INVESTIGAÇÃO

Xiaomi é alvo de investigações na Europa; entenda o motivo

A Xiaomi foi a marca mais vendida na Europa no último trimestre

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JC

Publicado em 06/10/2021 às 10:42 | Atualizado em 06/10/2021 às 11:33
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Com informações do El País

A tecnologia chinesa vem sendo alvo de investigações na Europa. No fim de setembro, o Ministério de Defesa da Lituânia publicou um relatório no qual recomenda que os cidadãos parem de utilizar determinados modelos de celulares chineses. Pouco tempo depois, e sem explicar o porquê, foi a vez da Alemanha abrir uma investigação focada na chinesa Xiaomi, a mais vendida na Europa no último trimestre. O motivo da averiguação, no entanto, é bem mais amplo e envolve suposta detecção de censura em aplicativos que vêm pré-instalados nos aparelhos.

De acordo com o relatório da Lituânia, existe uma lista de 449 palavras em caracteres chineses, a maioria com conotação política, que são bloqueadas pelos dispositivos. Dentre elas, estão os termos “Tibete livre”, “Movimento democrático 89″, ”Viva Taiwan livre”, entre outros. O que mais chamou a atenção, no entanto, é que alguns nomes de grupos terroristas também estavam na lista.  

Após este primeiro comunicado, o ministério lituano publicou um anexo com outras palavras descobertas. Desta vez, com termos como pornô, pornôs, porn, anal impaler, handjob, underage, hooker, hot video, clitoris, vaginas, fucker – além das palavras Dalai Lama, marxista e extremismo. Nesta lista, algumas palavras já estavam no inglês ou no espanhol. Ao todo, são 1.376 termos.

Apesar da divulgação da lista de palavras, o relatório publicado pela Lituânia não traz muitas provas, mas mostra que os termos seriam utilizados para filtrar conteúdos. “Acredita-se que esta função permita a um aparelho Xiaomi realizar uma análise do conteúdo multimídia que entra no telefone do alvo, e depois procurar palavras-chaves baseadas nesta lista enviada para o servidor”, revela o relatório.

Desta forma, as palavras filtradas não são mostradas ao usuário. O problema é que a função já vem ativada pelo fabricante, sem que o usuário necessariamente concorde. De acordo com a Lituânia, esta função foi desativada na União Europeia.

"Em muitos celulares há um software pré-instalado que foi desenvolvido por várias organizações com a capacidade de baixar algo de forma silenciosa, de espionagem a trojans”, explicou o pesquisador Narseo Vallina, da Imdea Networks. Vallina é coautor de uma investigação sobre estes aplicativos pré-instalados. “Se algum agente da cadeia de suprimentos for comprometido, ou facilitar o acesso a agentes maliciosos, nossos aparelhos poderiam ser afetados”, acrescenta.

De modo prático, tais informações demonstram a capacidade do celular colher dados sobre o usuário, sem sua permissão. 

“O conceito de ‘instalado de fábrica’ não existe a partir do momento em que as atualizações ocorrem continuamente, desde o momento em que você liga o telefone pela primeira vez”, explica Juan Tapiador, catedrático da Universidade Carlos III de Madri. “É possível também segmentar os usuários e fazer instalações particulares para grupos deles. Por exemplo, por modelo de aparelho ou por localização geográfica, o que complica ainda mais poder falar sobre o que vem instalado de fábrica num mesmo modelo de aparelho.”

Ao El País, a Xiaomi afirmou que “cumpre integralmente todos os requisitos do Regulamento de Proteção de Dados” da União Europeia e que seus dispositivos “não restringem ou filtram as comunicações de ou para nossos usuários“. Sobre a pesquisa da Lituânia e as afirmações sobre os aplicativos pré-instalados, um porta-voz da empresa informou que não tinha o que dizer.

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