PRESIDENTE ELEITO

LULA no Egito? LULA na ONU? Entenda o destino do presidente eleito

Após passar alguns dias descansando na Bahia, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está sendo aguardado em Sharm El- Sheikh, no Egito

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Amanda Azevedo

Publicado em 06/11/2022 às 13:24 | Atualizado em 06/11/2022 às 14:34
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Com Estadão Conteúdo e AFP

Após passar alguns dias descansando na Bahia, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está sendo aguardado em Sharm El- Sheikh, no Egito, para participar da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), que começou neste domingo (6).

Na segunda-feira (7), e na terça (8), será realizada uma cúpula de líderes políticos com 125 participantes, segundo dados da presidência egípcia.

Embora não vá participar diretamente deste fórum reservado aos chefes de Estado em exercício, Lula confirmou que participará da COP 27, aceitando um convite feito pelo Egito.

"A importância da presença dele está na necessidade de catalisar as agendas ambiental e social", diz a ex-ministra do Meio Ambiente nas gestões petistas Izabella Teixeira - conselheira da COP-27. "Lula é uma voz estratégica."

A presença de Lula, porém, não apagará resultados negativos sucessivos nas taxas de desmate da Amazônia.

Hoje, o País é visto com desconfiança e repúdio internacional e do atual governo pouco ou nada se espera. Da futura gestão, o nome do próximo ministro e o detalhamento da política climática transversal podem surgir. E é esperado que o País tenha a partir de 2023 uma secretaria de mudanças climáticas.

COP 27 começa com guerra e financiamento travando os debates

Olhando para o copo meio cheio, a expectativa internacional é de que a COP 27 seja a COP da justiça climática e da implementação dos acordos, a hora de trocar a retórica pela ação. Olhando para o copo do jeito que realmente está, no entanto, apontam especialistas, deve ser uma COP marcada pelas consequências da Guerra na Ucrânia e pela trava no financiamento para a adaptação e a mitigação do aquecimento global nos países em desenvolvimento.

O conflito na Ucrânia fez com que o mundo ocidental impusesse bloqueios econômicos à Rússia, um dos maiores responsáveis pelo fornecimento de petróleo e gás para a Europa. O resultado foi a retomada da exploração de combustíveis fósseis no continente que liderava tradicionalmente a discussão sobre o uso de fontes renováveis.

Apesar de previsto desde 2015, pelo Acordo de Paris, o financiamento para os países em desenvolvimento nunca chegou ao nível mínimo de US$ 100 bilhões por ano como foi definido.

O último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no entanto, aponta que este valor nunca foi atingido. Em 2020, US$ 83,3 bilhões foram repassados por países desenvolvidos, valor 4% maior em relação a 2019, mobilizado principalmente por fundos públicos, mas ainda insuficiente para atingir o estipulado.

Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, colunista do Estadão, a retórica sobre os problemas relacionados ao clima e ao meio ambiente devem continuar e alguns acordos podem ser anunciados, mas não se pode esperar muito além. "Os US$ 100 bilhões nunca aconteceram e não devem acontecer agora", afirma.

Mas, se o aquecimento global é um problema que atinge a todos e não pode ser evitado sem que medidas drásticas como o corte de emissões de gases do efeito estufa sejam tomadas, por que essas questões não são resolvidas de uma vez?

Um dos problemas em relação à questão das perdas e danos, por exemplo, é que para as nações ricas isso corresponde a assumir um passivo histórico de emissões e estabelecer um compromisso financeiro com os países em desenvolvimento que elas tentam evitar.

Como a COP é, além da cúpula do clima, um tabuleiro geopolítico em que as nações se medem e tentam fazer valer interesses, é preciso muita negociação antes de um consenso. Assim, é importante saber como chegam os principais países para o encontro.

ESTADOS UNIDOS

Será a segunda COP do governo do democrata Joe Biden. Após comparecer à abertura da COP-26, na Escócia, e dizer em discurso que "Glasgow deve ser o pontapé inicial de uma década de ambição e inovação para preservar nosso futuro comum", no Egito os EUA devem cobrar dos países em desenvolvimento que apresentem metas claras sobre o que estão fazendo e tentar contornar o impulso ao uso dos combustíveis fósseis pós-invasão da Ucrânia, comandada pelo líder russo, Vladimir Putin.

Em setembro, na Assembleia-Geral da ONU, Biden afirmou que o governo americano tem liderado a agenda climática de forma "ousada", desde que tomou posse, e ressaltou os compromissos do país com o Acordo de Paris (do qual Donald Trump havia retirado os EUA) e o pacote contra inflação que incluiu pela primeira vez na história americana o compromisso de promover o uso de energia limpa.

Para quem espera que o país se comprometa com o financiamento climático, no entanto, o resultado pode ser frustrante. Dois dias após o início da COP, os americanos terão as eleições de meio de mandato. "Já está ocorrendo uma reação muito forte à agenda ESG com os republicanos. Há uma contradição entre a retórica e a prática", afirma Barbosa.

UE

O bloco europeu deverá chamar os cerca de 200 países que participam da COP a tomarem medidas urgentes para reduzir as emissões de gases geradores do efeito de estufa e respeitar os compromissos assumidos no Acordo de Paris e em Glasgow. No entanto, entre a Escócia e o Egito, a invasão da Ucrânia mudou o cenário no continente.

No primeiro semestre de 2022, o consumo de carvão na Europa aumentou cerca de 10% para suprir os cortes de fornecimento ao gás natural russo e deve continuar subindo. Na véspera do inverno no Hemisfério Norte, a ameaça de cortes de energia e racionamento segue rondando. Itália, Grécia, Alemanha, Holanda e Hungria fizeram anúncios que, de diferentes formas, incentivam o uso de carvão.

A questão do financiamento também não deve encontrar receptividade além da retórica no bloco, fustigado pelos efeitos da guerra. "Haverá uma dificuldade de levar a questão do financiamento adiante", diz Barbosa.

China

O maior emissor de dióxido de carbono do mundo chegará à COP com menos protagonismo e, novamente, em meio a disputas geopolíticas com os Estados Unidos. Dessa vez, a relação deve ser ainda mais complicada, fragilizada pelas recentes tensões causadas pelo apoio dos EUA a Taiwan, território reclamado pelos chineses.

Em Glasgow, a China se recusou a assinar o pacto pela eliminação do uso de carvão, o que não deve mudar neste ano, e não garantiu a entrada no pacto pela redução de emissão de metano. O anúncio conjunto com os EUA para aumentar suas ambições climáticas, no entanto, surpreendeu o mundo.

Neste ano, os observadores internacionais esperam que os chineses invistam mais na comunicação de avanços internos. O País que se comprometeu a atingir o pico de emissões até 2030 e neutralizá-las até 2060 desenvolve políticas verdes como o subsídio a fábricas de veículos elétricos e incentivos à transição energética.

 

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