Escondida por três camadas de tinta, a pintura original do forro da nave central da Igreja Conceição dos Militares, no Centro do Recife, começa a ficar aparente em esculturas e talhas. As peças douradas e jaspeadas no século 18 foram cobertas de branco no século 19. Com a ajuda de produtos específicos e bisturi restauradores estão removendo a cor branca para resgatar a policromia.
A pintura jaspeada (desenhos imitando a pedra jaspe) que aparece no forro da nave já tinha sido encontrada e recuperada na capela-mor da Igreja Conceição dos Militares construída a partir de 1723 na Rua Nova, no bairro de Santo Antônio. De acordo com Pérside Omena, coordenadora da obra de restauração, as duas camadas de tinta mais novas são retiradas com ajuda de removedores industriais.
Para tirar a tinta mais velha, aplicada diretamente sobre a pintura colorida do século 18, ela recorreu a uma fórmula. “A primeira camada de tinta do século 19 é muito grossa e resistente. Depois de vários estudos chegamos a essa fórmula, que amolece o material e facilita a remoção com bisturi sem danificar a pintura original”, explica Pérside Omena.
Quando encerrar a limpeza do forro, a equipe vai preencher as lacunas das talhas e esculturas com material compatível com o existente, hidratar a pintura para deixá-la mais viva e fazer os retoques necessários com pigmentos na cor mais próxima possível daquela do século 18 (azul e creme). “Só haverá interferência onde houver lacuna”, informa.
A recuperação do douramento dos ornatos seguirá o mesmo princípio, mantendo a técnica usada no passado, com aplicação de folhas de ouro. No momento, 40 pessoas atuam na obra, que teve início em julho de 2017 e está prevista para terminar em 2020. “Nossa proposta é recuperar a leitura estética do século 18, devolvendo à Igreja Conceição dos Militares o brilho e a cor do rococó pernambucano”, destaca.
As peças recuperadas no forro são as molduras dos painéis que retratam passagens da vida de Nossa Senhora, figuras humanas (cariátides), arcanjos e balaústres. A obra inclui a restauração do arco-cruzeiro (separa a nave da capela), das tribunas e púlpitos da nave.
CUPINS
Trechos da talha do arco-cruzeiro da Igreja Conceição dos Militares, comprometidos por cupins, tiveram de ser removidos da parede para serem recuperados. “Fizemos uma proteção com polpa de celulose para as peças, antes de iniciar os enxertos nas áreas estragadas”, detalha. Sem a proteção, que preserva a forma, a talha afundaria ao ser preenchida com microesfera de vidro e resina acrílica, explica a restauradora. O acabamento é feito com madeira.
“Encontramos uma colônia de cupim de solo e o especialista consultado, Fernando Serpa, disse que essa espécie – Coptotermes gestroi (Wasmann) é da Ásia, entrou no Brasil pelo Porto de Santos (SP), se espalhou pelas cidades litorâneas e é muito agressiva”, comenta.
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Pérside Omena acrescenta que, nas tribunas, sanefas e púlpitos da nave central, restauradores encontraram apenas fragmentos da pintura jaspeada do século 18, sem condições de recuperação. “Teremos de decidir, com o Iphan, a melhor solução. Só restou a pintura branca com ornatos dourados do século 19.”
O serviço é executado pela Grifo: Diagnóstico e Preservação de Bens Culturais e custa R$ 8,7 milhões, pelo PAC Cidades Históricas. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) contratou o serviço para complementar outras ações realizadas na Igreja Conceição dos Militares, que tem tombamento federal e está fechada para obras desde outubro de 2014.