São muitas as dificuldades, principalmente de locomoção, enfrentadas no dia a dia pelas pessoas idosas ou com algum tipo de deficiência. Quando o assunto é transporte público, em especial no Recife, esses obstáculos aparentam ser ainda maiores. Pensando em conscientizar os demais passageiros e facilitar a vida dessas pessoas, o Grande Recife Consórcio de Transporte retomou nessa quinta-feira (16) a campanha “E Se Fosse Você?”, promovendo fiscalizações e dinâmicas que fizeram quem estava no Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista, repensar a forma que lida com quem tem limitações.
A campanha já tem mais de seis anos e toda quinta-feira estará em um Terminal Integrado diferente. Na atividade, pessoas são convidadas a andar em cadeiras de rodas, colocar pesos nas pernas e nos braços, usar óculos que dificultam a visão e usar protetor auricular. Ônibus também são fiscalizados para que possíveis irregularidades, nos assentos ou nas Plataformas Elevatórias Veiculares (PEVs), sejam detectadas. No dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, será realizada a culminância de encerramento da campanha. “Nós vamos trazer para o passageiro, para o motorista, o cobrador e o fiscal de ônibus, a experiência passar as dificuldades de um cadeirante, por exemplo. Eles precisam ter essa sensibilidade”, explica o gerente de relacionamento do Grande Recife, Marcus Petrônio Iglesias.
Na ação, quem passava pelo T.I. Pelópidas Silveira pôde simular a realidade vivida por quem sofre com limitações. O motorista Severino Bezerra, 49 anos, fez questão de participar para ver como seus passageiros se sentem. “Foi muito difícil para andar, ver, escutar… Foi complicado até enxergar linha do ônibus. Eu tenho 49 anos e me senti com 80, é realmente difícil para eles”, comenta. Motorista há 20 anos, Severino pretende dar mais atenção às restrições de quem depende dos coletivos. “Agora eu estou sentindo na pele o que eles passam. Vou começar a ter mais atenção, a parar mais perto da calçada, a dar a mão se for preciso”, comenta.
O agente educador da Lei Seca Thiago Saúde, 38 anos, é cadeirante desde 2001. Ele faz parte do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência e costuma pegar ônibus todos os dias. Para ele, a maior mudança que precisa ser feita é no pensamento das pessoas. “As pessoas precisam compreender que nós também temos vida. Já ouvi algumas vezes comentários do tipo ‘por que ele sai de casa?’. Não é bem assim. Eu, por exemplo, estudo, trabalho e me divirto. Além disso, também é importante conscientizar os motoristas, que muitas vezes não tem paciência. Se todo mundo se tratar cordialmente, o problema é resolvido”, pontua.
Utilizando o transporte público todos os dias, o estudante Arthur Santos de Lima, 17 anos, que também participou das dinâmica, diz já ter presenciado muitas situações em que idosos precisam ficar em pé porque passageiros não cedem o assento. “Muita gente finge que não está vendo e cria uma situação chata. Às vezes, o idoso precisa cobrar e chamar a atenção para algo que é direito dele. Minha avó já passou por isso e é muito constrangedor”.
Alexsandro Rodrigues, 13 anos, também é estudante. De manhã, vendendo pipoca no terminal, consegue ver de perto a realidade de quem tem limitações. “Eu usei um óculos que dificultava a visão e foi bem difícil. Subir no ônibus foi a pior parte. A gente vê muita gente passando por isso aqui, tem que ajudar”, menciona.
De acordo com o Grande Recife, o Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) transporta aproximadamente 35 mil pessoas portadoras de deficiência diariamente. Diferente deles, os idosos têm a gratuidade da passagem garantida por lei federal e não precisam receber uma carteirinha especial de livre acesso, o que dificulta a contabilização de passageiros com mais de 65 anos.
A aposentada Maria das Graças, 64 anos, relata não ter dificuldades com os motoristas, mas sim com os passageiros. "Sempre abrem a porta do meio para mim, mas tem dias que não consigo sentar por falta de lugar. Mais cadeiras preferenciais ajudaria, mas as pessoas também precisam ceder o lugar. Fingem que não estão me vendo", conta a idosa.
Denúncias
Ainda segundo o gerente de relacionamento do Grande Recife, profissionais que trabalham nos ônibus passam, a cada seis meses, por uma capacitação. Ele também afirmou que estão sendo feitas adaptações para que os coletivos passem a ter dois espaços destinados à cadeirantes. Como o órgão não tem como fiscalizar diariamente todos os ônibus, em situações de desrespeito, Marcus Petrônio indica que os passageiros denunciem o acontecido. Basta informar o fato, o número da linha e a placa do ônibus. Denúncias podem ser feitas pelo 0800 081 0158 ou no WhatsApp 99488.3999.