Aos 16 anos, Roselane e Marciellen expressam realidades extremas da educação brasileira. Numa ponta, o fracasso da garantia constitucional do acesso à escola. Na outra, a aposta no ensino público de qualidade. Grávida do segundo filho, Roselane Santana está longe da sala de aula há mais de quatro anos. Não sabe ler e mal escreve o próprio nome. Parou no 3º ano do ensino fundamental. Ela faz parte de um contingente que, em Pernambuco, representa 131 mil crianças e jovens de 4 a 17 anos que estão fora da escola. Marciellen Souza está no último ano do ensino médio. Quer ser arquiteta. Estuda num colégio integral de referência. Faz parte de uma geração que vem conseguindo melhorar as taxas de aprovação e de desempenho escolar. Com trajetórias tão distintas, as adolescentes retratam os desafios de uma educação que fracassou na meta da universalização do ensino, mas que, aos poucos e muito aquém das necessidades, apresenta avanços.
No Brasil, o universo de crianças e jovens longe da escola chega a 2,5 milhões de pessoas. O levantamento foi feito pelo Movimento Todos pela Educação, a partir do monitoramento de metas estabelecidas pela instituição para melhorar a qualidade da educação básica no País. Com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), a organização não governamental traçou um comparativo de indicadores educacionais, entre os anos de 2005 e 2015. Os números mostram que a situação mais crítica de jovens fora da sala de aula é na faixa etária de 15 a 17 anos. No País, esse universo chega a quase um milhão de pessoas. Em Pernambuco, ainda representa 91 mil jovens sem estudar.
A presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz que o levantamento revela uma situação grave de exclusão escolar. “Infelizmente, o Brasil perdeu o vigor da expansão das matrículas. Não estamos conseguindo ampliar o universo de estudantes e colocar na escola a criança e o jovem mais pobre e com alguma deficiência, justamente o perfil que mais precisa de educação”, avalia. Priscila defende que a sociedade precisa se indignar com essa realidade. “A meta constitucional para 2016 era de 100% dessa população (de 4 a 17 anos) na escola. Não só não vamos conseguir alcançá-la, como também não estamos fazendo os esforços suficientes para mudar esse cenário”, avalia.
Moradora da Comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, Jaqueline Taimara do Nascimento sabe bem o que a distância da escola representa. Aos 19 anos, ela não trabalha nem estuda. Deixou a sala de aula desde os 16 anos. Até se matriculava, mas não frequentava. “Sei que isso é ruim para o meu futuro. Quero trabalhar, mas sem estudo não vou conseguir emprego. Quero voltar, mas não é fácil. São muitos anos fora da escola”, diz. No Brasil, quase 500 milhões de jovens na mesma idade de Jaqueline não conseguiram concluir o ensino médio e também estão fora do mercado de trabalho.
TAXA DE APROVAÇÃO
O levantamento traz uma boa notícia para a educação em Pernambuco. Dentro da meta de garantir a conclusão do ensino médio para todos os jovens com até 19 anos, o Estado apresentou a maior taxa do País de aprovação do ensino médio. Pernambuco atingiu o índice de 88,8%, seguido por São Paulo (87,5%) e Goiás (85,7%).
Na avaliação da presidente-executiva do Todos Pela Educação, o resultado tem relação direta com a adoção das escolas de ensino integral. “O modelo tem se mostrado positivo tanto em relação ao aumento do tempo de estudo como da qualificação dessa educação”, observa Priscila Cruz.
Alunas do Ginásio Pernambucano, Marciellen e Ariane Tavares, 16, estão no último ano do ensino médio. As jovens dizem que a dupla jornada escolar tem feito a diferença no aprendizado. “A gente se sente mais confiante e tranquila por saber que estamos nos dedicando em tempo integral”, diz Marciellen. “Acho que essa preparação vai nos ajudar não só no Enem, como também em outras avaliações que teremos que enfrentar após o ensino médio”, reforça Ariane.