Uma brusca mudança de hábitos atingiu os moradores da Lagoa do Araçá, bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, desde o início do ano. As caminhadas matinais e noturnas na pista de 1,5 km que abraça os 14 hectares do lago são feitas em pequenos “comboios” de pessoas. Alunos das duas escolas que ficam no entorno também procuram sair em conjunto, e rapidamente. Comerciantes evitam deixar os estabelecimentos funcionando depois das 20h. É o velho fantasma da violência, que voltou montado em motocicletas e cinquentinhas, atrás de celulares, dinheiro e até mesmo produtos das lojas. A comunidade marcou para esta sexta-feira (29), às 18h30, um protesto contra a falta de segurança no local. A convocatória está sendo feita pelas redes sociais.
Não há morador que não tenha uma história de assalto para contar. “Quando as pessoas se juntam, é só o que sai nas rodas de conversa”, diz o médico Mauro Peixoto, há 51 anos morando na região. Alzenir Cordeiro, proprietária de um pequeno comércio às margens da lagoa, há exatos 20 anos, afirma que nunca esteve tão amedrontada com a violência como atualmente. “Em 15 dias arrombaram quatro vezes o meu quiosque. Levaram televisão e R$ 1 mil em mercadorias que eu ainda nem tinha pago”, lamenta, acrescentando que os bandidos agem com muita tranquilidade, por ter a certeza da impunidade. “Na última vez, no mês passado, um deles encostou uma pistola em mim, levou meu celular e R$ 250. Depois, fugiu numa cinquentinha com o outro bandido”, denuncia.
A Lagoa do Araçá tem um Núcleo de Segurança Comunitária (legado do governo Jarbas Vasconcelos), mas a estrutura, estranhamente, não inibe os criminosos. Motivo: os policiais militares não podem sair do local e apenas orientam as vítimas de assalto a registrar boletim de ocorrência, para que o caso seja investigado pela Polícia Civil. “Só que isso não adianta. Os roubos acontecem muito rapidamente. Se os PMs fossem atrás, certamente pegariam os bandidos. Essa perda de tempo não tem sentido”, critica Edmilson Rodrigues, líder do movimento Lagoa Viva.
Segundo ele, há quatro câmeras de segurança instaladas no entorno da lagoa, mas os equipamentos não estão interligados à Central de Monitoramento da Secretaria de Defesa Social (SDS). “Não tem sentido essas câmeras serem monitoradas pela Guarda Municipal. Isso deveria ficar com a Polícia Militar”, opina.
CANAL DIRETO
A Polícia Militar estuda mecanismos para melhor interagir com a comunidade da Lagoa do Araçá, como números específicos de telefone para os policiais se comunicarem com a população. “São iniciativas que implementamos em outros batalhões, com sucesso, e estamos avaliando a viabilidade de fazermos o mesmo naquela área. Esperamos, com isso, aumentar o poder de resposta às ocorrências no local”, explica o assessor de comunicação da corporação, major Júlio Aragão.
Segundo ele, o policiamento da área é realizado por carros e motos e conta com uma cobertura especial do Grupamento de Apoio Tático Itinerante (Gati). “Recentemente, prendemos um dos criminosos que assaltavam na localidade. Além disso, também estamos fazendo blitzes de trânsito com o apoio da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU)”.
Representantes da comunidade da Lagoa do Araçá tiveram uma reunião com o comandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, coronel Marcelo Sougey, na sexta-feira passada. Na segunda, o local amanheceu com três viaturas da PM fazendo rondas.
Em nota, a Secretaria de Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife afirma que a Secretaria de Defesa Social tem acesso às imagens das câmeras de monitoramento da prefeitura instaladas no entorno da Lagoa do Araçá. Além disso, informa que, nas situações em que julgue necessária a intervenção dos militares, a própria secretaria se encarrega de acionar o Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods) ou o batalhão da área.
