História

Cemitério do período colonial é encontrado em Abreu e Lima

O cemitério descoberto por arqueólogos da UFPE fica nas terras do antigo Engenho Jaguaribe, construído no século 16 no Litoral Norte de Pernambuco

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 30/08/2018 às 8:08
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Há três anos a arqueóloga da Universidade Federal de Pernambuco Cláudia Oliveira procura vestígios de um cemitério do período colonial no Engenho Jaguaribe, construção do século 16 em Abreu e Lima, município do Grande Recife. Só agora ela comprovou a existência ao localizar sepultamentos humanos no terreno, numa área de apenas dois metros quadrados localizada a pouco mais de seis metros da porta de entrada da Capela de Santo Antônio.

Os arqueólogos desenterraram um esqueleto inteiro, sem a cabeça, perto de ossos longos desarticulados. Encontraram um crânio próximo de fragmentos de ossos longos desarticulados. E evidenciaram outro crânio, com a possibilidade de localizar o restante do esqueleto porque a área escavada ainda será ampliada. “É um achado importante, o Jaguaribe, construído de 1540 a 1580, é um dos primeiros engenhos de açúcar da Capitania de Pernambuco”, afirma Cláudia Oliveira.

Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Arqueólogos da UFPE descobrem cemitério do período colonial em Abreu e Lima, no Grande Recife - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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O cemitério do período colonial em Abreu e Lima fica nas terras do antigo Engenho Jaguaribe - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Os sepultamentos humanos em Abreu e Lima ficam próximos à capela do engenho, construído em 1540 - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Esqueletos de cemitério do período colonial em Abreu e Lima serão examinados em laboratório na UFPE - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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O Engenho Jaguaribe, onde arqueólogos acharam os esqueletos, fica na Zona Rural de Abreu e Lima - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Arqueólogos da UFPE escavaram o Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima, de julho a agosto de 2018 - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Estrutura de pedra calcária no Engenho Jaguaribe pode ser vestígios da antiga fábrica de açúcar - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Telha característica do século 16, contemporânea da construção do Engenho Jaguaribe, em Abreu e Lima - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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Engenho Jaguaribe faz parte dos primeiros núcleos de povoamento de Pernambuco no século 16 - Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

 

De acordo com ela, o cemitério apareceu quinta-feira passada (23/08), quando o primeiro esqueleto se tornou visível 20 centímetros abaixo do nível do chão. Um dos crânios encontra-se a 40 centímetros do atual nível do solo. “Estamos no início da descoberta, outros sepultamentos devem surgir”, declara e acrescenta que não há material suficiente para confirmar se os corpos foram enterrados em caixão ou não. As ossadas serão transportadas para a UFPE, onde devem ser submetidas a exames laboratoriais.

“No laboratório eles estarão em melhores condições de preservação e os estudos servirão para identificar as ossadas. Poderemos saber se eram escravos, indígenas ou homens brancos; é possível estimar a idade e definir o sexo; além de verificar doenças e hábitos alimentares”, destaca Cláudia Oliveira. “Abriremos um novo horizonte de informações a partir do cemitério. Uma área de estudo como essa necessita de uma política de preservação”, ressalta. O engenho esteve em atividade até o século 19.

Pela localização dos esqueletos – do lado de fora da capela – e levando em consideração a literatura publicada sobre o período colonial, os sepultamentos possivelmente eram de pessoas sem recursos. “Antes da construção de cemitérios, no século 19, os ricos eram enterrados dentro das igrejas”, observa a arqueóloga. “Como a área escavada na capela é pequena não podemos dizer que não há sepultamentos nela.”

Pesquisa

A escavação teve início em 30 de julho de 2018 e termina nesta quinta-feira (30/08), encerrando a terceira etapa da pesquisa no Jaguaribe. O trabalho, com foco na localização da senzala, é executado com recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). Nesse período, os pesquisadores encontraram, além do cemitério, uma estrutura de pedra calcária 20 centímetros abaixo do chão, em uma área de cinco metros de comprimento por dez metros de largura, entre as ruínas do casarão e da capela.

A estrutura de pedra calcária, com restos de colunas, pode ser o alicerce de galpões usados para armazenar açúcar na primeira fábrica do engenho, do século 16, diz Cláudia Oliveira. No mesmo lugar ela localizou uma estrutura de tijolos mais baixa que a pedra calcária e uma telha artesanal característica do século 16. “Em outro trecho escavado há um piso mais simples, de chão batido com pedra calcária e tijolo, apontando indícios da senzala. Para saber essas respostas precisamos investigar mais.”

“Não temos vestígios materiais da presença escrava, até então recuperamos louça, faiança (louça esmaltada) e moedas, entre outras peças do século 16 ao 20, associadas aos brancos”, comenta a arqueóloga. A pesquisa no Engenho Jaguaribe começou em 2015 na Capela de Santo Antônio. Em 2017 o estudo prosseguiu na casa-grande, com recursos do Funcultura. “O trabalho é feito aos poucos por falta de verba”, lamenta. “Hoje (30/08) vamos fechar o local e ir em busca de novos recursos para continuar a escavação.”

História

O Engenho Jaguaribe está situado nos limites da antiga Sesmaria Jaguaribe, uma área doada a Vasco Fernandes de Lucena em 1540 por Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco. “Vasco de Lucena dividiu a terra entre os filhos. Os Engenhos Jaguaribe, Inhamã (Igarassu) e Paratibe ficavam na sesmaria, que corresponde a um dos primeiros e principais pontos de povoamento do Litoral Norte de Pernambuco”, destaca.

Em 1812, no século 19, o viajante inglês Henry Koster (falecido em 1820) arrendou o Engenho Jaguaribe e viveu nele por dois anos, diz Cláudia Oliveira. “Koster descreve o engenho, mas não faz referência ao cemitério, provavelmente não havia mais sepultamentos nessa época”, pondera.

Pelo Programa de Preservação Ecológica e Cultural da Sesmaria Jaguaribe, lançado em 2005, Cláudia Oliveira também resgatou aldeias indígenas ao lado do Engenho Jaguaribe, fornos de cal, antigas estrutura de cais e as ruínas da Igreja de São Bento, todo em Abreu e Lima. “O que sobrou do Engenho Inhamã foi destruído para a construção de um loteamento e o Engenho Paratibe não existe mais”, informa.

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