A prisão, na manhã desta sexta-feira (9), de cinco policiais militares que usavam a farda e até viaturas da corporação para promover sequestros de comerciantes e empresários no Grande Recife joga luz em um antigo problema: o que leva agentes da lei a agirem como criminosos?
Três dos militares presos pertencem ao Batalhão de Radiopatrulha (BPRP), uma das unidades de elite da corporação. A polícia identificou ao menos três crimes cometidos pelo grupo. Em todos, o uso da intimidação e, em pelo menos dois, a prática de tortura por asfixia, com o uso de saco plástico.
Em uma das ações, o grupo sequestrou um empresário, cuja família desembolsou um total de R$ 85 mil para os criminosos. Outra investida foi contra uma grande empresária do setor alimentício, que foi coagida a pagar ao grupo para que não fechasse seu estabelecimento. No terceiro caso, extorquiram em R$ 50 mil um casal de comerciantes, passando-se por policiais civis do Denarc.
“O estágio das investigações ainda é preliminar. Pode haver outros envolvidos, por isso não vamos divulgar nomes por enquanto”, comenta o delegado Ramon Teixeira, do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, que efetuou as prisões.
Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), entre janeiro e maio de 2017, foram excluídos 30 policiais militares. Em todo o ano de 2016, o número foi de 59. O número total de servidores – entre PMs, policiais civis e bombeiros – expulsos em 2016 foi 84.
Para o comandante da Polícia Militar, Vanildo Maranhão, “é terrível ver coisas como essa acontecerem”. Mas o coronel adianta que a prática não é tolerada na corporação. “Desvios de conduta continuarão a ser punidos com firmeza”.
JUSTIÇA
Para isso é preciso que a Justiça faça sua parte. O último caso de grande repercussão de prisão de agentes de segurança causou revolta na Polícia Civil. Em abril, dois PMs das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e dois agentes da Polícia Civil foram presos por roubar e extorquir um comerciante chinês, no Centro do Recife. Foram flagrados pelo circuito de câmeras de um prédio carregando caixas com produtos roubados. Segundo a delegada responsável pelo caso, o juiz titular da 7ª Vara Criminal do Recife, no entanto, negou, no início de maio, o pedido de prisão preventiva feito por ela, e os policiais estão em liberdade.
Para o cientista político e especialista em segurança da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Maria Nóbrega, o corte na própria carne ainda é o maior problema para as polícias no Brasil. “Mas é necessário expurgar os maus policiais de dentro das corporações. As organizações criminosas – do PCC ao Comando Vermelho, passando por ladrões de bancos – só existem porque há agentes corruptos do Estado ajudando nas práticas criminosas”, afirma. Segundo ele, investigações internas sempre são perigosas para os agentes de segurança. “Chega uma hora em que eles vêem muitos colegas envolvidos, e sempre há um grande risco físico, por exemplo”, comenta.