Debate SJCC: analistas dizem que candidatos focaram mais na política e menos em propostas

Priscila Lapa e Terezinha Nunes participaram de live com Igor Maciel no YouTube do JC analisando o desempenho dos candidatos no debate do Recife

Publicado em 01/10/2024 às 23:01 | Atualizado em 01/10/2024 às 23:08

Após o debate do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação com os candidatos à prefeitura do Recife, a cientista política Priscila Lapa e a jornalista Terezinha Nunes participaram de uma live no JC Play, canal do Jornal do Commercio no YouTube, ao lado do jornalista Igor Maciel, analisando o desempenho dos postulantes no encontro.

Veja a análise na íntegra

Debate político

Priscila Lapa afirmou que imaginava uma abordagem maior dos opositores de João Campos à polêmica das creches. Na visão dela, o assunto norteou o período eleitoral e acabou sendo deixado de lado no debate.

"Só foi citado no início, achei que os outros candidatos poderiam explorar. Porque cada eleição tem seu plano de fundo e, no caso do Recife, a gente ficou tentando identificar qual seria a agenda dessa eleição. Quando veio o episódio da creche, esse virou o tema. Teve a questão institucional do Tribunal de Contas recepcionar e poder debruçar sobre o tema", apontou.

A cientista política afirmou que João Campos não foi constrangido pelos opositores. Na visão dela, nem o armamento da Guarda Municipal, tema também sensível para o prefeito, foi muito aproveitado pelos opositores. 

"Achava que no debate de hoje ia ser creche para todo lado, mas acho que a segurança pública teve mais destaque, e também não questionaram João sobre isso. Porque esse também parecia ser um tema sensível para o prefeito, que num primeiro momento dizia que era contrário, depois informou que seria um processo paulatino de militarização da guarda municipal, mas ele não foi constrangido, nenhuma pergunta para ele fortemente direcionada nesse sentido", apontou Priscila.

"É como se ele tivesse passado no teste desses dois temas que pareciam mais sensíveis. Até os próprios alagamentos, os morros, que foram temas explorados nos programas eleitorais, mas que no debate não apareceram", acrescentou.

Priscila Lapa afirmou que as críticas a João Campos foram marcadas por ataques à gestão do PSB na cidade do Recife. Ataques ao partido foram feitos por Gilson, Daniel e Tecio Teles (Novo).

"Talvez a estratégia tenha sido direcionada para desgastar a imagem política dele, o PSB, a gestão que continua, e não efetivamente esses temas. Talvez tenha sido um debate mais no campo político", analisou Priscila.

Para ela, o debate se mostrou importante para que os eleitores pudessem descobrir as narrativas de todos os candidatos.

"Agente tem as redes sociais ganhando muito protagonismo no processo político e o debate permite, por meio desse formato de réplicas e tréplicas, em que cada candidato organiza sua estrutura discursiva. A pessoa já escolheu seu candidato e quase não tem contato com o discurso dos outros, porque na rede social ele consome prioritariamente aquilo que lhe interessa. Então, no debate você tem a oportunidade de ver de forma mais organizada a estrutura narrativa de cada um. Não necessariamente reverte em intenção de voto, mas causa um efeito das pessoas entenderem qual é a narrativa da conjuntura política desse momento", concluiu.

Posições ideológicas claras

Para a jornalista Terezinha Nunes, o debate foi marcado pela tentativa dos candidatos de demonstrar fraquezas dos outros postulantes. Ela acredita que essa postura prejudicou a explanação de propostas para a cidade.

"A ansiedade de mostrar que o outro tinha defeito. ‘Ele é defeituoso’, aumentar a rejeição. Nesse momento as propostas foram prejudicadas, você não viu nenhum alinhamento de uma proposta bem fundamentada. Vi o Tecio Teles falar muito bem o conceito de Região Metropolitana, a própria Dani Portela mostrando a preocupação social dela, ela soube formular. Os outros eu acho que ficaram perdidos. João, acuado, porque não é brincadeira você ter quatro metralhadoras giratórias em cima dele. Evitou o confronto. Acho que Dani Portela se saiu melhor no debate", analisou.

Terezinha também afirmou que os campos ideológicos ficaram claros para os eleitores durante o debate. Nesse momento, ela excluiu João Campos da esquerda e colocou o atual prefeito no centro, ao lado de Daniel Coelho.

"Você viu a esquerda de Dani, a direita de Gilson e Tecio Teles, sendo um bolsonarista e outro com mais propostas conceituais, e João e Daniel no centro, no mesmo campo ideológico. Na hora em que Dani se apresentou como representante da esquerda, porque na verdade a estratégia dela é tomar votos de João Campos, deixaram o caminho do centro para João", apontou a jornalista.

Na visão de Terezinha, esse esclarecimento sobre o posicionamento ideológico dos candidatos pode mudar a eleição.

"Ficou muito clara a posição ideológica deles. Do ponto de vista da oposição, pelo que eu ouvi de Dani, de Daniel, o que interessaria a eles nesse momento é colocar rejeição em João Campos. E conseguiram isso na hora em que colocam João Campos com Paulo Câmara, com Geraldo Júlio, tudo junto, e também com o PT de João da Costa. Na hora que juntou isso, colocou uma certa rejeição. Daniel disse que ele foi chefe de gabinete de Paulo Câmara, ninguém lembra disso", lembrou Terezinha.

Ela também comentou uma interação curiosa entre Dani Portela e Daniel Coelho. Num momento em que a psolista provocou o candidato do PSD, ele se esquivou para evitar iniciar um embate direto.

"Para não criar desentendimento na oposição, porque era o fim da picada, né? Já estão lá embaixo e ainda se desentender no debate…", afirmou a jornalista. 

Assista ao debate do SJCC na íntegra

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