A Prefeitura do Recife está fechando o cerco à manipulação e preparação de alimentos nas praias de Boa Viagem e Pina, na Zona Sul. As práticas são proibidas desde 2009, pelo decreto Nº 24.844, por uma questão de higiene, mas os ambulantes informam que só agora a fiscalização está endurecendo e prometem protesto, esta semana, caso o município não volte atrás. Eles afirmam ter reunião amanhã pela manhã, na Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) para tratar do assunto.
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“Trabalho na praia há 23 anos, tenho vários cursos, inclusive de manipulação de alimentos. Os clientes querem a comida feita na hora, quentinha, a gente traz o peixe frito de casa eles não gostam. Chega gente de outros países aqui me procurando porque alguém indicou. Queremos trabalhar, temos contas para pagar”, declara Jânio Amaro da Silva (conhecido como Jamaica), 50 anos.
Marcelo de Oliveira, 30, considera a medida uma injustiça. “Nós temos cadastro, mas não renovaram. Os circulantes são atração turística da praia, peço que nos ajudem”, diz. “Esse é o primeiro domingo que não trabalhei na praia, eu vendo pastel, preciso fazer na hora”, complementa Gabriel Bernardino, 32.
O professor Fernando Gomes, 58, fez questão de dizer que apoia os ambulantes. “Sou frequentador assíduo da praia, eles são muito cuidadosos com os alimentos e esse trabalho é também uma inclusão social”, defende.
O secretário de Mobilidade, João Braga, explica que o município vem realizando o ordenamento da orla e o preparo de alimentos no local já não é feito pelos 473 barraqueiros cadastrados. “A única questão é essa manipulação, o resto pode, então é só trazer o alimento de fora”, observa. “Além de estar previsto em decreto é uma adequação sanitária que a Vigilância Sanitária também está nos cobrando. Para evitar problemas de higiene e de segurança, pois eles lidam com óleo quente”.
ORDENAMENTO
O ordenamento da orla vem sendo feito aos poucos. Em abril, 73 barraqueiros receberam guarda-sóis grandes (ombrelone), balcões, mesas de apoio, cadeiras, lixeiras, carroças, caixas térmicas, espreguiçadeiras, camisas com proteção UV, batas e viseiras. A ação foi feita na faixa de areia entre as Ruas Antônio Falcão e Henrique Capitulino, em parceria com o Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau).
A comerciante Edilma da Silva Oliveira, 53, lamenta ter ficado de fora do projeto. “Eu trabalhei em frente à Padaria Boa Viagem durante 24 anos e me deixaram de fora, estou passando necessidade”, afirma, chorando. Segundo a Semoc, a comerciante apresentou documentação de que a barraca foi vendida por R$ 2 mil.
“Nossa fiscalização está atenta, inclusive registramos queixa na polícia porque um dos barraqueiros vendeu a caixa térmica e pegamos de volta, pois o equipamento é do município”, salienta Braga. “Em 2018 vamos abrir licitação para novas empresas e fazer o cadastro dos ambulantes”.