Verônica Bezerra da Silva, 47 anos, técnica de enfermagem, vive na Comunidade Lemos Torres, em Casa Forte, Zona Norte do Recife, desde que nasceu. Sua mãe, Maria Bezerra da Silva, 85, foi uma das primeiras moradoras do lugar, formado no início da década de 50 do século passado. O desejo de Verônica, compartilhado pela mãe, é ter uma casa digna para morar. Esta semana, duas placas fincadas no terreno vizinho à residência delas, comunicando a construção de um conjunto habitacional com 192 apartamentos, deu esperança de que o sonho, acalentado pela maioria dos moradores, está mais perto de ser concretizado.
A remoção das 403 famílias da Lemos Torres vai permitir a realização de duas outras importantes obras para a cidade: a conclusão da requalificação do Canal de Parnamirim, que já teve 20% do serviço executado, e a construção de vias marginais que deverão mellhorar a fluidez do trânsito entre os bairros de Casa Forte, Parnamirim, Santana e Casa Amarela. Facilitará também a implantação de um corredor de ônibus da 3ª perimetral, que começa em Boa Viagem, Zona Sul, e vai até Casa Amarela, Zona Norte, cujo projeto executivo está sendo elaborado.
No descampado da Lemos Torres, uma das placas colocadas esta semana informa que a obra do residencial começa este mês e termina em setembro do próximo ano, ao custo de R$ 13,2 milhões (R$ 12 milhões da União e o restante do município). Mas a diretora de Planejamento e Projetos da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Norah Neves, prefere não estipular prazo.
“Estamos aguardando o registro do terreno no cartório. Toda documentação já foi enviada à Caixa Econômica Federal, pois o habitacional faz parte do Programa Minha Casa, Minha Vida”, explica Norah Neves. “A área do residencial, de 7 mil metros quadrados, é a junção de um terreno público, um privado e um que pertencia à União. Quando o registro no cartório for feito será dada a ordem de serviço. A partir daí, a previsão é de 15 meses de obra”, diz Norah.
Terão prioridade para ganhar os apartamentos as 233 famílias que residem na comunidade há mais de 10 anos. São 233 nessa situação. “Como não vai dar para todas as 233, pois são 192 unidades habitacionais, perguntamos quem aceitava sair para morar em outro lugar. Cinquenta e sete disseram que sim. As outras 176 querem permanecer e vão morar no conjunto”, destaca Norah. “As demais serão indenizadas ou terão apartamento no Conjunto Habitacional do Barbalho, que está sendo construído”, informa a diretora da URB. A estimativa é que o residencial do Barbalho seja concluído em dezembro deste ano.
AUXÍLIO-MORADIA
Para que a obra na Lemos Torres tenha início é necessário primeiro retirar as 40 famílias que estão na área do terreno. Elas vão receber auxílio-moradia, no valor de R$ 201, enquanto o conjunto não fica pronto. É o caso de Maria Eduarda da Silva, 18, que vive em um barraco com a filha Maria Julia, de nove meses. “Não tenho água encanada. É ruim para cuidar da menina. Espero ganhar um dos apartamentos”, diz. Cada imóvel terá dois quartos, sala, cozinha e banheiro.
Verônica torce para que desta vez o habitacional saia do papel. “Faz 13 anos que lutamos por isso. Entra prefeito, sai, começa outro, prometem e nada de construírem os apartamentos. Tomara que agora seja verdade. Será a realização de um sonho, morar em um lugar melhor, com mais espaço, e na mesma comunidade. Não quero sair da Lemos Torres. Foi aqui que me criei, é perto de tudo, escola, creche, hospital”, comenta a técnica de enfermagem.