Um golpe duro no momento mais difícil. Parentes e amigos velavam o corpo da bacharel em direito Maria Emília Guimarães, 39 anos, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, quando veio a notícia: Miguel Arruda da Motta Silveira Neto, o filho de 3 anos, também havia falecido. A criança não resistiu e morreu durante procedimento cirúrgico para estancar uma hemorragia no abdome. Os abraços apertados e o choro incontido confirmavam a dimensão de uma tragédia que parecia não ter fim.
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Como se ainda fosse possível, era preciso ter força para mais uma perda. O velório se estendeu pela noite. Uma espera silenciosa, carregada de dor. O sepultamento de Maria Emília, previsto para o fim da tarde desta segunda-feira (27), só aconteceu por volta das 21h. Mãe e filho enterrados juntos. Em Aliança, na Mata Norte do Estado, cena igualmente cruel. A babá Roseane Maria de Brito Souza, 23, foi sepultada no cemitério da cidade com o filho de três meses que carregava na barriga.
Diante da impossibilidade de nominar o sofrimento de uma família, muitos amigos apenas se abraçavam. A alegria de Maria Emília e seu amor pelo marido e filhos eram sempre lembrados, como se a força das palavras pudesse eternizá-los. No início da noite, uma prima da vítima falou em nome da família, que, até então, havia preferido não se pronunciar. As palavras da porta-voz traziam a dimensão da dor, mas também traduziam um enorme sentimento de gratidão.
“Somos muito gratos pelas orações, preces e pensamentos de todos. Sabemos que a cidade parou para acompanhar e rezar por nossa família. Queremos agradecer às muitas pessoas que nos ajudaram dentro do hospital, no Instituto de Medicina Legal e no socorro após o acidente. Que todos sejam abençoados por Deus e que sejam privados de passar o que estamos vivendo.”
O marido de Maria Emília, o advogado Miguel Arruda Motta Silveira Filho, 46, ainda não sabe da morte da esposa e do filho. Era ele quem dirigia o carro da família atingido pelo estudante universitário João Victor Ribeiro de Oliveira Leal, 25, que provocou o acidente. Miguel está internado no Hospital Santa Joana e, por recomendação médica, só deverá ser comunicado do que aconteceu com os parentes na próxima quinta ou sexta-feira. Ele passou por cirurgia na tarde desta segunda-feira (27) e está sendo mantido sedado. O advogado teve quatro costelas quebradas e afundamento do baço.
Segundo a porta-voz da família, os médicos querem aguardar a evolução do quadro de saúde de Marcela Guimarães Motta Silveira, 5, filha do casal e que também está internada no Hospital Santa Joana. A criança sofreu traumatismo craniano e, na tarde desta segunda-feira (27), foi submetida a uma cirurgia. Apesar de o resultado ter sido considerado positivo, a menina continua no bloco cirúrgico para acompanhamento da pressão intracraniana, que ainda é considerada muito alta.
Os familiares negaram que Miguel Neto tenha tido morte cerebral. Embora tenha sofrido traumatismo craniano, a criança foi operada para conter o sangramento no abdome, mas não resistiu e faleceu durante o procedimento. “Infelizmente, são muitos os boatos. Viemos conversar com a imprensa também para evitar que esses boatos se espalhem e que as informações sejam distorcidas”, afirmou a porta-voz da família.
RESIGNAÇÃO
Os pais de Maria Emília estiveram no sepultamento. Romildo Ramos da Silva, pai da bacharel em direito, é promotor de justiça aposentado e, segundo amigos, tem demonstrado muita força e coragem. “Apesar do trauma, ele recebeu a notícia com muita resignação. Porque Romildo é um guerreiro, uma pessoa muito forte”, afirmou o também promotor de justiça aposentado Antônio Victor de Araújo.
Entre os depoimentos de amigos, o do autônomo Ramsés Alessandro de Andrade, que presta serviços ao escritório de advocacia onde Miguel trabalha, fazia um apelo por punição mais dura para os crimes de trânsito. “Até quando as famílias serão destruídas por motoristas embriagados? Precisamos que a lei seja cumprida e tire das ruas esses assassinos. Quantos ainda precisarão morrer para que a punição seja, de fato, aplicada?”