Depois da marca histórica de 5.426 homicídios no ano passado, Pernambuco vem consolidando uma queda no número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) este ano. O mês de agosto teve 287 assassinatos, 30% a menos em relação a agosto de 2017, com 411 mortes. É o menor número em três anos e dois meses. Já no acumulado dos oito meses, o Estado contabiliza 2.913 mortes, 22% de redução em comparação com o mesmo período de 2017 (3.732). Ainda assim, a média é de 11,9 pessoas mortas por dia, este ano. Em 2013, melhor ano do Pacto pela Vida (PPV), a média foi de 8,4 ao dia.
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Nas comunidades de periferia do Estado, a sensação de insegurança continua grande, sobretudo pela quantidade de roubos, os Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs). Apesar de uma queda de 23,53% de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2017 (de 85.428 para 65.326) e de 32,9% em agosto (de 10.773 para 7.222), a média nos primeiros oito meses do ano foi de 268,8 roubos por dia no Estado. Também ainda é intensa a violência doméstica contra a mulher (105,3 casos por dia), estupros (6,7 ao dia) e feminicídios (48, de janeiro a agosto).
“Já tivemos uma grande quantidade de homicídios, mas desde que fizeram uma operação policial aqui, no ano passado, prendendo mais de cem pessoas, a situação melhorou. Mas assalto tem todo dia e em qualquer horário, por isso a gente não se sente seguro. Já fizemos várias denúncias, mas não adianta”, diz Marcone Pereira da Silva, líder comunitário de Guararapes, em Prazeres, no município de Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife.
RECLAMAÇÃO
Integrante do grupo Espaço Mulher, da comunidade de Passarinho, na Zona Norte do Recife, Edcleia Santos vai mais além. “Não existe essa história de redução da violência em Passarinho, está é aumentando e muito. A gente não tem segurança, vive ao Deus dará. Principalmente nós, mulheres negras. Quando saímos para trabalhar, estudar, precisamos pedir que alguém vá nos buscar no ponto de ônibus. A iluminação pública é terrível”, desabafa. O bairro apareceu como um dos mais inseguros em levantamento feito em quatro estados pela ONG internacional ActionAid, em 2014.
Professora de Direito Penal e Criminologia na Faculdade Aeso e integrante do Grupo Asa Branca de Criminologia, formado por várias instituições de ensino, Carolina Salazar avalia que ainda é cedo para concluir que há uma consolidação da redução de homicídios. “Os números ainda são muito altos e os dados de queda não podem ser conclusivos, pois ainda não o associamos a uma política pública do governo na área de segurança, pode ser contingencial, especialmente em época de eleição”, observa.
CONSOLIDADOS
Já o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, está convicto de que a queda dos CVLIs está consolidada. E afirma que há, sim, uma política de governo, com investimentos em pessoal (foram 5,5 mil), equipamentos (700 motocicletas e 1,3 mil viaturas), unidades policiais e mudanças estratégicas, como a priorização ao combate de grupos de extermínio, com prisão de 185 homicidas só no mês passado. “A sensação de segurança demora mais a chegar do que os números, está mais ligada aos roubos e vai além da questão de policiamento. Ruas escuras e mal cuidadas, trânsito caótico, há muita coisa que gera essa sensação de insegurança”, salienta.
Representante do Nordeste nas discussões sobre o Sistema Único de Segurança Pública e Fundo Nacional de Segurança Pública, Pádua esteve em Brasília anteontem e diz que em 20 dias vão apresentar propostas de critérios de distribuição de recursos federais a Estados e municípios, já havendo uma defesa de que 2/3 dos investimentos fiquem com os Estados, que gastam até 85% com o setor. “Certamente isso vai ajudar ainda mais na consolidação desses números, pois temos muitos projetos a serem custeados, como um centro de inteligência regional, uma comunicação única entre os Estados e até gastos com equipamentos, armas e novas unidades”.