Os números oficiais confirmam o que já se sabia: apesar dos investimentos na contratação de policiais e renovação da frota em operação na área de segurança pública, a violência segue desenfreada em Pernambuco, que atingiu a marca histórica de 5.030 homicídios em 11 meses. Para se ter uma ideia do que isso representa, é como se dizimar toda a população de municípios como Itacuruba, ou Ingazeira (no Sertão) ou do Arquipélago de Fernando de Noronha, conforme dados do IBGE.
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Se contabilizarmos os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) ocorridos somente na atual gestão do governo até agora, são 13.398, população maior do que a de 42 municípios pernambucanos, como Cortês, Santa Cruz da Baixa Verde (Zona da Mata) e Belém de Maria (Sertão).
O último balanço da criminalidade foi publicado ontem à tarde, no site da Secretaria de Defesa Social (SDS), que contabilizou 456 assassinatos em novembro, 12,4% a mais que o mesmo mês em 2016, com 406 mortes. Considerando os 5.030 homicídios, o aumento é de 25,5% em relação ao mesmo período do ano passado, que teve 4.007 assassinatos. Comparando com 2013, último ano em que o programa Pacto pela Vida apresentou redução nas estatísticas, o crescimento é de 78,7% em apenas quatro anos.
Antes da divulgação das estatísticas, durante anúncio da instalação de uma fábrica de munições no Estado, pela manhã, o governador Paulo Câmara chegou a comentar que “tivemos alguns resultados de redução com relação aos homicídios” nos últimos meses, e, citando ampliação dos efetivos das polícias Militar e Civil, garantiu: “Temos certeza que 2018 vai ser um ano de resultados mais satisfatórios”. Câmara ainda destacou a necessidade de combater o tráfico de drogas e de armas que existe no Brasil.
ENFOQUE NACIONAL
O enfoque nacional também foi feito pelo secretário da SDS, Antônio de Pádua. “É preciso entender o cenário brasileiro, que demonstrou aumento de homicídios em todo o território nacional, sobretudo no Nordeste. Não somos uma ilha e sofremos as consequências de falta de fiscalização nas fronteiras, ausência de vagas em presídios federais, de uma política nacional de segurança e recursos da União para apoiar os estados”, declarou.
Governador e secretário destacaram a redução dos Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs, que incluem todo tipo de roubo). Foram 8.083 casos em novembro, contra 8.866 em outubro e 9.551 em setembro, formando o trimestre do ano com menores estatísticas. Incluem-se aí os assaltos a coletivos, com 53 ocorrências em novembro, contra 65 em outubro e 75 em setembro. Somando todos os CVPs de janeiro a novembro, o Estado contabiliza 111.649 ocorrências.
“Ao reduzir significativamente os crimes contra o patrimônio, estamos aumentando a sensação de segurança de todos os cidadãos”, destaca Pádua. “Isso é resultado de operações importantes, como a Agamenon Magalhães, Cerne, Têxtil, Verão e Papai Noel, e da atuação da Força-Tarefa Coletivos, com abordagens nos corredores de grande fluxo e prisão de 300 assaltantes de ônibus. Somente este ano, foram 21.673 prisões em flagrante pelas forças de segurança”.
PLANO DE SEGURANÇA
Para enfrentar a violência, o governo lançou um Plano Estadual de Segurança Pública, com investimentos de R$ 290 milhões entre 2017/2018, sendo R$ 150,8 milhões para a renovação e ampliação da frota e o restante para pessoal. Este ano, já foram efetivados 1,5 mil novos PMs e há outros 1,3 mil em formação. Nas Polícias Civil e Científica estão em curso de capacitação 1.283 concursados. Apesar disso, ainda há 8.054 PMs, bombeiros e civis dentro do Programa de Jornada Extra de Segurança (PJEs), para suprir a falta de efetivo.
“Esse aumento de pessoal não existe. Enquanto muitos chegam vários outros estão entrando na reserva. E não adianta só aumentar efetivo se não valorizar os policiais”, observa o presidente da Associação de Cabos e Soldados (ACS), Albérisson Carlos. Segundo ele, cerca de 4 mil PMs devem se aposentar até o ano que vem. A estimativa da Polícia Civil é de 1,5 mil profissionais com idade para aposentadoria.
Em artigo a ser publicado neste domingo no JC, o cientista social e teólogo Tales Ferreira – que é gerente da ONG Visão Mundial e membro do Movimento Pernambuco de Paz – critica a política de encarceramento do Estado, afirmando que é necessário focar mais na prevenção de homicídios e tráfico, investir em educação e buscar envolvimento da sociedade civil no combate à violência.