CONSERVAÇÃO

Nova serpente é descoberta na mata de Dois Irmãos

Espécie quase desconhecida foi encontrada por um grupos de estudantes de biologia da UFRPE

Claudia Parente
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Claudia Parente
Publicado em 06/09/2015 às 8:02
Vanessa Nascimento/Divulgação
Espécie quase desconhecida foi encontrada por um grupos de estudantes de biologia da UFRPE - FOTO: Vanessa Nascimento/Divulgação
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Ampliado recentemente pelo governo do Estado, o Parque Estadual Dois Irmãos, Zona Norte, ainda tem muitos tesouros ocultos aos olhos do público. Um deles foi revelado por um grupo de formandos em ciências biológicas na Universidade Federal Rural (UFRPE), que está pesquisando a diversidade dessa unidade de conservação, onde fica o único zoológico do Recife. Para além das cobras mantidas em cativeiro, há uma serpente pouco conhecida, vivendo livremente no que restou da mata atlântica.

A Dendrophidion atlantica (Freire, Caramaschi & Gonçalves), encontrada pelo grupo em abril, foi registrada pela primeira vez em 2010, em Alagoas. A descrição (no mesmo ano, na revista científica Zootaxa) indica que a espécie ainda não era conhecida no mundo. Agora, graças ao trabalho dos estudantes, ela também faz parte da herpetofauna pernambucana.

“Essa descoberta mostra a riqueza da mata do parque. Apesar de ser um fragmento de floresta atlântica em meio urbano, ela tem um grande potencial biológico, onde é possível registrar a ocorrência de novas espécies”, diz a estudante Vanessa Nascimento, responsável pelo achado ao lado dos colegas Amanda Batista, Jéssica Amaral, Priscila Silva, Catarina Siqueira, Emerson Gonçalves e Luís Felipe Lima.

Os primeiros exemplares encontrados foram um macho medindo 93 centímetros e pesando 64 gramas e uma fêmea com 75 cm e 23 gramas. O réptil é semiarborícola (fica tanto em árvore quanto no solo) e não peçonhento. “Não sabemos quase nada sobre essa espécie: quanto tempo vive, como se reproduz nem como se alimenta”, ressalta a coordenadora do Laboratório de Herpetofauna da UFRPE, Ednilza Maranhão. 

Ela enfatiza a importância da descoberta, argumentando que pesquisar serpentes é uma tarefa árdua, que requer horas no campo. “Por isso, temos poucas informações sobre esses animais no Brasil.” E complementa, dizendo que a descoberta é um estímulo para preservar a mata de Dois Irmãos. “Como vamos pensar em uma política para essa área se não conhecemos o que ela possui?”, alega, lembrando que a área vem sendo invadida.

Os estudantes já encontraram quatro exemplares da serpente. Todos foram marcados com cortes nas escamas ventrais (parte do animal em contato com o chão) para não serem confundidos com outros e soltos novamente na mata. Ao fim da pesquisa, o grupo vai fazer um inventário de répteis e anfíbios, contribuindo com o plano de manejo do parque. “Também vamos produzir um guia para a conservação das espécies, que poderá ser usado como ferramenta para educação ambiental”, adianta Vanessa.

O Parque Dois Irmãos tem área de 1.157,72 hectares. Numa área de 5 km, os estudantes já encontraram 16 espécies de serpentes e várias de anfíbios. Esse estudo faz parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), núcleo Mata Atlântica (PE). Começou em outubro de 2014 e será concluído em 2017. O artigo com a descoberta foi aceito pela revista científica Herpetological Review e deve ser publicado ainda este ano.

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