Conheça Gabriela Lins, a Girlboss pernambucana
Consumo consciente, moda e economia criativa: Os desafios de manter um brechó online
*Por: Gabriela Andrade e Maria Clara Batista
Assim como Sophia Marlowe, personagem da série Girlboss (Netflix), baseada na trajetória da americana homônima Amoruso, Gabriela Lins, 21 anos, decidiu montar um negócio de roupas na internet e aprendeu a ser sua própria chefe.
A pernambucana teve seu primeiro contato com o universo do brechó em 2017, vendendo desapegos em grupos do Facebook. Em 2018, migrou para o Instagram junto com mais três amigas (que não seguiram no empreendimento) e criou o Mood Brechó, que tem como filosofia promover autoestima para mulheres dentro das primícias da moda sustentável e economicamente acessível.
“Não vendo apenas roupas usadas, gosto de pensar que sou um canal para experiências, histórias, afeto, amor e humor'', disse Gabriela Lins. Além de fundadora, a jovem cuida da curadoria das peças, lavagem, fotos, modelagem, atendimento e criação de conteúdo.
Além das boas ideias, o momento também colaborou: os brechós estão em alta e caíram nas graças dos consumidores. Segundo a Revista Você S/A, estima-se que essa modalidade de venda pode ultrapassar o varejo tradicional em 2024. Já de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2019 o estimou-se a existência de 13 mil pequenos negócios no país focados na venda de produtos usados. Com mais de duas mil peças resgatadas e realizando envio para todo o Brasil, o Mood Brechó comprova que já passou o tempo de as lojas de roupas usadas serem sinônimo de produtos velhos, sujos e sem estilo.
Origem do termo Brechó
Segundo a Revista Você S/A, no início do século dezenove, um alfaiate português de nome Belchior abriu uma loja no Rio de Janeiro para comprar e vender produtos usados. A ideia fez sucesso e, assim, negócios do mesmo tipo foram surgindo com o nome de Loja de Belchior.
Então, com a evolução da língua portuguesa, a palavra Belchior se transformou em Brechó. Em outros países, o modelo se consolidou através dos chamados “mercados das pulgas”, que se espalharam pela Europa do século XIX e XX, devido às guerras e pobreza. Porém, nos antecessores dos brechós, se vendiam roupas usadas com baixa qualidade.
Jornada dupla: estudante x empreendedora
Para equilibrar os estudos em Serviço Social (cursando o quarto período atualmente) e administrar o Mood Brechó, Gabriela Lins destaca que seguir um planejamento prévio é essencial para fazer tudo funcionar. “Não é fácil, digo mesmo! Acredito que quando a gente gosta, mesmo estando cansada, faz o que dá. Um ponto muito importante para não se deixar afetar pela dualidade da rotina é ter planejamento de demandas; não faço tudo sempre na doida, se eu fizesse as produções sempre na correria, acho que não daria certo”.
Quando questionada sobre como se sente em ter 21 anos e ser sua própria chefe, a jovem explica que a autonomia de rotina e produtividade são fatores que a atraem no empreendedorismo: “Para empreender você não depende das premissas de uma instituição, você tem mais autonomia dos propósitos do trabalho que está desempenhando. Em relação à rotina, por exemplo, eu posso ir à praia e trabalhar de lá”. Porém, ela também destaca que se não for equilibrada, a facilidade concedida pelo empreendedorismo pode ser maléfica: "Às vezes você acaba extrapolando o tempo de trabalho ideal para o seu dia. Já perdi as contas de quantas madrugadas já passei fazendo as coisas relacionadas ao brechó, principalmente no pré delivery.
Escolha do nome Mood
Gabriela Lins destaca que o objetivo principal do brechó idealizado por ela, é de levar felicidade para as clientes. “O Mood ser um canal para o humor baseado no fortalecimento da autoestima faz parte da filosofia que eu escolhi, antes mesmo do nome. Então, a palavra mais próxima que eu encontrei disso tudo foi Mood (humor em inglês), casou muito bem”. E como boa marketeira que é, a jovem buscou por um nome compacto, de fácil memorização.
Realização de um sonho
Fazendo uma recapitulação de 2017 até o presente momento, a proprietária do brechó virtual diz se sentir bastante privilegiada: “O Mood é uma ferramenta que mostra que eu sou capaz. Sempre tentei executar vários projetos na minha vida, desde o colégio, mas nunca tinha obtido êxito de fato. Me sinto realizada obtendo uma grande quantidade de feedback em relação ao meu projeto”. Ela também afirma ser grata em saber que mulheres reais estão espalhadas pelo Brasil vestindo algo que passou pelas suas mãos.
O digital é a única opção?
Quando questionada sobre o que é preciso para manter um negócio com atuação no meio digital, a dona do Mood Brechó é incisiva:“Atualização sempre. No que se refere ao que está na moda, como por exemplo o TikTok . Atualização sobre o que está na boca do povo e do seu público alvo. É necessário estar antenada para que você ofereça um produto e um conteúdo que realmente se conectem com as demandas que estão em alta no momento. Também é necessário transparência, principalmente no campo da moda sustentável, além de identidade, não adianta criar um negócio que não tenha a ver com você, isso acaba criando uma instabilidade na conversa com o público e a loja pode ‘quebrar’ cedo.”
Quanto à identidade visual do mood e se há necessidade de possuir conhecimento nas áreas de design gráfico e marketing digital para empreender no Instagram, Gabriela Lins responde que a identidade do mood surgiu de acordo com o seu próprio gosto.
“Em relação a estudar, hoje em dia eu não tenho muito tempo para pesquisar sobre (design, marketing). Nunca fiz nenhum curso relacionado a marketing, mas gostaria de fazer algum dia. Acredito que não seja obrigatório fazer algum curso para empreender, mas há uma diferença em se educar sobre o que você está fazendo. Cheguei a estudar com uma mentora (Kalindy Rodrigues, Isntagram: @brechonossodecadadia) que também tem um negócio no Instagram e, além disso, costumo ver alguns vídeos sobre o assunto no YouTube, também digo que todo aprendizado vem da prática.”
Com a filosofia do seu negócio pautada em fazer a moda, além de sustentável, ser também acessível e cooperar para a autoestima de mulheres, Gabriela Lins acredita na Moda como grande ferramenta de autoestima, pois, através dela, as mulheres podem vestir algo, se olharem no espelho e se sentirem bem. Contudo, a proprietária do Mood Brechó reconhece que a Moda também podem agir contra esses princípios.
Questionada se negócios ainda podem ter grande sucesso sem presença nas redes, Gabriela Lins afirma que sim, acredita, mas com ressalvas: “é muito difícil obter sucesso nas vendas se você não estiver no digital. As pessoas hoje estão no meio digital, é muito difícil encontrar alguém que nunca tenha comprado algo online ou que prefira se deslocar para comprar presencialmente ao invés de online, seja qual for o produto. Hoje em dia o mundo é digital. Se você não se atualizar, infelizmente, você fica para trás”.