A polêmica em torno do canteiro central que está sendo construído ao longo dos nove quilômetros da Avenida Norte, uma das principais ligações da Zona Norte do Recife com a área central, ficou ainda mais forte após um acidente envolvendo um idoso, ocorrido anteontem, próximo à Praça do Trabalho, em Casa Amarela. Há informações de que o homem se desequilibrou ao tentar subir no canteiro (cujas dimensões de 40 centímetros de altura por 70 de largura são questionadas pela população) e caiu, sofrendo traumatismo craniano e estando hospitalizado em estado muito grave.
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“Ele estava indo pegar um ônibus para resolver umas coisas no centro da cidade. O canteiro é muito alto e a distância entre uma faixa de pedestres e outra é imensa. Contam que ele foi subir e caiu de costas, batendo a cabeça. Chegaram a falar que ele teve morte cerebral, mas um filho informou que foi um equívoco. A situação é muito grave, mas ele está vivo e sendo submetido a tratamento”, relata um amigo da família que preferiu não se identificar.
O idoso foi socorrido pelo Samu, às 8h11, para o Hospital Hapvida da Ilha do Leite, área central do Recife. A assessoria da unidade disse não poder repassar informações sobre o paciente, sem autorização da família. “Havia muita gente no ponto de ônibus. Disseram que ele só não foi atropelado porque os carros que passavam conseguiram parar. Outros acidentes vão acontecer, o risco é grande”, alerta a síndica de um prédio próximo ao local do acidente, Glecia Cardoso.
PROTESTO
Na página do Instituto Casa Amarela Saudável e Sustentável (Icass) no Facebook, moradores da área falam em protesto. “Há quem defenda fechar a avenida, já que a prefeitura sequer respondeu ao ofício que protocolamos no dia 12 de junho, onde pedimos a paralisação da obra para buscarmos alternativas ao projeto”, afirma Vandson Holanda, coordenador da entidade.
“Tem parada de ônibus dos dois lados da Avenida Norte nesse local (do acidente), que fica a 110 metros de distância da faixa de pedestres mais próxima. Quem desce do ônibus de um lado e vai para o outro vai atravessar fora da faixa”, registra Pedro Guedes, membro da entidade, que está concluindo um estudo sobre a situação de travessia na via. Ele lembra que, pelo Código de Trânsito Brasileiro, se a distância entre as faixas é superior a 50 metros, o pedestre não comete infração de atravessar nesse ponto.
SEGURANÇA
A diretora de Manutenção Urbana da Emlurb, Fernandha Batista, explica que o projeto foi feito por uma equipe técnica experiente, mudando o conceito da via por uma questão de segurança. “Quase triplicamos o número de travessias seguras. Diminuímos a distância média entre elas de 650 metros para cerca de 120 metros. Mas não é só deixar espaço para o pedestre passar, tem que ser em local com visibilidade. O canteiro tem a função de direcioná-lo para esses locais”, explica.
“Estamos removendo 3.400 gelos-baianos, muitos motociclistas passavam de um lado para outro por eles. Havia vários acidentes, inclusive fatais”, salienta a gestora. Questionada sobre a dificuldade de convencer um pedestre a andar mais de cem metros para atravessar na faixa, Fernandha afirmou que haverá uma campanha educativa ao fim da obra, em setembro, a fim de conscientizar as pessoas dessa necessidade. Mas não há possibilidade de mudar o projeto.
A diretora salienta que a obra faz parte do projeto Ilumina Recife e vai implantar 266 postes no canteiro, aumentando em cinco vezes o grau de iluminação das calçadas, que também estão sendo requalificadas. O investimento é de R$ 2,8 milhões. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) não informou os números de acidentes na via.