Favelização à vista. Esse será o futuro do entorno da Via Mangue, corredor viário entregue totalmente concluído há pouco mais de dois meses, na Zona Sul do Recife, caso o poder público não ocupe os espaços vazios deixados pelo projeto, que se arrastou por dez anos e custou R$ 500 milhões. E eles já são muitos, facilmente identificados ao longo do percurso de menos de cinco quilômetros da nova via. Áreas que deveriam ter sido urbanizadas, mas que estão sendo ocupadas irregularmente, sem qualquer ordenamento, cercadas de sujeira, violência e consumo livre de drogas.
São locais que o poder público prometeu urbanizar. Seriam futuras praças, passeios arborizados e até uma academia da cidade. Mas nada foi feito e os espaços estão se degradando. A região que mais chama atenção é exatamente a mais nova, no Jardim Beira-Rio, embaixo e nos arredores da Ponte Encanta Moça. O local está virando um depósito de lixo, com direito a roupa estendida, geladeira, armário e criação de animais.
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Um estacionamento clandestino também está oficializado na área, o que ajuda a encobrir a lenta e silenciosa construção de palafitas às margens do Rio Pina. Alguns casebres recentemente erguidos sob a ponte, inclusive, já podem ser vistos na área. Segundo moradores, na semana passada soldados da Marinha do Brasil destruíram uma palafita erguida praticamente à beira da Rua Manoel de Brito.
Pelo menos por enquanto, a única construção oficial que se vê nas imediações é um posto de policiamento ostensivo do 19º Batalhão da Polícia Militar, que responde por parte da Zona Sul. Do outro lado da rua, uma imensa área também está virando estacionamento e ponto de encontro de pessoas que bebem o dia inteiro. Ao redor, lixo e resto de entulhos.
Problemas semelhantes são vistos ao longo do corredor. O terreno onde funcionava o Aeroclube de Pernambuco, no Pina, ainda não está sob risco de invasão porque vigias fazem a segurança, mas a área permanece abandonada e tomada por entulhos de construção. Os elevados que interligam a Via Mangue às marginais dos Canais de Setúbal e Jordão também viraram áreas degradadas. Mato, lixo e veículos estacionados compõem a paisagem.
Outro problema. A chamada Jamaica, comunidade que surgiu a partir da Ilha do Destino, após a retirada de centenas de famílias para os três conjuntos habitacionais erguidos no projeto da Via Mangue, já tem mais de 200 barracos e alcançou a mureta de proteção do corredor, avançando sobre o mangue. Ao lado, ainda na Ilha do Destino, moradores brigam quase que diariamente para preservar o espaço do que um dia será uma praça, prometida pelo município há anos.
PROMESSAS
A Prefeitura do Recife se pronunciou apenas por nota e mais uma vez fez promessas. Disse que estão sendo concluídos projetos para a ocupação das áreas remanescentes da Via Mangue a partir de estudos já realizados. Não deu prazos. Apenas que está em busca de parcerias e captação de recursos. Também não há definição sobre o terreno do Aeroclube. Mas garantiu que a destinação da área será discutida com as comunidades do entorno para obras de requalificação urbana e construção de habitacional.