A costureira Rosineide Silva, 53 anos, participou na tarde deste sábado, pela primeira vez, da 11ª Marcha da Maconha, realizada no Centro do Recife. Na concentração antes da caminhada, na Praça Oswaldo Cruz, na Boa Vista, ela foi uma das mães que usou o microfone para dar, publicamente, o testemunho dos benefícios que a planta está provocando na sua filha Débora Vitória, 8, uma garota autista. O uso medicinal da cannabis é uma das bandeiras de luta de quem defende a legalização da droga. Centenas de pessoas participaram da marcha, que terminou no Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio.
“A melhora na vida da minha filha é visível. Ela consegue dormir, está se concentrado, aprendendo a ler e escrever. Antes os professores reclamavam que não conseguiam dar aula com Débora na sala. Agora recebo elogios”, contou Rosineide. A menina está usando maconha em forma de óleo, desde outubro do ano passado. “Vim para a marcha pela primeira vez. É importante legalizar pois vai beneficiar muita gente”, defendeu Rosineide.
Uma das organizadoras da caminhada, a psicóloga Priscilla Gadelha, 37, disse que o pleito é também por regulamentação de outras substâncias psicoativas, a descriminalização do usuário, a definição de uma política de desenvolvimento da maconha medicinal e a luta contra o genocídio da população negra. “Queremos também mostrar que somos contrários à intervenção militar no Rio de Janeiro, discordamos desse modelo de segurança pública”, destacou Priscilla.
“Nossa marcha em defesa da maconha acontece o ano todo. O depoimento de Rosineide mostra o quanto a planta melhora a vida de muitas pessoas. Defendemos que cada vez mais se fale sobre isso. Infelizmente a censura é muito grande ainda. Precisamos construir uma nova política”, enfatizou Priscilla.
"Meu filho tinha, em média, 25 convulsões por dia. Há dois anos comecei a dar a ele pasta da maconha diluída em óleo de coco. Hoje quase não tem crise. Se houver a legalização, terei o direito de plantar e produzir o óleo”, defende a dona de casa Elaine Cristina Silva, mãe de João Pedro, 7 anos, que tem doença rara (hemimegalencefalia).
PARTICIPAÇÃO
O Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco (Cape), a Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), a Associação Brasileira Cannabis e Saúde (Acolher), Recifree e a Associação Canábica de Pernambuco (Cannape) foram algumas das entidades que participaram da marcha.
A caminha saiu por volta das 17h da Praça Oswaldo Cruz, seguiu pela Avenida Conde da Boa Vista, Avenida Guararapes, Praça da Independência e encerrou no no Pátio de São Pedro, onde estava previsto o 5º Festival de Cultura Canábica, evento cultural com apresentações de artistas e bandas.
“Fumo maconha há mais de 15 anos. Me ajuda a diminuir o estresse diário. Se houvesse a legalização eu não precisaria comprar de traficante. Acredito que a criminalidade diminuiria, pois cada usuário plantaria a sua erva para consumo próprio”, comentou a cozinheira Marília Azevedo, 32.