EDUCAÇÃO

Dia dos Professores: Alexandre trocou o sonho de ser jornalista pela sala de aula

Na segunda reportagem que marca o Dia dos Professores, o exemplo de que é possível ser um grande mestre apesar da pouca idade

AMANDA RAINHERI
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AMANDA RAINHERI
Publicado em 15/10/2018 às 8:02
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Na segunda reportagem que marca o Dia dos Professores, o exemplo de que é possível ser um grande mestre apesar da pouca idade - FOTO: Foto: Diego Nigro/ JC Imagem
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À primeira vista, é possível confundir Alexandre Amorim, 32 anos, com um dos estudantes da Escola de Referência de Ensino Médio (Erem) de Paulista, no Grande Recife, onde leciona desde o ano passado. Professor desde os 21, quando concluiu a graduação em língua portuguesa, ele faz parte de um grupo cada vez menor de jovens que escolhem as salas de aula para fazer carreira. Mas o sonho nem sempre foi ensinar. Apaixonado por ler e escrever, Alexandre queria ser jornalista. Em 2005, quando ingressou no ensino superior em uma instituição privada no Recife, a família só podia pagar pelo curso de licenciatura em português. Somente no ano da formatura, Alexandre conseguiu ingressar no curso de comunicação social. Chegou a trabalhar durante um ano em uma assessoria de imprensa, mas decidiu que sua missão estava nas escolas.

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“Eu encontrei o meu lugar no mundo. Sinto que sou importante quando faço meu trabalho. Olho para o País, para o bairro onde vivo e vejo muitos problemas. Lá fora, eu não consigo alcançar esses jovens, mas na sala de aula eu posso estar perto. Assim, sinto que posso plantar sementes que terminam mudando a realidade”, conta. No Brasil, segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), apenas 1,62% dos jovens deixam o ensino médio com conhecimentos em língua portuguesa classificados como adequados pelo Ministério da Educação (MEC). O problema tem origem na falta de leitura: a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, aponta que 44% da população brasileira não tem o hábito de ler. “Os jovens leem muito em redes sociais, mas é uma leitura superficial. O que tento fazer é quebrar a barreira que existe entre eles e os livros”, afirma Alexandre.

O professor, que já enfrentou problemas em sala de aula por ser muito jovem, fez da pouca idade uma vantagem nesse processo. “No início era difícil, porque os alunos não associam liderança à imagem de alguém muito novo. Hoje a idade não é mais problema, porque sei que o respeito que dou a eles volta para mim. Por outro lado, existem as vantagens. Eu assisto a séries, filmes e frequento lugares de que eles gostam. Isso me aproxima deles. Procuro me manter antenado sobre tudo o que está sendo lançado. Assim, consigo introduzir os assuntos a partir de uma série ou livro do interesse dos alunos. É uma porta de entrada que abre espaço para outras obras.” Mesmo as aulas de gramática iniciam com leitura. “Sempre começo com algum texto. Normalmente escolho crônicas, que são leituras rápidas e de fácil entendimento. Isso ajuda a desmistificar a ideia de que aprender português é chato.”

SENSO CRÍTICO

A formação em jornalismo também contribui para o aprendizado dos estudantes. “Levo jornais para a sala de aula. Às vezes, faço uma aula baseada em uma manchete ou assunto do dia. Em outubro, sempre saem matérias sobre o Enem, que procuro ler com eles. Além de debater esses assuntos e ajudar a formar o senso crítico deles, eu levo a minha experiência. Por exemplo, tem se falado muito em fake news. Inclusive, esse assunto figura em uma lista do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) com possíveis temas da redação do Enem. Como jornalista, eu tenho propriedade para falar com eles sobre o processo de apuração das notícias.”

Para os estudantes, a metodologia está mais do que aprovada. “Ele ensina com o coração, faz com que a gente fique apaixonado pelo conteúdo. Mais do que apenas a matéria, ele traz o pensamento filosófico e introduz isso através de séries, filmes e livros que os alunos gostam. Essa formação crítica nos faz olhar a sociedade de outra forma”, destaca Isadora Carvalho, 17, estudante do 3º ano.

Com 10 anos de carreira, Alexandre leciona para onze turmas, sendo cinco no Estado e outras seis em uma instituição particular do Recife. “Ano passado, dois estudantes resolveram cursar Letras. Este ano, outros já mostraram interesse. É uma profissão desvalorizada e, por isso, pouco escolhida pelos jovens. Mas sinto que consigo alcançá-los. Eu trabalho muito para que eles percebam que minha profissão é importante, séria e necessária, mesmo para aqueles que não têm interesse em seguir a carreira. Isso porque eles serão pais um dia e irão necessitar da parceria com os professores na educação dos filhos. Consigo fazer com que eles saiam da escola respeitando o meu trabalho e entendendo o mundo em que vivem. É como se minhas ideias não morressem comigo, porque ficam um pouquinho em cada um deles”, resume.

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