urbanismo

Moradores do Parque do Jiquiá esquecidos pelo poder público

Falta educação, saúde, saneamento e outros serviços básicos para a comunidade

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 26/04/2012 às 9:22
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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A implantação do Parque Científico e Cultural do Zeppelin, no Jiquiá, bairro da Zona Oeste do Recife, não depende só de pesquisas arqueológicas e liberação de verba do governo federal. Uma parte do terreno é ocupada por dezenas de famílias, quase todas desempregadas, que moram em pequenas casas de tijolos, cercadas de lixo, lama e esgoto. A comunidade Zeppelin cresce há dois anos no trecho reservado, pelo projeto, à Praça da Juventude.

“Somos completamente esquecidos, usamos energia de gambiarra, a água é cedida por vizinhos e quando chove ficamos ilhados”, diz Carlos André da Silva, um dos moradores. Como as casas não têm instalações sanitárias, é comum as pessoas colocarem as fezes em sacos amarrados e jogar os pacotes no oitão. “Nos dias de chuva, a água arrasta tudo para dentro dos imóveis, incluindo ratos e cobras”, destaca Carlos André, sem emprego fixo há cinco meses.

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Famílias moram em casas cercadas por lama, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Famílias moram em casas cercadas por lama, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Famílias moram em casas cercadas por lama, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Famílias moram em casas cercadas por lama, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Famílias moram em casas cercadas por lama, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Paiol utilizado no período da Segunda Guerra para guardar armas do Exército - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

 

A comunidade fica às escuras, à noite, porque só tem lâmpadas no interior das casas. “Vivemos ao deus-dará, numa situação precária. Há um único poste para todo mundo, se der um curto-circuito, vai pegar fogo em tudo”, alerta Rosângela Oliveira de Arruda. As famílias moravam em imóveis alugados ou em casa de parentes. “Com o desemprego, não tínhamos mais como pagar o aluguel”, diz Josemar Santos.

Segundo eles, as casas foram erguidas com dinheiro da indenização trabalhista e ajuda de parentes. “Sabemos que se trata de invasão, mas não estamos aqui porque achamos bonito. É por necessidade. Não queremos confusão com a prefeitura, tudo o que desejamos é uma moradia decente”, afirma Carlos André. O grupo sobrevive de biscate, trabalho doméstico e dinheiro repassado pelo programa Bolsa Família.

As poças de água em volta das casas são repletas de mosquitos e as crianças têm as pernas picadas por insetos. “Tentamos abrir valas para a água descer, mas a prefeitura não permite”, informa Cristiano Miguel. Os moradores também não podem mais fazer aterros nas ruas com barro e metralha. “Tentei e levaram minha pá e enxada”, diz Fernando Luiz da Silva.

 

Por estarem na ilegalidade, as famílias não conseguem atendimento no posto de saúde. “Quando a gente diz onde mora, o posto alega que é área descoberta. O jeito é evitar doença porque é um problema para ser socorrido”, declara Maria da Conceição Ferreira da Silva. A falta de endereço, de acordo com as mulheres, também impede a matrícula de crianças em creche. Um dos acessos à comunidade é feito pela pista nova da Avenida General San Martin.

A irmã de Josemar Santos mora num dos antigos paióis construídos no terreno pelas Forças Armadas, para guardar armamentos da Segunda Guerra Mundial. O projeto do Parque do Jiquiá prevê a recuperação de oito paióis já identificados e o resgate de outros 15, perdidos ao longo do tempo, que seriam demarcados.

“Minha irmã é doméstica, mora com o filho e não pode fazer uma casa”, afirma. Ela colocou uma porta no paiol, fechada por corrente. O lugar, quente e escuro, é iluminado por uma lâmpada fraca. “Nós somos o outro lado da história, estamos entre o parque e o projeto de um shopping center com prédios de luxo, perto da Justiça Federal, mas sem direito a nada”, diz Josemar.

O projeto do parque, coordenado pela Prefeitura do Recife, prevê a restauração da antiga torre de atracação do dirigível Zeppelin, que funcionou no local de 1930 a 1938, Praça da Juventude (quadras, pista de cooper, campo de futebol, anfiteatro), museus, planetário e herbário distribuídos em 36 hectares. Está avaliado em R$ 70 milhões. A obra começou em dezembro de 2010 e a previsão é terminar em 2014.

Apesar de não ter data definida, a prefeitura informa que as famílias serão retiradas, após negociações. O município marcou 50 imóveis, porém outros foram construídos depois do levantamento. A área não é protegida por cerca.

 

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