Um memorial para que a tragédia e os sonhos jamais sejam esquecidos. Este é o desejo da família de Edvaldo da Silva Alves, assassinado por policiais militares, em Itambé, na Mata Norte do Estado. A um passo do final do processo para recebimento da indenização a ser paga pelo Estado, os parentes já sabem o que vão fazer com parte do dinheiro: criar um espaço na cidade para preservar a história do jovem que teve a vida interrompida, aos 21 anos, por um tiro de bala de borracha. Fotografias, objetos pessoais e registros da rede de solidariedade formada em torno do caso ficarão reunidos num só local, que servirá para manter viva a memória de Edvaldo, conhecido entre os amigos e familiares como “Pretinho”.
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“Dinheiro nenhum vai trazer nosso irmão de volta. Mas essa indenização permitirá que Itambé e Pernambuco nunca esqueçam que um jovem inocente foi morto covardemente”, diz o auxiliar de serviços gerais José Roberto da Silva, 27 anos e irmão da vítima. Nesta sexa-feira (16), parentes do rapaz e o procurador-geral do Estado, César Caúla, assinam no Recife o acordo extrajudicial que vai assegurar o pagamento por danos morais e uma pensão mensal por danos materiais. A pedido da família, os valores não serão divulgados. Após a assinatura, o acordo será publicado no Diário Oficial e o Estado terá até 30 dias para realizar o pagamento.
O advogado da família, Ronaldo Jordão, informou que, no acordo, houve a preocupação em assegurar uma espécie de indenização social voltada para a cidade de Itambé. “Acertamos que o Estado vai investir R$ 200 mil em ações na saúde, educação e segurança pública. Um dos repasses beneficiará a Sociedade Musical Pedra Preta, instituição centenária do município”, revelou. O advogado explicou que serão feitas melhorias no hospital e em escolas da cidade. O procurador-geral garantiu que o Estado cumprirá o prazo para pagamento da indenização. “Os valores estão dentro dos parâmetros da jurisprudência e há dotação financeira já aprovada”, afirmou.
CORREGEDORIA DA SDS
Após o Ministério Público denunciar por homicídio doloso os dois PMs envolvidos na morte, a família luta para que os acusados sejam investigados e punidos na Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social. Nesta quinta-feira (15), familiares e testemunhas prestarão depoimento no Fórum de Itambé na sindicância que apura a participação do soldado Ivaldo Batista de Souza Júnior, autor do tiro. Outra sindicância foi aberta para investigar o envolvimento do capitão Ramon Tadeu Silva Cazé, que ordenou o disparo. Além de homicídio doloso, o oficial foi denunciado por tortura, por ter espancado e arrastado Edvaldo depois que o rapaz já estava sangrando e caído no chão. O crime ocorreu em março deste ano. Após quase um mês de internação, o jovem morreu no dia 11 de abril.