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Prefeito de cidade no Maranhão revela que pastor pediu 1 kg de ouro para liberar recursos do MEC

Líder religioso também teria pedido R$ 15 mil antecipados para protocolar as demandas da prefeitura

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AFP, Ana Maria Miranda

Publicado em 23/03/2022 às 9:30 | Atualizado em 23/03/2022 às 15:21
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O prefeito do município de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), disse que um dos pastores que negociam transferências de verbas do Governo Federal para prefeituras chegou a pedir 1 kg de ouro para fazer a liberação de recursos de obras de educação para o município. Atualmente, um quilo de ouro vale mais de R$ 300 mil.

De acordo com Braga, o pedido foi feito pelo pastor Arilton Moura em um restaurante de Brasília, onde outros políticos também estavam presentes, em abril de 2021, após uma reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro. O líder religioso também teria pedido R$ 15 mil antecipados para protocolar as demandas da prefeitura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

"O negócio estava tão normal lá que ele [Arilton] não pediu segredo, ele falou no meio de todo mundo. Inclusive, tinha outros prefeitos do Pará. Ele disse: "Olha, para esse daqui eu já mandei tantos milhões, para outro, tantos milhões", disse Braga, se referindo aos recursos do Ministério da Educação. O prefeito disse ainda não ter aceitado a proposta. 

Acusação de tráfico de influência

Vários parlamentares da oposição pediram nesta terça-feira (22) a abertura de uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Milton Ribeiro, por suposto tráfico de influência para favorecer aliados políticos de pastores evangélicos.

"Milton Ribeiro converteu o MEC num balcão de negócios para suas traficâncias rasteiras, negociando favores públicos à luz do dia", escreveu no Twitter o senador Fabiano Contarato (PT/ES).

"Pedirei hoje ao STF [Supremo Tribunal Federal] a imediata abertura de inquérito para apurar as gravíssimas denúncias que pesam contra o ministro", acrescentou.

O escândalo estourou quando a Folha de São Paulo revelou na noite de segunda-feira o conteúdo de um áudio em que Ribeiro, ele próprio pastor evangélico, garantia que, a pedido de Bolsonaro, daria prioridade à liberação de recursos para a Educação nos municípios liderados por "amigos" de dois influentes pastores.

"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", disse Ribeiro durante uma reunião em que teriam participado prefeitos e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que segundo o jornal teriam uma grande influência dentro do governo.

"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim", acrescentou o ministro.

As revelações causaram indignação e um grupo de deputados da oposição também pediu a abertura de um inquérito no STF.

Ribeiro negou as acusações de tráfico de influência e afirmou em nota que Bolsonaro "não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem".

Alegou ainda que "não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado".

Comentaristas políticos relataram que há pressão nos bastidores pela renúncia do ministro por parte de parlamentares aliados de Bolsonaro.

Milton Ribeiro, um teólogo, advogado e pastor de 63 anos, foi denunciado no final de janeiro pela Procuradoria-Geral da República por "homofobia", depois de ter dito em entrevista publicada em setembro de 2020 que adolescentes homossexuais vêm de "famílias desajustadas".

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