Dona do TikTok lança lâmpada inteligente que ‘ajuda’ a educar crianças
Luminária com duas câmeras e inteligência artificial monitora e ajuda estudantes para garantir que estão fazendo a lição. O dispositivo é um sucesso, mas desperta dúvidas com relação à privacidade. Leia a opinião de Guilherme Ravache
Se você está com seu filho em casa durante o lockdown com as escolas fechadas e se divide entre suas tarefas do dia a dia e acompanhar o aprendizado do seu filho, já deve ter se dado conta que o desafio não é pequeno.
Pensando nisso, a Bytedance, gigante de tecnologia chinesa dona da rede social de vídeos TikTok, lançou um dispositivo que promete resolver esse problema de uma maneira inovadora.
Os pais na China estão correndo para comprar uma lâmpada inteligente de R$ 600, equipada com câmeras de vigilância para ajudá-los a ficar de olho em seus filhos enquanto fazem o dever de casa, conta Liza Lin no The Wall Street Journal.
Com o nome de Dali Smart, a lâmpada vem com duas câmeras: uma montada na frente e outra na parte superior. Ela pode ser conectada ao smartphone dos pais, permitindo que os responsáveis vejam o rosto de seus filhos e seus deveres de casa durante uma conversa por vídeo. Uma tela do tamanho de um iPhone na lâmpada permite que as crianças conversem por vídeo com os pais ou professores. A lâmpada também tem um assistente digital alimentado por inteligência artificial para ajudar com problemas de vocabulário e matemática.
A lâmpada foi projetada para permitir que pais ocupados continuem envolvidos nos estudos de seus filhos, afirma a Bytedance.
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Uma versão um pouco mais cara da lâmpada, que custa R$ 860, pode inclusive mandar alertas para os pais dos jovens quando eles deixam de prestar atenção na lição.
A ByteDance vendeu mais de 10.000 lâmpadas em um mês após o lançamento, em outubro de 2020, e os produtos receberam avaliações "extremamente positivas" nas redes sociais chinesas, de acordo com o WSJ. A ByteDance tem vendido R$ 7,5 milhões em lâmpadas inteligentes todos os meses no Tmall, o site de comércio eletrônico chinês operado pelo Alibaba, de acordo com o SupChina, um site de notícias com sede em Nova York e com foco na China.
Questão de privacidade
Obviamente, uma lâmpada que monitora crianças traz grandes questões. Primeiramente, colocar mais uma tela em frente delas talvez as torne ainda mais dependentes da tecnologia e as induza a buscar respostas fáceis.
Existe ainda a questão da privacidade. O equipamento pode ser hackeado e o pequeno ter sua vida monitorada por um estranho. São notórios os casos de eletrônicos com falhas de segurança. Há também o fato da própria Bytedance reter as informações de milhares de crianças.
A lâmpada permite ainda que as crianças façam upload de vídeos. A Bytedance garante que somente imagens das lições podem ser enviadas por meio do dispositivo. Vale notar que o próprio governo da China tem pressionado gigantes chinesas de tecnologia a melhorarem suas políticas de privacidade. A Bytedance, atualmente avaliada em mais de R$ 1,25 trilhão, é uma das empresas na mira das autoridades do país.
Notoriamente, na China a população é culturalmente mais aberta às câmeras e supervisão externa. Isso ajuda a explicar o sucesso da lâmpada no país. Mas se o dispositivo de fato mostrar bons resultados ajudando as crianças a terem melhores notas, certamente a novidade ganhará outros mercados.
Vale lembrar que mesmo com muita polêmica em torno da falta de privacidade do TikTok, o aplicativo não para de crescer no mundo, particularmente entre a população mais jovem.
Mas uma questão tão pertinente quanto a segurança é de que maneira os pais vão construir uma relação de confiança com as crianças. E em que medida usar dispositivos digitais não irá afastar os pais e responsáveis ainda mais dos filhos.
É pouco provável que a tendência de digitalização do ensino, acelerada durante a pandemia, seja revertida em curto e médio prazos. Se as aulas por Zoom vieram para ficar, não seria estranho imaginar que acompanhar o aprendizado das crianças usando câmeras e inteligência artificial seja um passo natural.
O próprio Zoom no passado já tentou implementar ferramentas de leitura de expressão facial para avaliar o engajamento dos participantes em reuniões virtuais, e cancelou o desenvolvimento da tecnologia por reclamações em torno da privacidade.
Mas há anos a China usa câmeras e software de leitura de expressões faciais para ler as emoções dos estudantes em sala de aula e ajudar a melhorar a performance deles (e também controlar melhor a população, diz a oposição).
Goste ou não da ideia de lâmpadas que monitoram os estudantes, o fato é que há poucos dias os chineses aterrissaram um rover em Marte. Somente a China e os Estados Unidos já realizaram tamanho feito científico.