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Lula encontra nos líderes europeus alguns aliados contra Bolsonaro

Passagem de Lula pela Alemanha, Bélgica, França e Espanha, em especial o encontro com o centrista Macron, pode beneficiá-lo internamente, segundo analistas, porque reforça sua abertura à centro-direita

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AFP

Publicado em 17/11/2021 às 19:44 | Atualizado em 17/11/2021 às 20:02
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou nos líderes europeus alguns aliados contra o atual presidente, Jair Bolsonaro, em uma turnê que pode ajudar a legitimar sua eventual candidatura à presidência contra um "pária" internacional, de acordo com analistas.

"Com esta viagem, Lula mostra que está voltando à 'Champions League' dos grandes dirigentes, onde esteve", afirma à AFP Gaspard Estrada, diretor executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe da Universidade Sciences Po.

Na Alemanha, ele se encontrou com o futuro chanceler Olaf Scholz. Na França, com o presidente Emmanuel Macron. E na Espanha, onde terminará sua viagem, anunciou uma reunião com o presidente do governo, Pedro Sánchez, que, segundo a imprensa espanhola, acontecerá na sexta-feira.

"O Brasil não se resume a seu atual governante. Essa é a razão da minha viagem. Recuperar a confiança no Brasil", escreveu no Twitter nesta quarta-feira (17) o ex-presidente, que não poupou críticas ao atual "isolamento" internacional da maior economia da América Latina.

"Lula quer fazer contraste com Bolsonaro, o pária do G20 em Roma, com quem ninguém fala", acrescenta Estrada, que também aponta a "exaustão" dos líderes europeus com o atual mandatário, que se alinhou com o ex-presidente americano Donald Trump.

Para Carlos Malamud, analista do Real Instituto Elcano, esse claro alinhamento com Trump provocou o esfriamento das relações com a Europa, ao retirar o apoio que o Brasil dava a questões sensíveis como as mudanças climáticas.

"O papel que Bolsonaro desempenha em alguns fóruns internacionais como o G20 recentemente ou a COP de Glasgow também é algo que leva os líderes europeus a apoiarem uma potencial mudança no Brasil", diz Malamud, que acredita que sua saída "facilitaria a relação euro-latino-americana".

O porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, no entanto, afastou qualquer vínculo entre a situação política no Brasil e o encontro com Macron, que abordou "assuntos absolutamente fundamentais" como as crises da covid-19 e climática. "Não há interferência", garantiu.

Porém, "receber com tapete vermelho alguém que não é presidente de nada, que é o ex-presidente, também é uma forma de pressionar o Bolsonaro", aponta Carlos Milani, ex-diplomata e atual professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Lula "realizou essa viagem ao exterior para mostrar o grande calcanhar de Aquiles de Bolsonaro: sua política externa", destaca Milani, lembrando que, embora a pandemia possa explicar em parte esse fenômeno, a participação internacional do Brasil está "muito aquém de seu status".

"Lula prepara o terreno para sua candidatura nas eleições presidenciais, mas vai além. (...) Tenho a impressão de que ele se apresenta inclusive como o legítimo presidente do Brasil atualmente", diz Frédéric Louault, professor da Universidade Livre de Bruxelas.

O político do Partido dos Trabalhadores (PT) pode, de fato, ser candidato após recuperar seus direitos políticos em março, com a anulação de suas condenações por corrupção, mas planeja anunciar no início de 2022 se irá concorrer.

Sua passagem pela Alemanha, Bélgica, França e Espanha, em especial o encontro com o centrista Macron, pode beneficiá-lo internamente, segundo analistas, porque reforça sua abertura à centro-direita.

"Lula terá que ir além das divisões partidárias para construir sua candidatura. Quando se tem legitimidade internacional, quando se tem apoio de chefes de Estado de todo o mundo, isso ajuda", explica Louault, destacando a "imagem positiva" de seu mandato no Brasil.

E essa "legitimidade" pode se tornar "decisiva" após as eleições, de acordo com Malamud, "caso o Bolsonaro tente, seguindo os passos de Trump, deslegitimar o processo eleitoral, dizer que houve fraude e que, portanto, ele não vai abrir mão do poder".


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