O recifense gosta de Carnaval, quer ouvir frevo acima de qualquer coisa, prefere brincar no Bairro do Recife a ir para Olinda, está receoso com relação à violência durante a folia e vai apostar no transporte público e no Uber para se locomover durante o reinado de Momo. É o resultado da pesquisa “O olhar do recifense sobre o Carnaval”, feita pelo Instituto Uninassau, em que 624 pessoas da capital foram entrevistadas, nos dias 14 e 15 deste mês. O trabalho lança luz sobre as preferências da população da cidade a menos de uma semana para o início das festividades.
Alguma dúvida de que o povo do Recife é apaixonado pela folia? Pois, de acordo com o estudo, 66,6% dizem “sim” à pergunta “você gosta de Carnaval?”, enquanto 33,2% respondem “não”. Mesmo amando a festa, 56,2% dizem que não vão aos polos de animação, enquanto 38,7% cravam o “sim”. Entre os motivos alegados pelas pessoas para não ir aos focos, a violência é campeã, com 44,4%. Já para os foliões que só brincam de “corpo presente”, o que os leva ao Carnaval é o amor pela festa, com 47,8% das escolhas.
BAIRRISMO
O conhecido espírito bairrista – no bom sentido da palavra – do recifense pode ser identificado em duas perguntas: “O Recife tem o melhor Carnaval do Brasil?” e “Que ritmos musicais você prefere ouvir no Carnaval?”. Para a primeira, nada menos que 61,7% dos entrevistados dizem um sonoro “sim”. Com relação ao estilo musical preferido, 44,9% não titubeiam e escolhem o frevo. Em segundo lugar, com distantes 9,9% da preferência popular, vem a sempre onipresente Axé Music baiana. Ou “quase” sempre.
“Uma coisa muito perceptível na pesquisa é uma elevada auto-estima do morador do Recife. O apreço que se tem pelo Carnaval como produto e como instituição é muito grande. Isso se reflete também na escolha pelo frevo como ritmo predominante na festa. A pessoa pode até gostar de outros estilos, mas no Carnaval acha imprescindível escutar apenas o gênero, também por uma questão de pertencimento”, explica o professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira, um dos coordenadores da pesquisa.
É o caso da aposentada Laurinete Santos, moradora do bairro de Santo Amaro, área central da cidade. Ela faz parte do grupo que gosta da folia, mas não vai aos polos oficiais. Prefere ficar na rua em que mora, onde sempre saem blocos de bairro. “E sempre escutando frevo. Nem venham com axé ou pagode que aqui ninguém vai ouvir isso durante o Carnaval”, afirma, em frente à casa, já toda enfeitada para a folia.
A pergunta “você tem algum medo durante o Carnaval?” obteve “sim” de 65,9% dos entrevistados. Perguntados sobre qual seria o medo, simplesmente 100% cravaram “violência”. A festa de Momo de 2017 tem tudo para marcar uma mudança de hábitos no recifense. A maioria – 39,2% – afirma que vai deixar o carro em casa e utilizar o transporte público para ir aos polos. A novidade é o segundo lugar: com 28,6%, o Uber será a primeira alternativa aos ônibus. Em terceiro, com 12,1%, está o carro particular e a carona. Táxis? Lá embaixo, com apenas 2,9% da preferência dos foliões, num sinal de que os constantes problemas de falta de veículos nas saídas dos pontos de folia – principalmente o Recife Antigo – podem ter um preço amargo para a categoria.