MÚSICA

Liniker dedica a Mirtes, mãe do menino Miguel, música gravada com Milton Nascimento: "Chorar a dor junto com ela"

Miguel morreu aos 5 anos de idade, ao cair do 9º andar de uma das torres gêmeas

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Romero Rafael

Publicado em 10/09/2021 às 19:11 | Atualizado em 22/08/2023 às 6:54
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Liniker lançou, nesta quinta-feira (9), seu primeiro disco solo, "Índigo Borboleta Anil", com 11 faixas. Entre elas, "Lalange", gravada junto com Milton Nascimento.

A canção reflete sobre a vida de crianças pretas no Brasil, a partir da história pessoal da artista e também da morte de Miguel, aos 5 anos de idade, no Recife, em 2 de junho de 2020.

"Lalange" chega exatamente um ano após Adriana Calcanhotto apresentar a música "Dois de Junho", que relata o triste episódio da morte do menino de sorriso largo, ocorrido na capital pernambucana.

A canção, aliás, foi gravada por Maria Bethânia e está em seu recém-lançado disco, "Noturno".

A letra de "Lalange" nasceu de um sonho de Liniker, que a levou de volta para a creche em que estudou, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, onde ela nasceu.

"Essa música é como se eu devolvesse algo para essa mãe [Mirtes Renata, mãe de Miguel]. Não é a mesma coisa que seu filho, mas é chorar a dor junto com ela", contou a artista em entrevista ao Terra.

No Instagram, Mirtes Renata compartilhou uma foto de Miguel com a música "Lalange" e escreveu: "Obrigada, Liniker e Milton Nascimento, por essa linda canção".

O caso Miguel

Miguel teve a vida interrompida ao cair do 9º andar de um prédio quando procurava pela mãe, Mirtes Renata, que trabalhava, mesmo durante a pandemia, como empregada doméstica de um apartamento no condomínio de luxo conhecido como torres gêmeas, na região central do Recife.

Mirtes havia descido para passear com o cachorro da patroa.

O caso, que suscitou questões racistas, segue sem resolução na Justiça. No entanto, Sari Côrte Real, que é indiciada por abandono de incapaz, será ouvida, dia 15 de setembro, na Vara da Infância.

Leia a letra de "Lalange":

Sonhei que voltei para minha creche, no Yolanda Ópice, em Araraquara
Estava com minha mãe e eu já era adulta
No sonho eu vi todas as crianças que estudaram comigo dentro do parque
Elas estavam divididas das pessoas por uma película
Quando vi que minhas amigas e amigos da creche estavam lá, comecei a procurar minha criança
Eu lembro que procurei todas as crianças carecas, porque assim eu achei que eu me encontraria mais rápido
Minha mãe esteve de mãos dadas comigo o tempo todo
Teve muita paciência esperando que eu me encontrasse, e me deu suporte
Todas as professoras me reconheceram adulta e olhavam com doçura e faziam o mesmo com a minha mãe
O sonho acabou e eu não encontrei a minha criança

De longe vela o sono de quem quer
Firula pelas horas da manhã
Quando anoitece quase quer chorar
Água dos olhos dela secou
Lalange carinho desenha a roupa
Chorando, menino queria voar
Saudade do colo, mainha cadê?
Parece um sonho, mas dói

De longe vela o sono de quem quer
Firula pelas horas da manhã
Quando anoitece quase quer chorar
Água dos olhos dela secou
Lalange carinho desenha a roupa
Chorando, menino queria voar
Saudade do colo, mainha cadê?
Parece um sonho, mas dói

De longe vela o sono de quem quer
Firula pelas horas da manhã
Quando anoitece quase quer chorar
Água dos olhos dela secou
Lalange carinho desenha a roupa
Chorando, menino queria voar
Saudade do colo, mainha cadê?
Parece um sonho, mas dói
Mas dói, mas dói, mas dói
Dói, dói, dói, dói

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