Mães de crianças com microcefalia denunciam que o município do Recife não está fornecendo o alimento apropriado para o desenvolvimento de seus filhos, como previsto. Com prescrição médica para consumirem até 16 latas ao mês do suplemento fortini, muitas estariam com quadro de desnutrição. Cada lata do alimento custa R$ 60, chegando a R$ 960 no mês, despesa que inúmeras famílias não podem bancar.
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Nadja Cristina Gomes, de 42 anos, é mãe de Alice Vitória, de 1 ano e 5 meses, e tem contado com a ajuda de amigos do marido, que é carregador, para comprar 12 latas de fortini ao mês. “Em setembro, eu dei entrada no pedido do suplemento com laudo médico dizendo que Alice estava com desnutrição grave e até hoje não recebi uma lata sequer. Ela está com 7,4 quilos, bem abaixo do peso (o mínimo é 7,9 quilos para uma criança de 1 ano), mas melhorou depois que começou a tomar o suplemento”, relata.
Segundo Nadja, os gastos com a filha são muito altos e quando a ajuda de “pessoas de bom coração” não é suficiente a família tem que comprar o suplemento. “As contas estão todas atrasadas, porque o alimento dela está em primeiro lugar, assim como os remédios e tudo o que ela precisa”, relata. O casal ainda tem um filho de 16 anos.
Mãe de Luana, também com 1 ano e 5 meses e oito quilos, Jemima Nascimento, 38, enfrenta o mesmo problema, há sete meses. “Desde que a médica mudou o leite dela eu não recebo mais, antes recebia. E é a única coisa que ela come, são 16 latas no mês. Recebemos doação de uma ONG (organização não governamental), ou então temos que comprar, não tem jeito. Muitas mães estão entrando na Justiça”, declara. “Mães de Olinda e Jaboatão estão recebendo o benefício normalmente, não vemos justificativa para o descaso”.
Daniele Ferreira dos Santos, 30, comprovou os benefícios do suplemento na alimentação do filho Juan Pedro, de 1 ano e 3 meses, rapidamente. “Em um mês ele engordou 300 gramas, está com 7,8 quilos, isso porque não sigo à risca a indicação da médica de ele tomar 16 latas no mês, compro apenas umas quatro ou cinco e misturo no leite, porque não tenho condições. Uma ONG também ajuda”.
SEM PRAZOS
A Secretaria de Saúde do Recife encaminhou nota alegando que “os suplementos alimentares não são padronizados na lista municipal da assistência farmacêutica. Por isso, a aquisição deve ser analisada caso a caso, sendo necessária uma compra especial com a comprovação de critérios baseados em protocolo definido pelo município”. Disse ainda que “todos os casos de solicitações não padronizadas estão sendo avaliados para que o município possa definir o fornecimento”, mas não estabeleceu prazos.
A Secretaria de Saúde estadual disse que a questão é de responsabilidade municipal.