Estiagens prolongadas, inundações e outros fenômenos extremos indicam que mudanças climáticas estão em curso na Terra. Dessas evidências, referendadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), vinculado à ONU, ninguém duvida. O que pouca gente sabe é que o clima também interfere na saúde mental das pessoas. Uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está medindo a que ponto chegam os prejuízos.
O projeto, coordenado pelo professor de psiquiatria Marco Aurélio Romano-Silva, foi apresentado semana passada, em Brasília, durante o 32º Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Desde o fim de 2013, ele e outros pesquisadores estão acompanhando os efeitos do aquecimento global sobre a saúde de mil crianças e jovens de 6 a 18 anos, residentes no Norte de Minas Gerais, região com clima semelhante ao do sertão nordestino, e no Sul, onde há inundações recorrentes. “Os grupos mais vulneráveis são os pobres, os idosos e as crianças, porque ficarão expostas por mais tempo às alterações climáticas”, explica. Além do grupo que sofre o impacto direto das fenômenos, os pesquisadores vão avaliar o efeito sobre crianças que só conhecem esses desastres pela televisão. “Após os atentados de 11 de setembro de 2001, muitas crianças americanas desenvolveram estresse pós-traumático”, informa.
O levantamento deve durar três anos, mas os psiquiatras já adiantam que os fenômenos extremos estão aumentando a incidência de transtornos mentais e sociais, incluindo estresse pós-traumático, abuso de drogas, suicídio e violência.