Horta orgânica

Praça usada como lixão é transformada em horta comunitária no Bode

A iniciativa da horta comunitária partiu de moradores do Bode, no Pina, bairro da Zona Sul do Recife

Da Editoria Cidades
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Publicado em 29/09/2016 às 9:10
Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
A iniciativa da horta comunitária partiu de moradores do Bode, no Pina, bairro da Zona Sul do Recife - FOTO: Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Com uma ação simples e barata moradores da comunidade do Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, eliminaram um lixão a céu aberto numa praça e reocuparam o lugar com uma horta comunitária. A praça que servia de ponto de descarte para bichos mortos e sacos de entulhos ressurgiu com pés de coentro, cebolinha, jerimum, babosa, melão, caju e acerola.

O plantio teve início em março de 2016, mas a semente do projeto Favela Verde foi semeada em 2015 pela francesa Maeva Harrivel, que mora na comunidade há um ano. “Sonhei com crianças colhendo maracujá na frente da Livroteca (Brincante do Pina) e tive a ideia de fazer a horta comunitária”, relata Maeva.

Primeiro, ela criou uma horta com sálvia, orégano, boldo e outras ervas no jardim da livroteca, no local onde havia uma caixa de concreto. Depois, levou crianças e adultos da comunidade para conhecer um sítio em Olinda. “Organizamos quatro passeios verdes, para ensinar as crianças como é feito o plantio”, declara. O passo seguinte foi a limpeza da praça.

“Tivemos apoio logístico das Secretarias de Enfrentamento ao Crack e de Segurança Urbana da prefeitura para a remoção do lixo”, diz José Ricardo Gomes, Kcal, o fundador da biblioteca. E aí se encerra a ajuda municipal. O projeto é bancado por Maeva, Kcal e moradores do Bode. Inicialmente, Maeva usou pneus como jarro para as mudas colocadas na praça, localizada na Rua Artur Lício.

Esta semana, a comunidade fez uma cota, comprou o adubo e arregaçou as mangas, num mutirão, para quebrar o cimento da praça, tirar as mudas dos pneus e plantar direto na terra. “Cada um trouxe uma ferramenta e a horta está montada. Uma ação tão simples, tão fácil e tão possível”, observa Kcal. Motivado pela horta, o morador Iran Galdino da Silva criou um jardim na outra extremidade da praça, com ervas, fruteiras e verduras.

CERCA VIVA

A intenção do grupo é fechar a praça com uma cerca verde e viva. “Todos podem e devem plantar e colher na praça, esse trabalho é coletivo”, ressalta Maeva. Ela espera despertar nos moradores a vontade de criar hortas nos quintais. “Queremos aumentar a quantidade de verde em outras ruas do Bode também”, afirma Kcal.

Iran Galdino destaca a mudança na paisagem da praça. “Isso aqui era tudo lixo e o cheiro era horrível. Recebi a visita da minha mãe e de meu irmão, em janeiro, e fiquei com vergonha. Nem se compara com a praça de agora, que está linda”, diz Iran. A dona de casa Josineusa Tavares da Silva apoia a iniciativa e ajuda a cuidar das plantas, regando todos os dias.

“A diferença é grande, a praça era uma montanha de lixo”, reforça Josineusa. “Estamos usando a praça para projetar filmes de curta-metragem para as crianças, toda sexta-feira a partir das 18h30, sempre passando uma mensagem. O último foi sobre hortas”, completa Edvaldo Ricardo da Silva Neto. Para manter o projeto, Maeva e Kcal tocam em ônibus e pedem dinheiro em sinal de trânsito.

Morador do Bode, Maurício dos Santos acrescenta que a comunidade pretende construir balanços e outros brinquedos de pneus para colocar na praça. “A prefeitura abandonou o Bode, então a gente mesmo está cuidando do lugar”, diz ele. “Até as canaletas das ruas é a gente quem limpa e quando as tampas quebram, os moradores consertam. Estamos conseguindo andar sozinhos e vamos continuar andando sozinhos”, destaca Edvaldo Ricardo da Silva Neto.

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