VIOLÊNCIA

Crack é um dos principais motores do crime

Número alto de homicídios e roubos é relacionado à droga

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 17/06/2017 às 17:33
Diego Nigro/JC Imagem
Número alto de homicídios e roubos é relacionado à droga - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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O problema da violência em Pernambuco passa, necessariamente, por uma pedra amarelada. Da guerra travada nas periferias – de onde sai a maioria dos corpos que engrossam as estatísticas de assassinatos – aos roubos que inquietam a classe média, é difícil não achar as impressões digitais do crack pelo caminho.

Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), apenas no mês de maio deste ano, 51% dos assassinatos tiveram relação com tráfico de drogas e acerto de contas. “O crack é o principal potencializador dos homicídios, seja pela disputa de pontos de venda a acertos de contas relativos a dívidas”, diz o delegado Luiz Andrey, que durante quatro anos chefiou o Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), e atualmente responde pelas unidades especializadas da Polícia Civil. Ainda segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), cerca de 70% dos roubos cometidos contra pedestres têm como objetivo o telefone celular. O aparelho ainda é a principal moeda de troca com que usuários obtêm a droga.

DESEMPENHO

Os números mostram que o período entre 2010 e 2013 – o de melhor desempenho do Pacto pela Vida na redução de homicídios e roubos – coincide com o de maior volume nas apreensões e prisões de traficantes. A partir de 2014, quando as taxas de homicídios e crimes contra o patrimônio voltam a aumentar, as apreensões caem.

A falta de perspectivas também é terreno onde floresce o uso do entorpecente. “Quanto mais vulnerável socialmente e sem vínculos familiares é a pessoa, maior a possibilidade de envolvimento com a droga”, diz a professora da Unifavip Renata Almeida, cuja tese de doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é sobre a cultura do uso do crack em Pernambuco. Ela entrevistou usuários da droga atendidos pelo programa Atitude, principal iniciativa do governo do Estado na área, e verificou, entre outras coisas, que mais de 50% moravam na rua e tinham perdido vínculos afetivos, familiares e profissionais. São da pesquisa os depoimentos vistos nas tarjas pretas da matéria, e que confirmam a relação entre crack, vulnerabilidade social e criminalidade.

A crise econômica que, desde 2014, vem arrasando a economia e dragando empregos no País inteiro, empurrou muitas pessoas para as ruas, potencializando o uso. “Não significa que todos nessa situação vão partir para a delinquência ou uso de crack. Mas a vulnerabilidade social é um forte combustível”, explica Márcia Cordeiro, coordenadra de Políticas sobre drogas do governo do Estado.
De acordo com a professora Renata Almeida, não são verificadas “cracolândias” (espaços para consumo e tráfico) no Estado, como se observa em São Paulo. “O uso é pulverizado e feito, essencialmente, em lugares como terrenos baldios, casas abandonadas e embaixo de viadutos”.
Segundo a Polícia, o boom da droga em Pernambuco se deu a partir de 2006, na esteira do início do mandato de Evo Morales como presidente da Bolívia. Ele aboliu restrições para o cultivo da coca no país. Consequentemente, uma quantidade maior de pasta-base passou a chegar ao Brasil. “Cerca de 80% do que entra em nosso país é proveniente da Bolívia”, diz Luiz Andrey.
A relação entre o consumo crescente de crack no Estado e os assassinatos, no entanto, foi verificada por volta de 2010. “Foi quando o programa Atitude começou a ser idealizado, pois muitos usuários, devido a dívidas e conflitos são potenciais vítimas de homicídios”, afirma Márcia Ribeiro. Em 2011, o governo instituiu gratificações para os policiais por quantidade da droga apreendida. A lei foi modificada em 2015, pelo governador Paulo Câmara, instituindo bônus para os 150 primeiros colocados nas corporações no quesito apreensão de crack: quem conseguir apreender o mínimo de 120 gramas é bonificado com R$ 1 mil, até 80 gramas, R$ 500, e 40 gramas rendem R$ 250 ao policial.
“É uma tática errada, pois em vez de focar nas grandes apreensões, o governo acaba levando os policiais a investirem nas comunidades carentes, muitas vezes criminalizando até mesmo o usuário que vende crack para poder usar”, diz o advogado Cristhovão Gonçalves, cuja tese de mestrado na Universidade Católica analisa a cultura de metas na política de combate às drogas no Estado.
Cristhovão questiona o atual momento da relação entre o crack e os homicídios. “Não se pode negar que existe, mas a polícia tem batido metas de apreensão, enquanto os assassinatos continuam a subir. O bônus é uma forma de compensar a precarização do trabalho das polícias, além de ser uma forma institucional de manter as ruas limpas, uma vez que o público prioritário do crack é pobre”.

 

 

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