Das nove igrejas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiana, município do Grande Recife, quatro estão fechadas ao público porque precisam de reparos. Uma delas, a Igreja da Misericórdia, no Centro, teve a obra de restauração iniciada, mas o serviço está suspenso desde 2016. Nessa quinta-feira (26/07) pela manhã, o Ministério Público Federal inspecionou o prédio em busca de entendimento para garantir a retomada dos serviços.
A execução da obra, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está atrelada à retirada de barracas da feira montada na frente e na lateral da igreja, tombada como patrimônio brasileiro desde 1938, para dar visibilidade à edificação histórica e facilitar o acesso ao monumento. “A feira não foi retirada e se continuar no mesmo local o banco não vai mais liberar os recursos”, afirma a procuradora da República Marília Calado, durante a vistoria.
De acordo com a procuradora, a Prefeitura de Goiana assinou convênio com o Ministério das Cidades para construir o novo pátio da feira, no valor de R$ 6,2 milhões, dos quais R$ 2 milhões já teriam sido liberados. “A obra começou e parou, estamos aqui para conversar com a prefeitura sobre o retorno dos trabalhos, isso criaria um local digno para os comerciantes sem atrapalhar o andamento da restauração da igreja”, afirma Marília Calado.
Uma placa afixada no terreno do novo pátio da feira – a área onde funcionava uma fábrica produtora de papel – informa que a obra teve início em 1º de junho de 2015 e seria concluída em 1º de junho de 2016. Secretária de Obras da atual gestão de Goiana, Taísa Gueiros disse que o município se compromete a fazer o reordenamento imediato da feira, antes de uma futura transferência dos comerciantes.
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“Eles ocupam espaços que não deveriam, quase em cima da igreja, e podem ser reorganizados em outras ruas, até acharmos a solução definitiva”, declara Taísa Gueiros. A prefeitura vai atualizar o cadastro dos feirantes e promover oficinas para traçar o perfil dos trabalhadores e fazer os levantamento dos produtos comercializados. “Com base nas informações vamos definir uma possível relocação para um espaço adequado”, declara. Em 2017 havia 436 feirantes, diz ela.
Uma opção seria a antiga área da fábrica papel, que está com a obra inacabada. “É próxima e condizente”, comenta a secretária. “A outra possibilidade seria a ocupação do mercado já existente, mas para esse espaço não há projeto ainda”, pondera Taísa Gueiros. O Ministério Público Federal vai acompanhar o cronograma proposto pela Prefeitura de Goiana.
Na avaliação dos feirantes Antônia de Souza Costa, Ítalo Luiz Oliveira e Cala Maria Rodrigues a mudança não será boa. “Aqui a gente vende bem porque passam muitas pessoas”, declara Antônia. “Até o povo se acostumar com o novo lugar vai levar um tempo”, pondera Carla. “E a gente tira o nosso sustento na feira”, completa Ítalo. Eles trabalham de segunda-feira a sábado.
IGREJA
A obra de restauração da Igreja da Misericórdia começou em 2009 e foi interrompida três vezes, a última em 2016, segundo o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Goiana, Bosco Rabello. “Fizemos intervenções emergenciais em todo o conjunto, que inclui a igreja e o edifício anexo onde funcionava o hospital. Falta a restauração da pintura, dos altares, das sacadas, das imagens de santos, do piso e da cantaria (pedra) externa”, detalha o provedor.
Construída de 1722 a 1726, no século 18, a Igreja da Misericórdia preserva o estilo arquitetônico barroco. “Ela reflete um momento de pujança econômica da Vila de Goiana, que era ligada à Capitania de Itamaracá”, destaca Bosco Rabello.
Com as portas abertas quinta-feira (26), por causa da vistoria, a igreja chamou a atenção da professora carioca Célia Bonilha, que passa férias em Pernambuco. “Vim direto para Goiana, queria conhecer o patrimônio histórico e tive uma decepção, encontrei tudo fechado e uma cidade abandonada. Só a Igreja do Rosário dos Pretos está aberta. Lamentável para um lugar com história tão bonita. Como vou recomendar a visita a outras pessoas?”, diz Célia.
Questionada sobre as igrejas fechadas em Goiana, a superintendente do Iphan em Pernambuco, Renata Borba, disse que a iniciativa da obra de restauração cabe aos proprietários. “Não podemos fazer tudo sozinho, é um trabalho para ser realizado de forma conjunta, de mãos dadas. Estamos priorizando as igrejas que assumem compromisso com a manutenção depois do serviço executado”, avisa Renata Borba.
Além da Igreja da Misericórdia estão fechadas a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, Igreja Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos Cativos e Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos.