidente vai anunciar nesse encontro. Vai haver um chamamento público e a expectativa é que o contrato de concessão possa ser assinado já no primeiro semestre do ano que vem. É uma obra que estava parada, mas sempre foi sonhada, idealizada pelas forças políticas do Estado. Além dela, o presidente vai entregar a retomada das obras da Transnordestina, como também a maior obra hídrica do Estado, que é o Ramal do Agreste", detalhou FBC.
O Arco Metropolitano é uma obra de infraestrutura pensada para integrar cidades através de uma malha rodoviária na região. As obras, contudo, nunca foram adiante e estiveram sempre cercadas por polêmicas de cunho técnico e ambiental.
Ricardo Essinger, presidente da Fiepe, afirmou ao JC após o encontro que ficou bastante satisfeito com os anúncios feitos pelo presidente, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de questões políticas interferirem no andamento das ações que devem ser tocadas no Estado. "(O presidente) Falou de várias possibilidades de investimento. Reforçar a pista do aeroporto de Caruaru, com cooperação do governo federal, agora vai depender muito da cooperação da bancada e do governo estadual. Muita coisa o governo estadual pode atrapalhar, em vez de ajudar", pontuou.
Essinger também adiantou que, segundo a apresentação, os estudos de viabilidade do Arco Metropolitano devem sair até o mês de novembro. Durante o encontro, Bolsonaro ligou para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que estava em um voo. Os dois conversaram pelo viva-voz sobre algumas das pautas apresentadas pelos empresários.
"A resposta mais rápida será a da BR-104, que falta um trecho de 11 quilômetros para a conclusão; e a questão do acesso à Santa Cruz do Capibaribe. Acredito que até dezembro teremos um prazo definido para a BR-104. Do aeroporto de Caruaru, tem uma negociação que depende do Governo do Estado: o prazo até 2026, que a concessão é do Estado. O que está se trabalhando é para que o governo federal possa assumir. Isso foi colocado como necessário entendimento com o governo estadual", explicou Franco Vasconcelos, presidente do conselho da Acic.
Na carta apresentada pelos empresários, além dessa questão, há outros dez pontos que eles acreditam que merecem ser observados com atenção pelo governo federal para "mitigar os prejuízos acumulados pelas empresas locais, principalmente pelas micro e pequenas empresas do Estado" durante a pandemia, como a melhoria do acesso ao crédito para empresas que possuam dificuldades, a escolha de Pernambuco para a implantação na nova Escola de Sargentos do Exército, a conclusão do Ramal Suape da Ferrovia Transnordestina, a continuidade das obras do Canal do Sertão e da Adutora do Agreste.
O grupo multissetorial Atitude Pernambuco entregou uma segunda carta-manifesto ao presidente durante o evento no Recife, com pautas bastante similares ao do documento da Fiepe e da Acic. Neste documento, os empresários também solicitam que seja devolvida a autonomia do Porto de Suape, retirada pela União em 2013. O encontro com o presidente aconteceu meses após reunião do Atitude Pernambuco com o ministro Tarcísio Freitas.
"É necessário que todos os governantes participem da construção de consensos em torno de uma agenda propositiva que compreenda e promova o desenvolvimento econômico e social de cada uma de nossas regiões e que ao Nordeste seja dada uma atenção especial não apenas pelas demandas do nosso povo, mas também pela relevância da sua economia", diz o texto.
A saída da reunião de Bolsonaro foi marcada por buzinaço de motociclistas que acompanhavam sua comitiva e gritos de apoio dos aliados. Bolsonaro saiu e os manifestantes logo dispersaram. Muitos seguindo a comitiva do presidente, que se encaminhou para o Curado, Zona Oeste do Recife, onde Bolsonaro cumpre sua última agenda do dia.
Solenidade no Comando Militar do Nordeste
Por volta das 19h30, o presidente chegou ao Comando Militar do Nordeste (CMNE), no Curado, para prestigiar a passagem de cargo do novo comandante militar do Nordeste, do general Marco Antônio Freire Gomes para o general Richard Fernandez Nunes.
O marceneiro Wellington Alves, eleitor do militar da reserva, era um dos que aguardava Bolsonaro no Local. Ele relatou ter saído de sua casa, situada no bairro de Dois Carneiros, em Jaboatão dos Guararapes, e ter ido a pé, com uma bandeira do Brasil e uma bíblia, até o Comando Militar do Nordeste. O homem chegou ao local por volta do meio-dia, quando o presidente não tinha sequer desembarcado na capital pernambucana, e passou várias horas sozinho no local, sem mais nenhum outro apoiador de Bolsonaro como companhia.
Cláudia Leite, 44 anos, técnica de enfermagem saiu da Zona Norte da capital, mais especificamente do bairro da Guabiraba para ver Bolsonaro. "Minha expectativa é grande de aguardar Bolsonaro, estou com o coração ardendo de alegria, oro por ele e também torço pela reeleição", destacou.
Por volta das 19h30, mesmo após a chegada de Bolsonaro ao CMNE, ainda era pequena a movimentação de apoiadores do presidente na frente do quartel. Durante a solenidade, Bolsonaro não discursou. Ele deixou o Comando Militar do Nordeste às 21h40. Os eventos do presidente no Recife não foram abertos à imprensa.
Motociata
No sábado (4), após seguir de helicóptero do Recife para Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, o presidente participará de uma motociata com apoiadores. A previsão é que o grupo se reúna às 8h e siga até Caruaru, passando por Toritama. A dispersão está programada para ocorrer ao meio-dia.