Alheios ao sol quente, alunos de uma turma do 9º ano do ensino fundamental jogam futebol no espaço que deveria ser uma quadra coberta, na Escola Estadual João Barbalho, localizada em Santo Amaro, área central do Recife. A cena se repete na Escola Estadual Pedro Celso, no bairro de Beberibe, Zona Norte, com estudantes do 1º ano do ensino médio. As duas unidades de ensino integram uma lista de 14 colégios da capital que o governo de Pernambuco anunciou, em janeiro, que teriam as quadras reformadas e cobertas em uma prazo de 180 dias. Passados quatro meses, a promessa dificilmente será cumprida. Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) em pelo menos seis unidades os serviços nem começaram.
Na frente da João Barbalho, uma placa informa que a obra para cobrir e reformar a quadra começaria em 30 de dezembro do ano passado, antes mesmo do anúncio feito pelo governador Paulo Câmara, em 11 de janeiro, numa solenidade na Escola Técnica Cícero Dias, em Boa Viagem. Ao custo de R$ 303.871,63, com verbas estadual e federal, a previsão era de que o serviço terminasse em 29 de março. “Não foi feito nada. Já procurei a GRE (Gerência Regional de Educação) para saber o que houve, mas não tive resposta”, conta o diretor do colégio, Natanael José da Silva.
Improviso é o que se vê na área que chamam de quadra. O piso, de cimento, já provocou vários ferimentos nos pés e pernas dos adolescentes. A rede de vôlei é amarrada num poste de um lado e na grade da janela de uma sala do outro lado. O que deveria ser uma tabela de basquete hoje é um ferro retorcido no canto do prédio. As barras de futebol estão enferrujadas. “A dificuldade para dar aula é grande, pois a estrutura não ajuda. Eu compro bola e trago porque não tem material”, relata o professor de educação física Cláudio Fernandes.
Aluno do 9º ano, Cauã Eller, 13 anos, reclama do calor. “A aula é no sol quente. E com esse piso da quadra a gente sempre se machuca. Fiquei animado quando soube que a quadra seria reformada. Mas é meu último ano na escola e acho que não vou aproveitar, se fizerem mesmo a obra”, lamenta o rapaz. “Nem sempre eu faço a aula por causa do sol. E a areia gruda no pé, é muito ruim”, conta Edwiges Ferreira, 14, da mesma série.
IMPROVISO
A Escola Pedro Celso soma quase 1.900 alunos, do 9º ano do ensino fundamental ao último ano do ensino médio. A quadra descoberta não impede que os estudantes joguem futebol no calor das 10h. “É o único jeito. Além do piso ruim, só tem uma bola de basquete para jogarmos futebol. Deveria ter também um vestiário”, sugere Igor Matheus Costa, 15, aluno do 1º ano. Para amenizar o calor e lavar o rosto antes de retomar as aulas, os jovens usam uma torneira que fica ao lado da quadra.
O professor de educação física Henrique Coelho diz que as condições não são ideais. “Há alunos que não querem fazer a aula por causa do sol. Não posso obrigar”, comenta. Ele afirma que existe apenas uma bola de basquete na escola, o que inviabiliza a possibilidade de diversificar as atividades. A diretora, Sandra Serafim, garante que há mais material. “Tem bola de vôlei e de futebol de salão, rede, cones”, assegura Sandra.
Ela lamenta que a obra da quadra não tenha saído do papel. “Fiz uma reunião com os pais para contar que a quadra seria reformada. Veio um engenheiro na escola e prometeu que no fim de março ou começo de abril teria início o serviço. Até agora, nada”, explica Sandra. “Minha preocupação é que a coisa não aconteça. É uma pena, pois é da a aula de educação física que a maioria mais gosta”, enfatiza a gestora.
Nas Escolas Estaduais Alberto Torres e Presidente Humberto Castelo Branco, unidades vizinhas no bairro de Tejipió, as obras começaram. “Inicialmente seria feita apenas a coberta da quadra. Depois, o serviço foi ampliado e haverá melhoria na estrutura também”, relata a diretora da Alberto Torres, Girselha Queiroz. O colégio tem 1.120 alunos em três turnos. “Vamos aproveitar a quadra para praticar esportes e também para fazer eventos”, comemora Ruan Ribeiro, 15, aluno do 1º ano, já planejando a realização de ensaios de quadrilhas juninas no local.