A velocidade da reconstrução das cidades que foram arrasadas pelas fortes chuvas do final de maio é inversamente proporcional à rapidez com que as águas destruiram imóveis, ruas e sonhos. Um mês após os temporais, a população ainda pena para voltar à rotina e ainda sofre com desabastecimento e infraestrutura precária.
Belém de Maria, na Zona da Mata Sul, foi um dos municípios mais castigados pelas chuvas. O transbordamento do Rio Panelas, que corta a cidade, engoliu quase todo o centro comercial, onde vive a maior parte dos moradores. Trinta dias depois, já não existe o lamaçal em que o município estava imerso. Mas ainda falta muito para a vida voltar ao normal. “A cidade está limpa, já um passo importante. Mas perdemos muita coisa, como o hospital”, diz a aposentada Olívia de Souza. Na casa dela, a água chegou a 1,70 metro, destruindo móveis e eletrodomésticos.
DESTRUIÇÃO
O único centro hospitalar do município – onde eram realizados partos e atendimentos de média complexidade – foi arrasado pelas águas. A população é atendida em um imóvel próximo. “Alguns serviços de urgência voltarão a funcionar no hospital, mas apenas enquanto definimos onde será construída a nova unidade”, comenta o secretário-executivo da Fazenda estadual, Leonardo Santos, que representa a Operação Prontidão, do governo do Estado, no município.
Quando as pernas do poder público não são ágeis o suficiente, a solidariedade entra em cena. Na manhã de ontem, três caminhões com 48 mil tijolos foram descarregados em Belém de Maria. Segundo moradores, o material foi doado por duas blogueiras recifenses, que pediram para não terem as identidades reveladas.
Os tijolos foram divididos em lotes e distribuídos – sem confusão – para moradores como Odete Maria de Souza. Ela teve o muro da casa destruído pela força das águas e pretende reconstruí-lo o mais rápido possível. “A gente só tem a agradecer a quem se lembra de nós”, disse. Dos 3,5 mil desalojados que a cidade contabilizava após o final das chuvas, ainda existem 928.
Em Catende, também na Mata Sul, bairros como Centro, Canaã e Matadouro – que ficam às margens do Rio Panelas – foram os mais prejudicados. Na Rua Manoel Cassemiro, no Matadouro, a água encobriu as casas, deixando vegetação ribeirinha grudada nas antenas parabólicas. Um mês depois, pouca coisa mudou por ali. "Esse tempo todo e a gente só conseguiu limpar a rua. Ainda falta energia e muitas das casas foram destruídas”, comenta o marchante Marcos Paulo, que trabalha no matadouro municipal.
Segundo o governo do Estado, logo após as chuvas foram liberados R$ 17,7 milhões pela União para ações emergenciais, como distribuição de água e cestas básicas. Para a limpeza das cidades, o Estado solicitou mais R$ 5,5 milhões, que ainda não foram liberados. Também é esperado o aporte de outros R$ 28,5 milhões solicitados dentro do Sistema Nacional de Defesa Civil para obras estruturais de contenção nos seguintes municípios: Ribeirão, São Benedito do Sul, Cortês, Belém de Maria, Catende, Joaquim Nabuco, Sirinhaém, Jaqueira e Maraial.
Com relação às moradias, o governo afirma que ainda existem 2.111 pessoas desabrigadas. Hoje será iniciado o cadastro das habitações destruídas (490) e danificadas (4.880). “Junto com o cadastro dos desabrigados, esse levantamento vai permitir o cruzamento com o banco de dados da Caixa Econômica Federal e a identificação de famílias beneficiadas por moradias nas enchentes de 2010. Caso os cadastrados este ano não tenham sido beneficiadas por ocasião das enchentes de 2010, será estudado o pagamento do auxílio-moradia juntamente com os municípios”, diz a nota do governo.