MARCAS DA VIOLÊNCIA

Estupro de vulnerável já registra mais de 340 casos em Pernambuco

Crianças e adolescentes vítimas de estupro sofrem com os transtornos físicos e psicológicos. Em alguns casos, os autores continuam libertos

Bianca Sousa
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Bianca Sousa
Publicado em 18/05/2018 às 17:32
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Crianças e adolescentes vítimas de estupro sofrem com os transtornos físicos e psicológicos. Em alguns casos, os autores continuam libertos - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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"O bebê vai nascer", diz a enfermeira. A paciente que dará à luz é Mariana (nome fictício), uma criança de 10 anos, vítima de abuso sexual durante a infância. O agressor permanece impune e a mãe da vítima consentia com o crime. Este foi um dos casos que a conselheira tutelar Ana Soares pôde presenciar e acolher durante os oito anos que atua na profissão. Em pleno Dia Nacional do Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual, nesta sexta-feira (18), mais um estupro de vulnerável acontece e situações como esta voltam a se repetir.

Fernanda (nome fictício), de 13 anos, também entra para as estatísticas. Abusada desde os 11 anos, a garota conseguiu denunciar o crime, apesar das constantes ameaças que sofria da mãe de criação, marido da mulher e amiga da família, que aliciavam a menina constantemente.

O crime não vê dia, hora e nem lugar para acontecer. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), entre os meses de janeiro a abril deste ano, Pernambuco registrou mais de 770 vítimas de estupro. Destas, 340 são crianças e adolescentes. Em pesquisa realizada no ano de 2017, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concluiu que dos casos de estupro em todo o País, 70% são menores de 17 anos.

Com mudanças extremas no comportamento, as crianças e adolescentes vítimas do abuso deixam "recados" de que é preciso ajuda. "Elas muitas vezes não pedem socorro, porque pensam que aquilo é normal, foram criadas nessa situação. Não sabem o que é certo ou errado. Simplesmente aceitam até que venham entender a gravidade disto", conta a conselheira tutelar.

Além da violência física, o traumas psicológicos acompanham as vítimas, que têm uma infância frustrada e interrompida pela violência. A psicóloga Silvana Melo conta que receber no consultório pacientes que foram alvos deste crime quando mais jovens se tornou algo comum. "Pessoas adultas guardam este segredo consigo desde pequenas, e quando crescem se tornam seres extremamente traumatizados", diz Silvana.

Vulnerável, em todas as situações

Juliana (nome fictício) dormia quando foi despertada por alguém tocando seu corpo. "Eu não reagia porque não sabia o que fazer. Fiquei congelada", conta a jovem que tinha 14 anos na época.

Sob efeitos de drogas, o homem de 25 anos, que morava na mesma casa que a menina, viu nela um alvo fácil, vulnerável. "Isto durou cerca de três dias, sempre da mesma forma. Ficava parada até ele cansar", diz sobre o medo que teve ao se sentir coagida quando ainda criança. Sem penetração sexual, mas com toques libidinosos, que já definem o estupro, a garota foi mais uma vítima que é surpreendida por este crime dentro do próprio lar.

"Como muitas vezes os abusadores são pessoas muito próximas e até mesmo da família, pode ocorrer uma negação. Quando existe grandes laços afetivos com o abusador, a família não tem coragem de denunciar", conta a psicóloga.

Denunciar o crime é um ato de justiça

Por presenciar tantas histórias de brutal violência contra a criança e o adolescente, Ana Soares faz um apelo para que o ciclo da violência seja quebrado. "Enquanto a vítima está em instituições, o agressor está solto", lamenta a mulher.

Através do Disque 100, histórias como as de Mariana, Fernanda, Juliana e de tantas outras crianças e adolescentes anônimos não precisam se repetir. O canal funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. O denunciante não precisa se identificar.

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