Uma rápida caminhada pela Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, e qualquer um constata logo: a bagunça continua. Sem uma ação definitiva de reordenamento do comércio informal pelo município, alguns dos mais de 200 ambulantes removidos do corredor viário entre 29 de janeiro e 24 de fevereiro se arriscam a voltar e explorar o território proibido, onde o fluxo de clientes é intenso, e se misturam ao pessoal cadastrado e autorizado a ficar, provisoriamente, no local.
A quantidade de camelôs é visivelmente maior na sexta-feira e no sábado pela manhã. Mas em plena segunda-feira o JC encontrou ambulantes vendendo até mesmo alimentos manipulados junto às paradas de ônibus, o que é estritamente proibido. Temendo a fiscalização, boa parte dos invasores utiliza tabuleiros manuais, que facilitam a fuga. O entorno do Shopping Boa Vista é o espaço mais disputado.
Richard Santos, 27 anos, admite que não tem autorização para ficar na Avenida Conde da Boa Vista e, sim, na Rua Gervásio Pires. “Mas lá é muita gente vendendo o mesmo produto, então prefiro vir para cá, onde trabalhei durante cinco anos. Trago um tabuleiro pequeno, que carrego na mão, pois os fiscais recolhem os grandes. Ganho menos assim, mas dá para viver”, declara. Segundo ele, não são apenas os ambulantes antigos que voltaram à avenida. “Há muitos novatos também”.
Quem circula pela Conde da Boa Vista diariamente percebe logo as mudanças. “Ninguém conseguia andar nessas calçadas, eram muitos ambulantes. Agora está bem melhor, mas aos poucos o número vem aumentando. E a desorganização continua, não é?”, indaga a comerciante Maria Auxiliadora, 46 anos.
O secretário municipal de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, afirma que cerca de 40 fiscais trabalham diariamente em 15 pontos da avenida para evitar a invasão dos não cadastrados. “É uma luta diária, uma rotina difícil. Todos os dias é preciso apreender mercadorias, orientar para não voltarem”, explica. “Mas o importante é que o ordenamento está sendo feito. Estamos concluindo o trabalho na Rua José de Alencar, depois vamos para a Rua do Hospício, Rua 7 de Setembro e Avenida Guararapes”.
SHOPPING
Apesar das realocações, ainda não há data para os ambulantes serem instalados em local definitivo. A prefeitura adquiriu quatro terrenos, um na Rua Sete de Setembro e três na Rua da Saudade. Um shopping popular estava previsto para ser entregue até o final do ano, em área de 1 mil metros quadrados na Rua da Saudade, mas o projeto está sendo refeito para abrigar uma unidade do Expresso Cidadão.
“Já negociamos com o governo do Estado e a unidade que hoje funciona na região passará a funcionar no primeiro andar do shopping, assegurando um fluxo de 5 mil pessoas por dia, no local”, adianta o secretário. “O Estado terá uma área mais ampla do que a atual e poderá ofertar mais serviços, será bom para todo mundo”.
Conforme Braga, o projeto está sendo redesenhado com a Secretaria Estadual de Administração e deve ser concluído ainda este mês. “Vamos sofrer um atraso de uns dois meses, mas a recompensa é grande. Vale a pena”, conclui.