A pesca irregular, a pressão do turismo imobiliário e o crescimento desordenado de cidades costeiras estão ameaçando o futuro de um grande patrimônio natural do Brasil: os belos e frágeis recifes de coral. Para garantir que as gerações futuras possam desfrutar da biodiversidade desses ecossistemas, foi lançado ontem, em Tamandaré, Litoral Sul, o Projeto TerraMar, acordo de cooperação técnica entre Brasil e Alemanha com investimento de 11 milhões de euros (R$ 42 milhões) até 2020 para proteger a APA Costa dos Corais, de Pernambuco a Alagoas, e o arquipélago de Abrolhos, entre a Bahia e Espírito Santo.
“Vamos discutir com os Estados e a sociedade como os recursos serão aplicados, nas oficinas realizadas assim que recebermos o sinal verde do governo alemão”, informou o diretor do Departamento de Zoneamento Territorial do Ministério do Meio Ambiente, Adalberto Eberhard. Ele esclareceu que os 6 milhões de euros da Alemanha (o restante é contrapartida do Brasil) não serão repassados ao governo brasileiro, mas operados pela Agência de Cooperação Internacional alemã (GIZ). “As oficinas desenham o plano e a GIZ aplica os recursos. Isso evitará burocracia e dará mais transparência ao processo”, acredita.
Antes da apresentação oficial do projeto - cuja finalidade é o ordenamento do território continental e marinho, tendo como âncora as unidades de conservação -, a chefe do Departamento de Assuntos Internacionais de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente alemão, Almuth Ostermeyer-Schloeder, fez um passeio de catamarã pela Praia dos Carneiros até a foz do Rio Arinquidá para conhecer parte da área alvo do projeto.
“Tenho certeza de que a ministra (do meio ambiente da Alemanha, que não pôde vir) iria ficar encantada com a beleza desse litoral”, comentou Almuth Ostermeyer-Schloeder. Ela ressaltou que os dois países podem alcançar, juntos, as metas acordadas internacionalmente. “Queremos proteger 10% da área costeira (do Brasil) até 2020. Atualmente, só 3% estão sob proteção.” O litoral brasileiro tem 8,5 mil quilômetros de extensão.
A autoridade alemã confirmou que os recursos (ultrapassadas algumas exigências diplomáticas) já estão a disposição do País para formação de profissionais, elaboração de projetos e monitoramento da biodiversidade. “Estamos ansiosos para ver os resultados dessa experiência e esperamos que sirva de exemplo para outras partes do mundo”, disse.
O presidente do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Claudio Maretti, lembrou que Brasil e Alemanha já são parceiros há mais de três décadas na busca por fontes de energias renováveis e proteção das florestas. Ele enfatizou que o projeto só terá êxito se envolver todas as esferas de governo e a sociedade.
Há muito trabalho pela frente para salvaguardar os recifes de coral. O biólogo e oceanógrafo Clemente Coelho Júnior denuncia que há uma grande pressão para transformar o manguezal em fazenda de camarão. “Já existem três no estuário do Rio Formoso”, revela. Outro problema grave é o uso de apetrechos de pesca que causam grandes prejuízos.
O biólogo conta que alguns pescadores usam água sanitária para pegar polvo. “Onde esse produto é aplicado, não nasce mais nada”, alerta. As redes de malha fina e as redinhas para capturar caranguejos também não são seletivas e acabam pescando animais em fase de reprodução. “Enquanto essa área estiver preservada, as espécies também estarão. Mas há muita pressão no ambiente”, finaliza.