AGRESTE

Reserva florestal de vida nova em Lagoa dos Gatos

Com 362 hectares, fazenda recebe mudas originais da mata atlântica das mãos de ex-cortadores de árvores

Verônica Falcão
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Verônica Falcão
Publicado em 19/08/2012 às 15:47
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Com 362 hectares, fazenda recebe mudas originais da mata atlântica das mãos de ex-cortadores de árvores - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Do machado à enxada. No lugar de derrubar árvores, agora José Isaías Avelino, 43 anos, planta mudas de mata atlântica numa reserva de Lagoa dos Gatos, no Agreste de Pernambuco, a 130 quilômetros do Recife. Ele é um dos cinco agricultores da região contratados para projeto de reflorestamento da Fazenda Pedra D’Anta, com 362 hectares, que abriga dez espécies de aves ameaçadas de extinção, quatro restritas ao Nordeste.

José Isaías revela sem constrangimento que cortava copaíbas, sucupiras e praíbas para dar lugar à cana-de-açúcar. “Claro que tinha pena, muitas plantas a gente usa em remédios caseiros, mas era para isso que me pagavam”, lembra o trabalhador rural, recrutado pela ONG Associação para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste (Amane).

O projeto, iniciado em junho, prevê a recomposição de cinco fragmentos que totalizam 15 hectares antes ocupados por canaviais e pastagem. “São áreas contíguas à floresta da reserva. A fazenda tem 362 hectares, mas só 320 são de mata”, informa o engenheiro agrônomo Leonardo Rodrigues, responsável técnico pelo reflorestamento.

A fazenda, que serve de refúgio para 237 tipos de aves, foi transformada em 2011 numa de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Pertence, desde 2004, à organização não-governamental Save Brasil, vinculada à entidade inglesa BirdLife International.

A mata forma, ao lado de outra RPPN – a Frei Caneca –, um contínuo florestal de cerca de 1.000 hectares. A área, denominada Serra do Urubu, é o último refúgio do limpa-folha-do-nordeste, pássaro ameaçado de extinção e atualmente encontrado apenas no local.

O reflorestamento, para garantir a sobrevivência não só das aves, mas também de mamíferos, anfíbios e répteis encontrados no lugar, é parcialmente bancado pela Celpe. O dinheiro vem do Programa Energia Verde, no qual consumidores aderem ao pagamento de uma taxa mensal em troca de bônus na compra de eletrodomésticos com selo de eficiência energética.

“Já repassamos à Amane R$ 550 mil, doados pelos consumidores de energia”, diz a assessoria de Eficiência Energética da Celpe, vinculada ao grupo espanhol Iberdrola, Ana Cristina Mascarenhas. “Inicialmente, foram 20 hectares e agora estamos planejando mais 35 hectares”, adianta.

Segundo a presidente da Amane, Dorinha Melo, foram marcadas mais de 350 árvores no interior da mata para fornecer sementes. “São nossas matrizes, identificadas pela robustez e outras características que garantem boas mudas”, detalha. O reflorestamento resultou na implementação de um viveiro de mudas no local.

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