Neste domingo (14), a partir das 15h, moradores da Torre estarão reunidos na beira-rio para debater o futuro do bairro, localizado na Zona Oeste do Recife. A pauta inclui temas como verticalização de moradias, o Rio Capibaribe e o resgate da vida cultural da comunidade. Aberto ao público, o evento contará com apresentações artísticas, oficinas para crianças e adultos, exibição e vídeos, além da roda de conversa.
No cartaz de divulgação do Encontro Coração da Torre os organizadores do movimento resumem, numa pergunta, o mote da discussão: Como podemos sonhar o bairro da Torre? A partir desse questionamento as pessoas apresentarão propostas para ajudar o município no planejamento do lugar, diz a professora de história Júlia Vergetti, moradora da área há 18 anos e uma das integrantes do grupo.
Segundo ela, a preocupação com as transformações que vem ocorrendo na localidade é antiga, mas só em 2013 foi criado um grupo para discutir as mudanças. “As reuniões tiveram início quando abriram o processo para tombamento do antigo Cotonifício da Torre. Na mesma época, surgiram os boatos de que residências antigas das Ruas Benjamim Constant e José de Holanda, de propriedade da Santa Casa de Misericórdia, seriam vendidas”, informa.
O arquiteto e urbanista Márcio Erlich acompanha a mobilização e chama a atenção para o aumento do número de prédios altos na região. “Isso aconteceu com mais intensidade após a criação da ARU, em 2001. Por causa das restrições para novas construções estabelecidas na Lei dos 12 Bairros, a Torre passou a ser procurada pelo mercado imobiliário”, comenta o urbanista.
Márcio Erlich se refere à Lei Municipal nº 16.719/2001, que estabelece a Área de Reestruturação Urbana (ARU) no Derby, Espinheiro, Graças, Aflitos, Jaqueira, Parnamirim, Santana, Casa Forte, Poço da Panela, Monteiro, Apipucos e parte da Tamarineira. “Não sabemos quantos prédios foram construídos e quantos ainda serão. Porém, a olhos vistos, o cenário é assustador. O bairro foi verticalizado sem ampliação da infraestrutura existente de esgoto e viária”, diz Júlia.
Moradora da Torre há 49 anos, Deise Maria da Silva faz parte do movimento e vê na mobilização a oportunidade de resgatar o perfil cultural da comunidade. “A gente tinha um Carnaval muito bom e agora está escasso. Aqui viviam Egídio Bezerra, carnavalesco conhecido como o Rei dos Passos; Zezinho, que tinha um urso, e Luca, da Burrinha. As famílias saíam às ruas para festejar e agremiações vinham à Torre para reverenciar Egídio, depois que ele morreu”, conta.
A proposta de Deise Maria é instalar um polo cultural na antiga fábrica, retomando a escola de dança de Egídio Bezerra, com aulas de frevo, coco e ciranda. “Artistas hoje escondidos no bairro vão aparecer”, destaca. Ex-funcionários do cotonifício, que realizam todos os anos a Festa da Amizade, em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, ou numa data próxima, estarão presentes ao ato deste domingo (14).
A olhos vistos, o cenário é assustador. O bairro foi verticalizado sem ampliação da infraestrutura existente de esgoto e viária afirma a professora Júlia Vergetti
Uma das oficinas para as crianças vai estimular a importância de se cuidar do Capibaribe, que margeia o bairro. “Capivaras estão aparecendo no rio, assim como outros animais. Apesar disso, há muito lixo na água e nas margens. Tudo será trabalhado com as crianças”, adianta a professora.
José Felix Rodrigues, morador da Torre há 68 anos, apoia o movimento e avisa que tem muito a contar sobre o lugar, onde sempre viveu. “A Torre não está em melhores condições por falta de governo”, observa, mostrando as áreas de influência do rio aterradas para novas ocupações. “A gente está fincado dentro da maré”, diz ele, apontando o piso da praça onde foi realizada a entrevista.
O encontro será realizado no trecho da beira-rio ao lado da Ponte da Torre. Participam das atividades artísticas o Maracatu Várzea do Capibaribe, o grupo Cosmo Grão, Lucas Notaro e quem mais chegar.