Para quatro famílias que residem nos Sítios Xambá e Areais, na zona rural de Riacho das Almas, cidade do Agreste pernambucano e distante 136 quilômetros do Recife, a Sexta-feira Santa foi de comemoração. Cada uma ganhou uma cisterna, com capacidade para armazenar até 16 mil litros de água. Os recipientes foram construídos, em cinco dias, por um grupo de 10 alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em parceria com a ONG Habitat para a Humanidade Brasil. Além de colocar a mão na massa, o grupo conseguiu o dinheiro necessário para a obra, R$ 58 mil, através de um site de financiamento coletivo.
“Esperamos que com a cisterna melhore nossa vida. Estamos tão felizes que nem sabemos como agradecer. É muito sofrimento, está tudo muito seco aqui. São cinco anos sem inverno, sem chuva”, afirma a agricultora Josefa Margarida da Silva Alves, 48 anos. Uma das cisternas foi construída no quintal da casa da filha dela, Maria Jucélia, que é casada e tem uma filha de seis anos. “Com a cisterna teremos água boa para cozinhar e beber”, comenta Josefa. Para conseguir o líquido, a família percorre pelo menos três quilômetros.
Riacho das Almas é um dos municípios que sofre com a pior seca dos últimos cem anos no Nordeste. Este ano, a Habitat para a Humanidade já construiu outras seis cisternas, em parceria com uma igreja. O projeto chama-se Água para Vidas. A previsão é beneficiar mais 20 famílias até o final deste ano, numa ação em conjunto com uma escola carioca.
Cada cisterna é construída por uma dupla de voluntários e pelas famílias contempladas, que são orientadas e apoiadas por uma equipe da ONG. O grupo da PUC-RJ (a maioria de alunos da pós-graduação em engenharia ambiental) começou as construções segunda-feira passada. Segundo o coordenador do projeto, Mateus Mendes, as famílias que recebem as cisternas são escolhidas a partir de critérios de renda. A estimativa é que cada reservatório guarde água suficiente para ser usada por um ano.
A psicóloga Helena Dimantas, 28, foi uma das voluntárias. “Participar desse projeto superou minhas expectativas. Aprendi muito. E vivi uma realidade totalmente diferente da minha no Rio de Janeiro. Não há dinheiro que pague”, conta Helena. Ela pretende convidar a escola onde cursou o ensino básico a se engajar na iniciativa. A maioria dos R$ 58 mil foi doada por cariocas.
CAPACITAÇÃO
O projeto Água para Vidas existe há cinco anos e já beneficiou 430 famílias em 15 municípios pernambucanos. Além das cisternas, contempla a reforma e ampliação de telhados para captação de água de chuva; e cursos de capacitação em temáticas como gestão de recursos hídricos, direitos humanos e políticas públicas.