De todas as modalidades esportivas oferecidas pelo Projeto de Extensão Santo Amaro, da Escola de Educação Física da Universidade de Pernambuco (UPE), o futebol é o predileto das crianças. Assim também acontece nas escolas, na hora de brincar. Pesquisa feita este ano com meninos e meninas de 8 a 12 anos no Recife, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro comprovou o mesmo.
O estudo (ver quadro), divulgado no semestre passado, foi realizado antes da Copa do Mundo, mas pode-se dizer que no Brasil perde-se o campeonato, mas dificilmente morre o amor pelo futebol. Na infância, jogar bola significa também movimentar-se, disputar, aprender a trabalhar em equipe e se concentrar, fundamentais para o desenvolvimento físico, motor e cognitivo. Foi por esses motivos que Karla Souto, moradora de Olinda, colocou o filho Gabriel França, 10, e o sobrinho Carlos Neto, 9, numa escolinha de futebol.
“Gabriel foi aos 5 anos de idade. A geração Coca-cola precisa de estímulo para se movimentar, ter saúde.” Na família de Karla, jogar bola é atividade diária. O mesmo acontece com os amigos Gilmar Santiago, Rodrigo Farias e Henrrico Oliveira, todos de 11 anos e vizinhos, no Recife. Quando não batem bola na escola, fazem isso na porta de casa ou no terraço. “Quatro vezes na semana eu faço aula de futebol de salão à tarde. Mas todo dia jogo com meus amigos. Já quebrei um vaso em casa”, conta Gilmar. Todo ano, qualquer que seja o presente de aniversário tem que vir acompanhado de uma bola. “Ele não vive sem ela”, diz a mãe, Geórgia, que vê bons resultados com a prática esportiva. “Gilmar agora tira notas altas na escola e conseguiu ultrapassar perdas difíceis como a morte da avó e do tio anos atrás e mais recentemente a do pai, há dez meses.”
A mesma paixão pelo futebol acompanha Rodrigo e Henrrico. “Meu Neto deixa de comer para jogar. Eu apoio, mas me preocupo”, diz a avó Alderez Oliveira. Luciana Farias, mãe de Rodrigo, não é contra o futebol. Só exige que ele se dedique à escola. “A carreira de jogador é muito curta.” Rodrigo já se conscientizou. “Vou ser jogador e engenheiro”, sonha o pequeno atacante. A irmã Natália, 7, é outra fascinada pela bola. “Fico no gol ou no ataque”, conta orgulhosa.
O bairro onde os meninos moram, Santo Amaro, já revelou vários craques. “O jogo é saudável. É necessário criar mais espaços para que as crianças brinquem perto de casa”, observa a vizinha Conceição Oliveira.
Coordenadora do Projeto Santo Amaro, a educadora física Maíra da Rocha Melo recomenda a iniciação da criança numa modalidade esportiva a partir dos 6 anos de idade. A exceção é para a natação, que pode ser logo no primeiro ano de vida. O futebol, segundo ela, ajuda não só no desenvolvimento físico e social, mas também no cognitivo.
No Projeto Santo Amaro, embora as crianças ingressem na maioria dos casos pensando em fazer futebol, são orientadas a experimentar várias outras, inclusive dança e jogos populares.
“A Organização Mundial de Saúde recomenda para as crianças 60 minutos de atividade física cinco vezes por semana, pelo menos. O exercício tem que ser prazeroso, será inadequado se for uma obrigação”, lembra Maíra.